08/06/2023

Sobre a dificuldade de apoiar uma causa legítima liderada por um imperito

 

Você está no barco?

Depende de quem está no comando...

Fazer um trabalho bem-feito é quase tão necessário quanto fazer o trabalho.

Arrisco uma ilustração:

Era necessário pegar um barco para ir adiante e fazer a travessia. Mas o barco da vez era conduzido por um sujeito imperito, e apesar disso ele era tomado de excessiva auto-confiança e as pessoas não apontavam suas falhas porque se ressentiam, tomadas por um tipo de piedade desvirtuada pela falta de coragem, pois o sujeito se esforçava e, apesar da persistência nos seus erros, uma evidência de orgulho, ele se estabeleceu no seu posto em resultado de um pacto silencioso de omissões.

Entendi que era necessário trocar o barqueiro, mas como essa era uma prerrogativa que não me pertencia, então eu decidi esperar pelo próximo barco mesmo diante da necessidade de prosseguir, pois, ainda que o barqueiro imperito consiga chegar no destino, é certo que o trajeto será marcado por desnecessários riscos e tormentos, por vezes ocorridos em maior número dentro da embarcação, não no mar.

E assim foi o barqueiro imperito e auto-confiante, mas foi chateado porque o seu barco desatracou quase vazio, porque, afinal, o pacto silencioso de omissões não inclui submeter-se aos riscos de estar sob o comando desse condutor, e ele seguiu mar adentro em zigue-zague oscilante e enfrentando perigos sem que tenha reais condições para isso.

Nem sempre dá para confiar, nem endossar, ainda que a causa seja legítima.