O problema do desvio religioso praticado pelos fariseus nos tempos de Jesus era que tudo parecia normal, a religião estava mantida e em pleno funcionamento, os fariseus e os demais mestres da Lei liam e ensinavam as Escrituras, as supostas adorações a Deus eram praticadas, nos sábados o templo e as sinagogas eram frequentados, eles oravam, eles eram rigorosos com questões litúrgicas, rigorosos com suas vestes, com a alimentação, com as aparências religiosas, com o zelo perante o público, eles pagavam os dízimos, eram moralmente respeitáveis e perante a sociedade exerciam reconhecida autoridade moral e religiosa.
Olhando assim, que mal havia numa religião tradicional cujos líderes se empenhavam tanto para mantê-la praticada e sendo bem-vista? Pra que criticar o que está funcionando bem? Por que o Senhor Jesus implicava tanto com eles, chamando-os publicamente de hipócritas (de falsos) e de sepulcros caiados, admiráveis no que pode ser visto, mas mortos por dentro, apodrecidos, cheios de rapina (maus interesses)?
O problema é que o Senhor Jesus é o Deus que é servido pela verdadeira religião. Ele é o Deus-encarnado, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, o Mediador entre os homens e seu Deus e Pai. Ele é o motivo pelo qual a religião dos hebreus foi estabelecida (e também a igreja). Nele foram representados por séculos as figuras do animal a ser oferecido em sacrifício para a expiação de pecados, o sacerdote que nos representa perante Deus e o tabernáculo onde Deus habita junto do povo. Todas essas coisas apontavam para Ele. Ele, Jesus, o Messias que foi prometido, foi rejeitado pelos operadores da religião do seu tempo porque os mestres da Lei da época preferiram a instituição religiosa e suas aparências negando-lhe o seu propósito central, o Deus que é servido pelos homens e que é reconhecido no seu Cristo. Os religiosos preferiram as glórias do mundo e fizeram o que puderam para suplantar a glória do Deus que se revelou. Liderar uma instituição religiosa pode ser uma forma tentadora de se exercer poder sobre multidões e uma vez que se tomou gosto pelo poder, render-se ao Senhor da Glória é um desafio à soberba e às cobiças cultivadas.
Tamanha foi a deturpação da religião que a sua liderança excluiu o verdadeiro e único Deus dela, sobrando aos religiosos daquele tempo apenas um esqueleto destituído de vida e de sentido, mas adornado com muita pompa e circunstancia. Os religiosos dos tempos em que o Senhor Jesus andou por este mundo preferiram as suas próprias glórias perante os homens e mataram o Senhor deles, e nosso, na cruz dos malditos - obviamente essa morte foi pre-ordenada por Deus Pai, que entregou o seu Unigênito nas mãos de pecadores para sofrer as nossas injustiças a fim de cumprir os decretos divinos para a salvação dos seus eleitos.
Vemos, então, que a religião dos fariseus e dos demais mestres da Lei nos tempos do Senhor Jesus era praticada focando nas demandas dos homens e, para isso, o Messias foi rejeitado. Contudo a verdadeira religião deve estar focada em Deus e deve ser fiel e devotada a Ele, sendo as demandas entre pessoas não a causa, mas uma consequência da devoção fiel e do amor primário a Deus por meio de Cristo. Quando a religião passa a ter o seu cerne em questões humanas ela já se desviou do seu propósito teocêntrico-cristocêntrico, e seus operadores, mestres e líderes, tornam-se semelhantes àqueles fariseus que deturpam a religião e que passam a ser os maiores adversários do Senhor Jesus naqueles tempos e também nestes nossos tempos.
Atualmente é muito fácil de se ver organizações religiosas supostamente cristãs que, para servirem aos gostos das suas freguesias, relativizam a fidelidade às ordens do Senhor Jesus, negligenciam as gravidades do pecado, desprezam doutrinas, oferecem uma versão de graça barata, otimista, sorridente, socialmente aceitável, humanista e antropocêntrica em que o senhorio de Cristo é esvaziado (coisa que Ele não permite) para caberem as preferências das pessoas numa impossível mistura das exigências de homens unidas às exigências de Deus. Exigências inegociáveis como a de negarmos a nós mesmos (morte do ego, conversão) para, então, tomarmos a nossa própria cruz (assumirmos a fé cristã publicamente de forma servil e submissa ao Senhor) e seguirmos ao Senhor Jesus Cristo deram lugar a abordagens positivas de "melhorar a si mesmo". Senhorio absoluto de Cristo? Que nada! Não gostamos de radicalismos... nós pregamos sinergia (disfarçada), pregamos o que as pessoas devem fazer para serem melhores e Jesus foi reduzido a mero ajudador. Para a maioria dessa grande massa de "cristãos" Jesus é apenas um coleguinha mais forte que pode ser acionado para nos garantir paz, tranquilidade e prosperidade e pensa-se que cultos terapêuticos focados no "eu" (minhas necessidades, meu louvor, meu sentimento, minhas expectativas) são verdadeiros cultos, quando na verdade são profanações do culto, e pensam que momentos de imersão sentimental são uma carga de energia positiva para os capacitar para o enfrentamento da semana que se inicia, agora, sob a bênção de Deus - isso porque o que a maior parte dos fariseus modernos prega (vende) é a religião do sentir-se bem e da busca de um viver feliz neste mundo, e todo o aparato das instituições religiosas fazem com que as massas de incautos sejam convencidas de que essa gambiarra resultante de um pouco de palavra de Deus adocicada e misturada com muitos punhados de preferências dos homens seja uma prática de fé que esteja a serviço de Deus e que seja do seu agrado, e que aderir ao clube religioso seja o mesmo que servir a Deus e ser salvo. Mas o problema é que isso não é o Evangelho, é uma perversão dele, é um pão que deixou de ser ázimo por estar comprometido pelo fermento dos fariseus, é acatar as mentiras do diabo e subverter a palavra de Deus.
Deus jamais se submete aos homens. Deus se fez homem em Jesus para provar sua incorruptibilidade. Nós é que devemos nos submeter a Ele. E nisso não existe possibilidade de acordo.