27/12/2023

Nas coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, liberdade.


Eu suspeito que tanto muitos dos cristãos fiéis ao Senhor quanto o próprio Diabo concordam com a máxima que diz: "nas coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, liberdade" - mas, evidentemente, por razões diferentes.

O fino limite para a tolerância às divergências e até mesmo a certas heterodoxias pode servir ao bom propósito dos crentes fiéis no sentido de se promover a fraternidade a despeito das divergências em questões menores, mas sempre na expectativa de que a verdade prevaleça sobre o erro, desde que se trabalhe por isso, mas ainda assim com os riscos do contraditório conseguir ampliar seus espaços. É como a disputa num cabo de guerra, ou numa balança. 

Mas a aposta do Diabo é a de que essa balança pode pender para o crescimento do erro, como um oportunista que se estabelece e vai ganhando cada vez mais espaço sob a proteção do rótulo de "questão não essencial porém tolerável" servindo essa máxima como validação da erva daninha do erro, como autoritarivo para o fermento acrescentado indevidamente na massa como se uma porção de engano e de mentiras fossem inofensivos, legitimando-se, assim, a tolerância ao mal estabelecido e crescente.

O problema desse tipo de lema é: quem define os limites do que é não essencial e tolerável? Pessoas? Concílios? Preferências? Modismos? E é também assim que a autoridade das Escrituras tem sido paulatinamente relativizada e o fundamento de muitos grupos ditos cristãos tem sido cada vez mais apenas variações de um solo arenoso. Isso porque em nome da unidade sob a diversidade costuma-se dar um passo atrás na ortodoxia, como forma de negociação e de adequação aos novos padrões de unidade. Mas logo se dá outro passo atrás, porque esses padrões continuam mudando conforme mudam as culturas e as exigências do mundo. E depois outro passo, porque essa dinâmica não cessa. E outro, e outro, e muitos outros passos são dados até que a prática cristã e a confessionalidade de certos grupos fiquem irreconhecidas, se comparadas aos padrões das igrejas do passado. E não será incomum chamarem essa descaracterização, a deformidade na fé e na prática de grupos cristãos de evolução, de progresso...

O pequeno desvio na mira de uma flecha faz com que ela erre o alvo tanto quando um grande desvio. Um desvio pequeno é tão eficaz quanto um desvio maior.

A tolerância com o erro teológico e com a heterodoxia é um tipo de cavalo-de-Tróia. É a tolerância com um vírus que se aloja sem fazer estardalhaço mas que tem o potencial de fazer adoecer o corpo e de matá-lo.