05/12/2023

Pastores

Pastores

É um comportamento remanescente do vicariato romanista, uma distorção grave na relação de muitos cristãos com Deus, a prática recorrente de tratar o sermão como "fala de Deus" mais do que a própria Escritura.

É como se os segredos de Deus se manifestassem magicamente apenas nos púlpitos através do trabalho e das falas de pastores ungidos. 

Não! A Palavra de Deus está aberta e disponível a todo crente verdadeiro e não existe outro Mediador entre Deus e os homens, em todos os sentidos, além da suficiência plena do Senhor Jesus Cristo; e não existe outro poder capacitador que infunde nos crentes os benefícios da Graça de Deus senão as ações do Espírito Santo.

Não é raro ver a máxima "o pastor disse" como uma espécie de selo e de validação de expressões derivadas de uma reflexão que o pregador expôs, pouco importando se é correta ou não, fiel ou imprecisa, e assim muitos rebanhos prosseguem desenvolvendo pouca afinidade pessoal e intelectual com as Escrituras, desenvolvendo, também, escassa relação espiritual com Deus porque persevera na dependência de alguém que faça o trabalho por ele, uma espécie de mediador humano no que deveria ser, para todo crente, uma relação aberta e comum.

O erro dessa dependência de um mediador humano precisa ser corrigido. Pastores não são sacerdotes sobre o povo, esse ofício deixou de existir quando o Senhor Jesus consumou seu sacrifício na cruz e o templo perdeu suas funções. Pastores são servos dentre o povo de Deus que devem pregar e ensinar as Escrituras com o cuidado de jamais parecerem ser o que não são - não são mediadores entre o povo e Deus. Eles são (ou deveriam ser) mestres nas Escrituras, anciãos, que têm por função liderar as igrejas sob o reinado do Senhor Jesus Cristo e na formação de discípulos do Senhor, discípulos que desenvolvem afinidades pessoais com o Senhor e que podem, até mesmo, superar seus mestres nas suas práticas próprias de piedade.

Infelizmente há pastores que são vazios de Escritura, de teologia saudável e necessária, e vazios do Espírito Santo, mas são cheios da pujança do maldito vicariato. Suas autoridades são derivadas simplesmente do cargo, ainda que vazio das prerrogativas que deveriam fazer o cargo. Não é incomum o sujeito ser infiel teologicamente, heterodoxo e até mesmo herético, mas é tratado como sacerdote porque suas orações são consideradas como mais poderosas ou ungidas do que as feitas pelos crentes comuns e suas pregações são mais "espirituais" do que as reflexões fiéis que todo crente deveria fazer das Escrituras. Já ouvi gente justificando maus pastores com verdadeiras carteiradas como "gostando ou não, ele é pastor" ou "não toqueis no ungido do Senhor" - ridículo! Esse desvio grave é o principal motivo do estabelecimento de uma relação de poder que muitos líderes apreciam ter sobre o povo - e muitas, muitas vezes o poder corrompe ou é simplesmente um desdobramento de uma corrupção sendo praticada. Nesse entendimento incorreto o sujeito é "ungido", foi ordenado para ter uma autoridade intrínseca para se impor ao povo como se fosse uma antena parabólica que recebe comandos do céu (porque é um tipo de sacerdote, um "vigário") e, estando certo ou errado, ele e somente ele tem a ordenação para o papel que cumpre.

Balela! Embusteiros assim não são pastores. São os ladrões usurpadores a que se refere o Senhor Jesus em João 10: 10 (aliás, leia o capítulo inteiro).

Pastores fiéis ao Senhor Jesus devem ser apoiados e honrados por todos os que por eles são servidos. Os infiéis devem ser resistidos.


Títulos intercambiáveis / sinônimos:

  • Pastor - descrição da função de quem cuida do rebanho/ igreja;
  • Bispos - supervisores/ administradores da igreja;
  • Presbíteros - integrante da liderança colegiada que é eleito pela congregação local. Na IPB são divididos em Docentes (pastores que fizeram seminário e foram ordenados ao Ministério da Palavra e dos Sacramentos) e em Regentes (Presbíteros leigos que são eleitos pela congregação local para serem ordenados e comporem o Concílio que governa a igreja - modelo equivalente ao sistema Parlamentarista e representativo de governo).
A ORIGEM DA PALAVRA "PRESBÍTERO"
A palavra presbítero é uma transliteração aportuguesada do grego presbyterós, que significa literalmente ancião. No sentido do Novo Testamento, quando se refere à liderança da Igreja Cristã, indica uma pessoa que possuí um ofício de autoridade, mas, em outros contextos do grego coinê [1] pode-se referir simplesmente a um homem idoso. A palavra presbyterion encontrado em Lc 22:66, At 22:5 e 1 Tm 4:14 significa “concílio de anciãos”. Herman Ridderbos observa que o ofício de presbítero “certamente possuí antecedentes patriarcais e se originou no judaísmo, onde é a designação de uma classe social.” [2] Então, não era necessariamente a liderança realizada somente por homens idosos, mas idôneos. O que concedia o direito de participar na liderança era a sua sensatez, sabedoria e capacidade de influência. A palavra indica no Novo Testamento não a maturidade biológica, mas a espiritual, ou seja, não especificamente a sua idade, mas a transformação que o discípulo de Cristo alcançou sobressaindo aos demais, deixando de ser considerado neófito (1 Tm 3:6).

NOTAS:
[1] Este era o grego usual no século I, todos os livros do Novo Testamento foram escritos em grego coinê, ou seja, o grego comum. Assim, chamado por ser o grego falado e escrito em comum por políticos, comerciantes, militares, escravos e etc.. William D. Mounce, The Analyitical Lexicon to the Greeek New Testament (Zondervan Publishing House, 1992), p. 389. 

[2] Herman Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo (Grand Rapids, Libros Desafio, 2000), p. 592. 

Via Ewerton B. Tokashiki
  • Ancião - irmão mais velho. Denota sabedoria, conhecimento e experiência para liderar.

Requisitos bíblicos para o pastorado:

"Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja.

É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar;

não dado ao vinho, não espancador, mas moderado, inimigo de contendas, não ganancioso;

que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito

pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?;

não neófito, para que não se ensoberbeça e venha a cair na condenação do Diabo.

Também é necessário que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em opróbrio, e no laço do Diabo."

(1 Timóteo, 3: 1 - 7)

A orientação do Apóstolo Paulo, Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo, corroborada em Tito 1, é norma do Novo Testamento, do contexto da Graça, ordenação dada à Igreja. Não é, portanto, Lei do Antigo Testamento que aponta nossas insuficiências e pecados e que não pode ser em algum ponto negligenciada nem relativizada, mas é norma que deve ser integralmente acatada, e em não sendo, comete-se PECADO de insubmissão:

  1. Somado ao desejo pessoal (aspiração) de se querer se presbítero (ou pastor, bispo, ancião que são termos intercambiáveis) é necessário que se tenha: 
  2. Conduta irrepreensível (evidentemente isso é diferente de perfeição). O modo como a pessoa vive deve testificar que ela é crente e segue ao Senhor Jesus, e essa conduta deve ser observada nas demais exigências;
  3. Tenha um único casamento (deve ser modelo para a igreja) ou admite-se não ser casado (casto, celibatário - embora o texto não mencione essa opção, era esse o caso do escritor dessa carta, o Apóstolo Paulo, e do seu destinatário, o jovem pastor Timóteo). Homens divorciados ou recasados (exceto os viúvos) ficam desqualificados e se tornam inaptos para o presbiterato/ pastorado. Os que já eram ordenados/ empossados e se recasam deveriam abdicar dessas funções ou deveriam ser destituídos delas pois se tornaram inaptos e perderam suas qualificações para esse ministério;
  4. Sóbrio, consciente, racional, não dado a entorpecimentos e que não tenha problemas mentais;
  5. Ordeiro, responsável, que sabe colocar as coisas em ordem, líder organizado para manter a igreja com ordem e decência;
  6. Hospitaleiro, que recebe pessoas em sua casa, especialmente os irmãos. Sua casa é uma extensão da igreja. Tem braços e coração abertos. É confiável. É dado a dividir, a amparar. Não é mesquinho nem egoísta;
  7. Apto para ensinar, tem conhecimento e experiência (ancião) especialmente das Escrituras. É professor de Bíblia e das suas doutrinas experimentado. É um formador de discípulos;
  8. Não dado ao vinho, não é alcoólatra, não se entrega aos prazeres, não prioriza contextos em que o vinho (como um tipo para bebidas alcoólicas e outros entorpecentes) fazem parte. Não é um frequentador de ambientes permissivos;
  9. Não espancador, não é um agressor, um sujeito que resolve seus assuntos na imposição da força física ou de ameaças. Não agride sua esposa nem seus filhos (a esses, exceto por necessária e comedida disciplina, que é diferente de espancar). Não participa de brigas físicas (isso é diferente do embate de ideias), não é violento, mas é moderado - também não é um pacifista, pois sabe bem quando precisa lutar por algo que seja correto e justo - "a paz se possível, a verdade a qualquer custo" (Martinho Lutero). Pacifista (um negociador entre divergentes) e pacificador (um anunciador do Evangelho com suas implicações na paz entre Deus e seus redimidos) são termos diferentes;
  10. Inimigo de contendas, tem aversão às brigas, às disputas hostis. Mas luta pelo que é certo e não pelo prazer da luta. Não é movido pelas hostilidades, pelas ambições, mas sim pelos interesses do Senhor. Os discípulos do Senhor discutiam com seus oponentes para propagar a Verdade. O inimigo de contendas procura sempre o caminho da razão e da verdade mas nunca abre mão da verdade e procura o caminho da persuasão, não da contenda;
  11. Não ganancioso, não age por ambições pessoais, é um servo e a igreja não é um projeto pessoal seu, nem do seu poder. É do Senhor. Seu coração não está nas coisas mundanas, mas nas celestiais. Não espera o seu ganho neste mundo, mas do Senhor, na glória;
  12. Que governe bem a sua casa tendo os seus filhos em sujeição - sua casa é o seu primeiro ministério e é praticado com excelência. Sua esposa, embora o texto não a mencione, fica facilmente deduzido que é sua auxiliadora idônea e seus filhos são crentes que cumprem o mandamento de honrar pai e mãe. Sua família é prova de que a teologia do pacto é real e que o Deus da Aliança é fiel. Ele e a sua casa servem ao Senhor;
  13. Não neófito, não é novo na fé, um novo convertido (e o jovem pastor Timóteo é prova de que jovens podem ser crentes experientes). Todo presbítero deve ser experiente na fé, experimentado. Daí o sinônimo "ancião". Somente homens mais experientes podem resistir às tentações que fariam com que os mais inexperientes fossem presas fáceis do Diabo. É normal a alguém novo convertido cair em contradições às vezes. Todos somos suscetíveis, mas os neófitos são muito mais vulneráveis. As tentações do poder são reais e cair em suas seduções não é uma possibilidade quando se é novo convertido, esse tipo de queda nos inexperientes é uma certeza quando se comete o erro de atribuir responsabilidades espirituais a neófitos;
  14. Ter bom testemunho dos que são de fora (1, da sua família; 2, da própria igreja), o que dizem por aí sobre essa pessoa? É coerente, responsável, trabalhador? Somente homens decentes e de caráter devem liderar as igrejas.

Note que na lista de exigências impostas por Deus através do Apóstolo Paulo para a verificação de requisitos para o pastorado/ presbiterato NÃO EXISTEM qualificações que normalmente o sistema do mundo observaria para a escolha dos seus líderes. Não vemos, ali, nada sobre prosperidade financeira, sobre sucesso empresarial, sobre o currículo, sobre o quão empreendedor ou bem-sucedido o sujeito é e nada sobre sua eloquência ou capacidade de persuasão - talvez porque ainda não existia a parafernália dos púlpitos (que espanto!). Infelizmente, em muitos casos nas nossas igrejas adotam-se critérios não ordenados nas Escrituras e pensa-se que está tudo bem com isso - será que Deus se submete? É considerado se o fulano é um caso de sucesso, procede de boa família, é um advogado ou formado numa excelente escola de engenharia ou uma fonte segura para a contribuição financeira, um garantidor do orçamento com seus destacados dízimos e ofertas - porque dar cargos de chefia a um mantenedor seria um reconhecimento justo...

E se, hipoteticamente acontecer de não existirem homens numa igreja que cumpram todos os requisitos para o pastorado/presbiterato? Que tristeza seria... Em todos os casos a fidelidade ao Senhor não permite os improvisos das relativizações no descumprimento de alguma exigência. Se vocês queriam ter oito presbíteros mas somente três se encaixam nos requisitos bíblicos, adequem-se somente a esses três e trabalhem com eles para semear outros que serão colhidos no futuro. Isso porque formar discípulos é um trabalho que precisa começar nas bases do fundamento apostólico, e trabalho requer suor.

Bem, a falta de obreiros qualificados numa igreja que já tem certa idade não deveria acontecer se houvesse um trabalho de FORMAÇÃO de discípulos nas igrejas. Pois semeando-se a Palavra fiel certamente colhem-se seus frutos. Deus é cumpridor das suas promessas.

"Os anciãos que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino.

Porque diz a Escritura: Não atarás a boca ao boi quando debulha. E: Digno é o trabalhador do seu salário.

Não aceites acusação contra um ancião, senão com duas ou três testemunhas.

Aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor."

(1 Timóteo, 5: 17 - 20)

"Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé."

(Hebreus, 13: 7)

Pastores e líderes honrados e fiéis ao Senhor precisam de apoio e merecem ser honrados por seus liderados. A Escritura deixa claro que isso é importante e recomendável. Fonte da Graça de Deus é o amor fraternal, praticado também através do povo de Deus pelos seus pastores e presbíteros - os fiéis.

Quanto aos infiéis, os que pecam (e pecado aqui inclui quebrar os requisitos dados pelo Apóstolo Paulo) a Escritura aponta, também, para a necessidade de correção. Nunca deve haver acomodação no erro. Nunca devemos nos acostumar com qualquer tipo de pecado, seja no âmbito pessoal, da igreja, da sociedade ou dos governos. Nosso chamado é para a santificação e isso inclui corrigir erros cometidos pelas nossas lideranças.

Veja também:

João Calvino e Charles Spurgeon nunca foram ordenados pastores.

https://atitudeprotestante.blogspot.com/2023/11/joao-calvino-e-charles-spurgeon-jamais.html

Referenciais errados.

https://atitudeprotestante.blogspot.com/2023/11/referenciais-errados.html

Concílios erram e não são soberanos.

https://atitudeprotestante.blogspot.com/2023/08/concilios-nao-sao-soberanos.html

Pastores e cristãos comuns, sejamos corajosos!

https://atitudeprotestante.blogspot.com/2023/07/pastores-e-cristaos-sejamos-mais.html

____________________________________



Vídeo de divulgação do congresso de Tim Keller em São Paulo em janeiro de 2019


Na última reunião com um Concílio eclesiástico que participei eu reclamei de um líder estrangeiro, recentemente falecido, que tem sido muito acatado e celebrado no meio religioso. Me queixei da sua prerrogativa equivocada e pela sua notória influência progressista e esquerdista. Ele dizia que "a igreja tornou-se irrelevante" na apresentação de um congresso feito no Brasil no início de 2019, ao que eu protestei ser isso impossível uma vez que o Soberano Deus a estabeleceu e sustenta e que nenhum dos eleitos de Deus poderá deixar de ser salvo. Assim, a igreja fiel, a remanescente, necessariamente cumpre sua função naquilo que ordenou o seu Senhor e Deus e é impossível a ela tornar-se irrelevante. E perguntei, "irrelevante para quem, para o mundo? É o Diabo que fala?" - ao que ouvi que ela se tornou irrelevante como instituição...

Hoje estou considerando que a institucionalização da igreja é que é um grande problema. Mas não sei se tem jeito para isso, pois a igreja é tanto uma obra de Deus como é um fazimento humano que reflete suas falhas e pecados. Junto das ordens bíblicas ela é repleta da invenção de regras e de práticas que são convencionadas pelos homens mas que jamais foram ordenadas pelo Senhor. A forma como homens tentam se assenhorar dela e fazer nela os seus negócios mundanos, seus comércios, seus esquemas políticos e seus jogos de poder também são formas de a macularem - e a história da igreja é notadamente marcada pelos pecados dos jogos de interesses dos homens com suas ambições disfarçadas de piedade, infelizmente.