29/04/2023

Pecadores falando de coisas santas. Contradição?


Alma moída e o dever de ter nos lábios a Palavra de Deus. 

Seria isso uma contradição?

Como pode o homem esmagado pela consciência da sua condição de pecador ser portador de algo grandioso e sublime que não tem origem nele, que não pode ser criado por sua consciência? O sublime fluindo do decadente.

Sim, isso me parece uma contradição, mas é um padrão.

Ao ler as Escrituras sempre vejo esse padrão, o de homens que vêem a si mesmos de forma real, sem os filtros dos enganos deste mundo, como o próprio Deus os vê, pecadores miseráveis, mas que a partir disso são preenchidos com uma Graça e poder que não vem deles mesmos, e que não lhes pertence. E por essa Graça não pertencer a eles, e sim a Deus, o Senhor, faz-se necessário que esses homens abatidos pela consciência do mal comum a todas as gentes preguem as verdades que neles foram depositadas, como um riquíssimo e puro conteúdo que foi colocado em pobres vasos de barro, porque é esse conteúdo, e não o vaso, que saciará e vivificará a muitos.

Cada vez mais eu compreendo o contraste explicitado no profeta Isaías, que ao se deparar com a sublimidade da glória e da santidade de Deus foi tomado por desespero pela consciência de que era pecador. E imediatamente foi constituído profeta para falar em nome do Senhor. Isso porque nós não pregamos a nós mesmos, mas todo pregador, todo evangelista, todo discípulo do Senhor Jesus que vai semeando a sua Palavra pelo caminho é, sempre, a combinação de um miserável pecador com um embaixador das glórias do Reino de Deus.

Nós somos contrastes, a combinação de sermos pecadores em luta pela santificação e, ao mesmo tempo, santos por imposição divina porque fomos pelo Senhor separados para  portar e anunciar a sua Graça. Nossa fraqueza aponta para o fato de que a glória da verdade e da salvação pertence a Deus somente, não a nós.