24/07/2023

Aprendendo com Barnabé


Evidentemente, o maior modelo que temos que seguir, e amar, e admirar é o do nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele, e somente a Ele seja toda a nossa devoção nas qualidades conjuntas de Rei, Senhor e Deus.

Mas as Escrituras nos presenteiam com testemunhos de servos do Senhor que também nos ensinam a seguir a Cristo e a perseverar na fé em Deus, pois vemos neles evidências da sua Graça. Ao ler sobre os homens e mulheres de fé nas Escrituras, nós temos retratos muito humanos com quem podemos nos identificar, pois os textos sagrados evidenciam tanto as suas virtudes como as suas fraquezas e pecados, e essa honestidade pedagógica da Palavra de Deus serve, em muito, para nos animar na nossa caminhada de fé, porque muitas vezes nós podemos ver nesses homens e mulheres de Deus os reflexos de nós mesmos, e isso porque a Bíblia é também como um espelho onde nos vemos, e nos identificamos nas nossas inconstâncias, acertos e fracassos e, apesar dessas inconstâncias evidenciadas, Deus sempre se mostra misericordioso e usou (e ainda usa e usará) os seus servos com poder, e isso porque tanto a obra como as glórias da obra são de Deus.

Nesse sentido, admiro e amo com destaque a Elias, o profeta do Antigo Testamento, e ao crente comum de grandes iniciativas, mas que não fazia milagres, o nobre Barnabé, contemporâneo dos Apóstolos no início da igreja.

Elias era um profeta que Deus usava de forma extraordinária. Fogo caía do céu durante o seu ministério, num tempo de grande apostasia do povo que se rendia a falsos deuses como Baal e que vivia tempos de repreensão e de disciplina da parte de Deus. Elias era o profeta que conclamava o povo ao retorno à fé exclusiva no Senhor, e Deus o usava com sinais sobrenaturais, com milagres. Mas ainda assim Elias oscilava entre uma fé por vezes poderosa que desdenhava da grandiosidade cúltica das grandes aparências e das centenas de sacerdotes do falso deus Baal, mas que se alternava numa fé insegura e medrosa quando Elias achou que estava sozinho na ocasião em que foi ameaçado. Apesar de toda a grandiosidade que Elias contemplava, ele parecia sofrer de depressão, evidenciando uma humanidade e fraqueza surpreendentes em alguém que tinha diante de si manifestações do poder impressionante do Deus Todo-Poderoso; e o Senhor evidenciou um cuidado surpreendentemente carinhoso por Elias, mandando uma brisa suave ao seu servo para o consolar quando ele precisava. Além disso Elias teve o privilégio, também surpreendente, de não conhecer a morte numa raríssima exceção compartilhada apenas com Enoque. Em Elias eu vejo Deus amando ao seu servo, mesmo sendo esse servo frágil e birrento aos olhos de Deus, embora parecesse poderoso aos olhos dos outros.

E Barnabé, para mim é um mestre excelente!

Esse crente comum, que foi pastor em Antioquia, recebeu dos Apóstolos o nome "Barnabé", que significa "o filho da exortação", dando indícios de que ele já era muito sábio, como o livro dos Atos comprova. A primeira descrição desse irmão foi da sua voluntariedade e amor pela obra de Deus, pois dele começou a descrição dos investimentos na expansão da igreja e dos cuidados dos seus necessitados, pois vendeu um campo para dar o dinheiro à administração dos Apóstolos.

Foi Barnabé quem trouxe Paulo à presença dos até então desconfiados Apóstolos, pois Paulo era recém convertido de fariseu perseguidor dos cristãos à fé no Senhor Jesus, mas todos ainda se receavam dele pois o seu histórico impunha medos. Então Barnabé foi uma espécie de fiador, a garantia, a ponte para a construção da confiança entre o colégio apostólico e a desconfiada igreja de Jerusalém com aquele que ainda viria a se tornar no Apóstolo dos gentios. Barnabé era um crente de verdade que apostava tudo na obra de Deus. Ele deu o produto do seu campo, ele apostou em Paulo, anos depois ele apostou no vacilante João Marcos (que posteriormente escreveu o Evangelho de Marcos), mesmo contrariando o Apóstolo Paulo. Não tinha um sujeito mais empenhado em dar uma nova chance a alguém como Barnabé, e ele investia nisso, e agia como um fiador que tomava posição firme por alguém em quem ele acreditava, em quem ele via potencial para servir ao Senhor. Barnabé é o tipo de pastor que toda igreja deveria ter, um visionário expansionista que cria na providência de Deus e que dava tudo de si na formação de obreiros para os serviços do Reino.

Em Barnabé nós vemos um discipulador excelente, o melhor modelo de tutor possível. O "filho da exortação", era um pastor excelente que "apadrinhou" e protegeu a Paulo quando ainda havia resistência à sinceridade da sua conversão. E Barnabé levou a Paulo consigo em suas viagens missionárias, mas logo foi superado pelo seu tutorado. Primeiro se dizia: "Barnabé e Paulo", mas logo passou-se a dizer: "Paulo e Barnabé". Os frutos de Barnabé são tão excelentes que o superam! Que glória pode ser maior para um servo de Deus do que ver os frutos do seu trabalho no Senhor ficando maiores e melhores do que você? A virtude de Barnabé é oposta à mesquinharia, ao orgulho e ao desejo de deter o controle das coisas - um comportamento cretino visto em líderes de orgulho sensível que desejam ter seus nomes em placas de ouro e que procuram se cercar de companheiros que lhes pareçam inferiores para nunca terem o seu cargo ou proeminência ameaçados. Nessa relação de Barnabé com Paulo nós vemos o que é ser um exortador de qualidade, um mestre excelente, o melhor tutor possível: o bom mestre é aquele que dá tudo de si para ficar para trás, ser superado pelo seu discípulo porque, para ele, assim como para João Batista, é necessário que Cristo cresça e que ele diminua. Não é o seu nome que deve ser engrandecido, é o do Senhor Jesus; e se para o Senhor ter o seu santo nome exaltado o meu nome tiver que ser apagado de todas as citações, que essa seja a minha glória!

E nesse sentido eu me alegro no Senhor porque o meu primeiro e mais importante discípulo já me superou! Meu filho é um crente que ama ao nosso Senhor, um evangelista desejoso por ver pessoas se rendendo a Cristo e que já colhe seus frutos e tem suas próprias iniciativas nesse campo de trabalho. Ele não depende que lhe digam o que fazer, e mobiliza outros a irem consigo para a seara do Senhor, incluindo o amigo por quem perseverou evangelizando e orando e que agora é um irmão na fé.

Sou falho, pecador, mas vejo um pouco de Elias em minhas oscilações e me glorio em ter o privilégio de ser superado como o bom Barnabé pôde ser no tão dedicado, necessário e extraordinário ministério do Apóstolo Paulo.

Glórias a Deus pelo meu filho Leonardo!