30/06/2015

Resposta a questionamentos sobre o amor cristão e suas contradições nas práticas de muitos cristãos

Eu respondi a alguns questionamentos de um "amigo de feicibuqui" sobre o conceito de AMOR CRISTÃO e as suas contradições com as práticas e com os discursos de muitos cristãos e resolvi compartilhar minha resposta aqui.
Confira:

O amor cristão não tem nada a ver com o conceito que alguns gostariam que tivesse de complacência ou de celebração ao pecado, de universalidade, de completa e irrestrita aceitação. É exatamente o contrário disso. Consiste no fato de que, apesar de sermos pecadores, ainda assim Deus, por causa do seu amor pela sua criatura humana, nos enviou Cristo para morrer no lugar de pecadores (porque pecado é confrontar a Deus, é rebelar-se contra o seu ser ou Lei ou ainda rebelar-se contra Ele na deformação do nosso próprio ser, pois somos dotados da sua imagem e semelhança).

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." - João 3.16 (e outros)

Então o amor cristão significa resgate, salvação de um estado de queda, de autodestruição, para uma nova forma de se viver que é destinada à plenitude da Graça de Deus. E, no caso dos cristãos, praticar esse amor é servir a essa causa.

Deus é a fonte de toda vida, de todo bem e Ele é definido (pela própria Bíblia - 1 João 4. 16) como "amor". Mas Ele é justo e é Santo e essas suas características não se anulam. Não é porque Ele ama que Ele pode ser complacente com a injustiça, pelo contrário, o seu perfeito amor é parte da sua perfeita justiça e santidade.

Por hora podemos vivenciar um relativo bem-estar (até como se de Deus não precisássemos, ou ainda como se Ele não existisse...), vivemos, amamos, nos alegramos, elaboramos pensamentos, temos algum senso de justiça, etc - ainda que tais coisas sejam relativas e maculadas. Ainda desfrutamos, então, do que na teologia chamamos de "graça comum de Deus" pois mesmo vivendo mergulhados num tipo de vida marcada pelo pecado ainda assim podemos desfrutar de coisas boas que têm origem em Deus. Mas para os que atentam para a palavra de Deus o seu chamado é para o arrependimento e santificação, não para a celebração e aceitação daquilo que Deus condena. Esse é o ponto. Cristãos não são melhores, mais "bonzinhos" ou "perfeitinhos" (Efésios 2. 8). Eles também são pecadores mas a sua postura diante desse mal que marca a todos nós deve ser outra (e é essa postura que pode distinguir cristãos fiéis dos falsos). Por isso, um verdadeiro cristão (que me esforço para ser embora falhe bastante - e que não sou o único a buscar, graças a Deus) se empenham para que essa verdade sobre a salvação, essa esperança, seja conhecida e experimentada por outras pessoas. Por sabermos que somos naturalmente maus, mas alcançados pela "graça salvadora de Deus" (os atos divinos para salvar pecadores e que excedem a graça comum, que são seus atos para manter e preservar a vida neste mundo) nós somos encorajados a agir com misericórdia com quem sofre, com outros pecadores, desafiados a perdoar e a proclamar o perdão divino sempre na esperança de que o amor de Deus seja celebrado na medida em que as pessoas vencem seus próprios pecados.

Mas esse nosso estado relativo de bem-estar, onde ainda contamos com a “graça comum de Deus” (chove sobre justos e injustos...) cessará. Essa vida transitória dará lugar à definição do caminho que traçamos, seja com a morte, seja com o findar iminente da história. Se a nossa caminhada for no caminho de Cristo (o da verdade e da vida), o destino alcançado será a plenitude da sua Graça – de Deus emana toda vida e bem... então esse “Paraíso” significa desfrutar da plenitude de vida, da sua santidade. Fica fácil então entender os desdobramentos do caminho em sentido contrário da oferta divina de nos salvar. Se nossa caminhada for na perseverante negação da salvação de Cristo (e isso inclui arrependimento e santificação), segue-se que o efeito será a justa e completa separação de Deus (e de Deus procede toda vida e bem...) sobrando a essas pessoas apenas os efeitos contrários do que Deus é – e por isso a figura do “inferno” é ilustrada como fogo, ira, sofrimento, etc.

Bem, e sobre as evidências bíblicas de atrocidades, especialmente no Velho Testamento?

Um pouco de estudo bíblico responsável, e não coisas recortadas dos seus contextos, sensacionalistas desprovidas de exegese, hermenêutica, análise histórica, análise de estilos literários, etc poderiam ajudar.

Em primeiro lugar, embora tratemos a Bíblia como “um livro”, o fato é que ela é a coleção de 66 livros que foram escritos ao longo de, provavelmente, 1600 anos e por cerca de 40 autores diferentes. Então é de se esperar que ela retrate contextos bastante diferentes do nosso – como os da era do bronze, os da formação de civilizações antigas quando guerras e assassinatos eram parte das “relações internacionais”, os de formas de vida nômades em desertos, etc - com a crueza como o faz. Mas, de forma resumida, esses registros mostram uma revelação progressiva de Deus na história humana, que parte de um estado de coisas com noções éticas rudimentares (ainda não tinha se manifestado o “amor cristão” na história pois Cristo ainda não tinha nascido e são exatamente essas noções cristãs – BÍBLICAS! – que atribuem valores éticos e definem como certo ou errado diversos comportamentos humanos) e essa revelação bíblica progressiva vai caminhando na história criando uma expectativa pela manifestação do salvador, do Messias e que culmina no que a própria Bíblia chama de “plenitude dos tempos” (Gálatas 4. 4) quando Deus, em Cristo, interferiu na nossa história humana para fazer com que conheçamos quem Deus é e para que pudéssemos ser por Ele salvos.

Tudo o que coloquei aqui foi posto de forma simplificada, mas pretendo explicar o que for preciso (como puder) porque sei que assim estarei ajudando alguns a compreenderem melhor sobre Cristo, e assim estarei contribuindo com o tão mal falado “amor cristão” na expectativa de que se conheça – e experimente – o amor de Deus.