21/08/2023

Concílios erram e não são soberanos


Há quem diga que deveríamos compartilhar somente as coisas positivas acerca do cristianismo e do evangelicalismo brasileiros, pois já tem muita gente trabalhando contra a fé cristã e os cristãos deveriam primar pela boa imagem da igreja. 

Eu discordo, veementemente.

É claro que devemos nos preocupar com a boa imagem da igreja, mas não por meio de hipocrisias, fingimentos e mentiras. Nunca colocando um cenário de falsidades para cobrir podridões, desvios e heresias. O trabalho dos cristãos é, antes, o de anunciar a Cristo, não às igrejas. Nós pregamos o Evangelho, não tradições religiosas. E embora as tradições religiosas sejam uma realidade do que é ser igreja e igrejas são imperativas à fé cristã, os sistemas religiosos são subprodutos humanos e necessários para a vida cristã e para o serviço ao Senhor, mas o seu fundamento é o Senhor. 

Portanto, como subproduto humano, as instituições religiosas são falhas e são falíveis, sendo necessário o seu constante "conserto". E para isso são necessárias intervenções, debates, admoestações, críticas e às vezes confrontos.

Primeiro porque o nosso modelo máximo, o nosso Senhor Jesus, era um crítico muito engajado do mau uso da religião que era praticado pela maioria dos líderes religiosos do seu tempo. A classe dos sacerdotes, de escribas, de fariseus e de saduceus era predominantemente corrupta e corruptora da religião (haja vista que recusaram e crucificaram ao Messias) e o Senhor Jesus Cristo era o maior dos seus críticos. O Senhor os chamava publicamente de hipócritas, de sepulcros caiados, de raça de víboras e de outros adjetivos muito ofensivos para denunciar seus desvios e deturpações da fé e, apesar da sua atitude confrontadora, o Senhor Jesus jamais pecou, o que Ele fez está dentro do todo que é praticar justiça. E note, o Senhor confrontava muito mais aos desvios religiosos do que a opressão de governos ou os pecados das pessoas comuns. 

Além disso, é tolice achar que as pessoas não percebem as incoerências entre a clareza das doutrinas da Palavra de Deus e as hipocrisias de muitos dos líderes religiosos (mas não somente deles) e, por isso, é tolice achar que acobertar falsos pastores favorecerá a pregação do Evangelho. No máximo, o que se faz com as omissões das fraternidades do erro é baixar o nível da excelência da fé e da prática da religião cristã com a normatização dos erros, é tornar medíocre o testemunho e a missão dos crentes, é infantilizar, enfraquecer e corromper a fé e a igreja. 

O Evangelho exige, também, o confronto dos pecados e isso inclui o pecado de perverter a religião e nenhum concílio eclesiástico tem o poder, nem a autoridade, de definir por força institucional que a sua religião é a correta quando se está praticando infidelidades e distorções acerca da Palavra de Deus - essa sim a única regra de fé e de prática. A autoridade soberana é a do Senhor Jesus, é a da sua Palavra. A Igreja tem uma cabeça, e Ele está vivo, é o nosso Rei e é o único e suficiente Soberano. Concílios e Conselhos, portanto, NÃO SÃO SOBERANOS e não têm autonomia para se portarem livremente como quiserem e não têm nenhum direito para relativizar a Palavra de Deus nem de corromper as práticas da igreja. Concílios não definem o que é certo ou errado, eles cumprem, ensinam e fazem com que se pratique o que já está definido nas Escrituras. Todos os crentes, em todas as atuações e em todos os níveis devem se portar como servos do Senhor, como promotores da verdade e cumpridores da fidelidade escriturística, bíblica. É a Bíblia que define o que é certo e o que é pecado. Ajuntados em concílios, os anciãos, ou bispos, ou presbíteros, ou pastores (o Novo Testamento não os distingue senão por seus dons, e são as tradições posteriores que os distinguem em hierarquias) são obreiros que servem ao Senhor para que a igreja reformada prossiga se reformando, não como quem procura novas formas de expressões de fé, mas que velam para que as igrejas sempre estejam firmadas nos velhos e pétreos fundamentos dos Apóstolos. A autoridade dos concílios é a de manter a igreja sobre a rocha em fidelidade, e não para inventar, criar e laborar em subjetividades e a principal das suas missões é a de evangelizar os povos e deles fazer discípulos para se juntarem como igrejas fiéis a Cristo na adoração bíblica a Deus. Portanto, a autoridade dos concílios é espiritual e o deve ser na sempre dependência do Espírito Santo, não cabendo aos concílios as ingerências das políticas, dos jogos de interesses humanos e das suas ambições. Concílios devem agir observando as Escrituras, não as políticas e outras ciências humanas.

Além disso, Concílios erram!

Confissão de Fé de Westminster

Capítulo XXXI/ Dos Sínodos e Concílios

III. Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como auxílio em uma e outra coisa.

At. 17: 11; I Cor. 2: 5; II Cor. 1: 24.

Muitas igrejas e denominações (quase que) inteiras estão corrompidas por desvios e por jogos de interesses (política, dinheiro e poder...), mas é necessário que se faça saber que as podridões deles - em variados graus e de várias maneiras - nunca comprometerão a eficácia e o poder do Evangelho - não é porque corrompem o ensino da verdade que a verdade foi corrompida ou mudada. O poder de adulteração deles nunca será na essência da verdade, mas somente será na formulação de uma mentira a respeito da verdade. "Porque nada podemos contra a verdade, porém, a favor da verdade." (2 Coríntios, 13: 8). O fato é que a verdade de Deus ainda pode lhes estar oculta por um montão de entulhos que foi tomado como religião, e a má religião pode enganar as pessoas - e o faz constantemente com muita gente - mas Deus e a sua Palavra são incorruptíveis e imutáveis e jamais se sujeitarão às corrupções, às adulterações e aos desmandos dos homens. Na prática, além de estarem enganando a muitos incautos, esses corruptores apenas estão aumentando severos juízos sobre si mesmos.

Há anos eu costumo usar minhas redes sociais e este blogue https://atitudeprotestante.blogspot.com para compartilhar a verdade da fé cristã, para evangelizar e também para combater os desvios da fé que são muito comumente praticados por aí e que são propagados por falsos pastores que estão mais interessados em possíveis ganhos através das manipulações da religião e em ofender à santidade do Senhor do que em serví-lo de verdade. E infelizmente eles são muitos. E há quem proteste dos meus textos alegando que escrevo "indiretas" - faz tempo que ouço essas acusações... "o problema é o jeito que você fala/ escreve"... E com isso costuma-se negligenciar o teor em detrimento do pacote falível que o apresenta. Mas não, os meus textos são diretos e são públicos e são baseados na publicidade das críticas e denúncias feitas pelo Senhor Jesus durante o seu ministério público. Ele fazia e eu o sigo também nisso. Eu também me sinto no dever de contribuir para que se distingua a fidelidade escriturística dos enganos abundantes do nosso tempo, pois essas coisas fazem parte do meu contexto também. Eu também já fui severamente influenciado por torpes enganos da religião, e isso me impôs muitos sofrimentos e angústias por anos, mas agora me vejo no dever de contribuir para que esses enganos sejam combatidos e refutados, até porque isso tem ajudado outras pessoas. Ainda que por cristianismo e evangelicalismo se entenda "todo um bolo" genérico, não é verdade que tudo o que se apresente como "cristão" ou "evangélico" ou, ainda, a "serviço do Senhor" de fato o sejam. Existe muito embuste, muito mau propósito, muitos desvios e falsificações, deturpações bizarras e muitas heresias que costumam usar as fachadas de "cristão" e de "evangélico" mas que jamais seriam corroborados pelo Senhor, e muitas vezes essas coisas ocorrem também dentro de igrejas consideradas fiéis ao ensino bíblico. 

Então, quando escrevo sobre essas coisas NÃO SÃO INDIRETAS, mas são reflexões acerca de problemas que, gostemos ou não, já fazem parte dos nossos contextos e também do meu contexto, e com o qual eu estou constantemente interagindo, contextos e interações que me levam às reflexões e considerações à luz da Palavra de Deus e da fé cristã com o propósito de que a verdade de Deus seja melhor discernida dentre tantas formas de mentiras, de confusões, de deturpações, de manipulações e de corrupções. E essas considerações poderão soar como ataques a alguém, muito embora eu nunca as situe num ponto específico, com nomes e lugares, mas poderão, ainda que de forma subjetiva, recair sobre alguém.

É fato, muitas vezes essas reflexões partem de um caso ou de uma experiência vivenciada, um ponto de partida, mas nunca se referem exclusivamente a um caso ou experiência, pois elas se desdobram para contextos maiores porque, infelizmente uma deturpação constatada num momento costuma ter ecos em muitos outros contextos e lugares - e é sobre isso que eu costumo escrever. É apenas parte de um todo. Assim, por exemplo, se eu escrevo sobre "secularismo" ou sobre o que é ser um mau pregador, ainda que isso tenha um ponto de partida que observei, a quem alguém possa supor existir alguma "indireta", o fato é que aquele ponto de partida me levou a refletir sobre um contexto maior onde esse problema é visto, não se constituindo de uma reflexão baseada num caso, mas considerando o caso como um sintoma de um problema ou desvio muito maior do que o próprio caso. E isso é típico em tempos como esses nossos, conforme descreveu o Apóstolo Paulo:

"Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos."

(2 Timóteo 4: 2-4)

Julgo que esse exercício é necessário tanto para a minha fé manter-se fiel às Escrituras, pois é uma forma de reflexão que busca discernir os certos dos errados, como também pode servir às outras pessoas para que elas também tenham o necessário discernimento para serem o mais fiéis possíveis às santas exigências do Senhor, nos seus preceitos e doutrinas, nas verdades que têm sido atacadas por uma infinidade de mentiras e de desvios sob as mais variadas justificativas. 

Por isso, para mim, tem sido cada vez mais impossível ser simpático com quem transtorna a pregação e o ensino da Palavra de Deus. Meus ouvidos explodem quando o sujeito usurpa da verdade das Escrituras para tagarelar um monte de desnecessidades que estão ocupando o lugar que era para ser da Glória de Deus, somente. 

E para quê tagarelar um monte de desnecessidades se está diante de todo e qualquer pregador ler e pregar o texto lido de forma simples, expositiva, fiel e suficiente? Deixem as Escrituras falarem por si! Se as Escrituras são a Palavra de Deus, a pregação expositiva é anunciar a Palavra da forma mais fiel possível. Que Deus fale! Por que a tola opção de muitos de fazer da pregação uma colcha de retalhos, uma ostentação de si mesmos, da sua cultura, do seu "brilhantismo humano" com a exposição de tantas histórias, ilustrações e testemunhos que simplesmente estão tomando o lugar de Deus. E esses "pequenos desvios" (que de pequenos não têm nada) são caminhos para outros desvios maiores que são praticados quando esses pregadores-prevaricadores passam a apreciar as glórias dos púlpitos e aumentam suas corrupções. O poder de ter audiências crescentes de seguidores sempre é tentador e muitas vezes corrompe inclusive a muitos pregadores que começaram bem suas carreiras. Muitos lobos que construíram impérios religiosos começaram como cordeiros pacíficos que faziam parecer que amavam ao Senhor e que apenas queriam pregar o Evangelho.

Pregadores relapsos ou prepotentes arruínam o culto a Deus.

Um mau pregador, que é sempre um usurpador praticante do pecado de prevaricação (e que com esse pecado arruína todo um culto), pode fazer com que uma plateia de incautos se lhe submetam e aplaudam seus enganos, mas o Deus cuja glória foi usurpada não se submete a ninguém e Ele costuma olhar para os prevaricadores como quem olha para um ladrão de almas e da glória que lhe pertence.

Por isso, dada a gravidade dos desvios da fé, condescender não é uma opção para mim.