09/02/2010

Avivamento evangélico ou decadência?



O Evangelho é a boa-nova da salvação e tal mensagem deve ser proclamada a fim de que Cristo e seus feitos sejam anunciados com o objetivo de glorificá-lo e também de levar outras pessoas à fé, ao ensino das Escrituras e à salvação.

Tal ordem dada pelo próprio Jesus deve ser cumprida e alguns poderão dizer que em nosso tempo, esta proclamação está sendo feita em quantidade nunca antes vista, pois os meios de comunicação estão repletos de evangélicos proclamando a sua fé, ao mesmo tempo em que igrejas evangélicas estão se multiplicando tal como o número de pessoas que as frequentam.

Alguns entusiastas chegam a afirmar que a igreja evangélica está experimentando um período de avivamento, de renovação, um "mover" especial...

Isso é uma meia verdade.

Se é meia verdade, é porque há verdades e também existem equívocos nesse "mover".

É verdade que igrejas estão crescendo, que a mídia está repleta de pregadores, que o nome de Jesus e partes da Bíblia estão sendo pregados.

Mas também é verdade que a pregação está prostituída e que o "evangélico" moderno é fruto de uma abordagem incorreta da Bíblia, pois visa-se o ganho, o individualismo, o triunfalismo num tipo de prática religiosa que nada tem a ver com a prática cristã vivida pela igreja primitiva ou ensinada pelas Escrituras.

O evangélico moderno compra suas "bênçãos" utilizando-se de prática religiosa pagã disfarçada de bíblica, e assim passa a acreditar que Deus fica obrigado a liberar as bênçãos que estavam retidas no céu ou nas mãos do Diabo.

Não percebem que tal prática faz parecer que Deus é mesquinho? Que Ele age em resposta a rituais banais?

Além do interesse, das negociatas com Deus por meio de falastrões gospel, os resultados imediatistas desse tipo de abordagem em nada tem a ver com o tipo de vida que a Bíblia aponta para os seus praticantes. O caráter cristão caracterizado por uma vida devota, servil, marcada pelo amor, pela fé e pela humildade; a prática da gratidão e de súplicas (exigências e decretos nunca!); uma prática espiritual cristã que influencia todas as áreas da vida, que leva a um viver solícito, relevante, pacificador, analítico, construtivo, baseado na verdade.

O novo evangélico do "avivamento" percebido em nosso tempo não é atraído pelo Evangelho ou por Cristo, mas pelas promessas deturpadas de um tipo de mensagem que mistura textos da Bíblia utilizados para finalidades bastante diferentes daquelas que são marcas do cristianismo bíblico. Ao invés de uma vida de devoção e piedade, o "motor" desse mover "evangélico" atual é o marketing e a propaganda. A fé deu lugar a um capitalismo caricaturizado, gospel.

Além disso, esse sistema religioso sustenta pregadores orgulhosos, insanos, que com técnica convencem suas platéias a não serem críticas e a acreditarem em seus poderes sobrenaturais. Eles têm o poder de determinar milagres, de estender as mãos para liberar bênçãos, de gritar baboseiras que todo o inferno teme e que Deus atende (perceba o absurdo!), sua voz, suor e lágrimas têm poderes sobrenaturais... e a corrupção, as mentiras, a falta de caráter, o amor ao dinheiro, o charlatanismo, os conchaves políticos, os favorecimentos, as fraudes, as usurpações, os golpes, etc, etc... tais coisas absurdas e impensáveis em servos de Cristo não chegam a macular as imagens desses "ungidos". E isso porque suas platéias não estão interessadas numa vida cristã e muito menos no Senhor, estão interessadas em resultados imediatos, em terem os seus interesses mundanos atendidos e para isso um comportamento ético pouco interessa.

Tais embusteiros são, na verdade, incrédulos! Ora, se acreditassem realmente em Deus não o ofenderiam tanto com suas práticas depravadas! Somente são capazes de agir assim porque não temem a Deus e só não o temem porque não o conhecem. O desprezam!

Até aqui, pelo que vimos, parece que essa fórmula dá certo, afinal as igrejas estão crescendo...A fórmula de misturar a água do evangelho com a lama do capitalismo, do paganismo, do imediatismo, etc. Mas dessa mistura sobra apenas a lama (talvez mais aguada, mas ainda assim apenas lama...). Deus não endossa o erro, não sustenta a subversão da sua Palavra, não se contamina, é Santo...

Assim, pode-se fazer uma previsão desse "avivamento" evangélico: Como os pressupostos desse mover não são o arrependimento, ou o discipulado genuinamente bíblico, mas ao invés disso, são as promessas, os ganhos, as realizações de sonhos, o triunfalismo nesse mundo, etc... e como Deus não está nesse mover (ora o que temos não é a água que limpa, mas a lama aguada que suja...) deduz-se facilmente que essa fórmula evangélica atual se desgastará na medida em que as promessas plantadas nas platéias forem se frustrando (ora, Deus não as atenderá!). Assim, pode-se prever que este "avivamento" gerará uma decepção generalizada com o Deus da Bíblia! Ora, não importa se a coisa foi muito mal trabalhada, deturpada, prostituída e portanto, vazia de Deus. O que importará é que não funcionou (é claro!) e obviamente a culpa será por eles, os decepcionados, atribuída a Deus e não aos embusteiros que subverteram a mensagem e que, portanto, mentiram! Deus não os terá por inocentes...

Este mover evangélico, gospel, apostólico, triunfalista tem fortíssimas chances de dar lugar ao ateísmo ou ao avivamento de religiões como o islamismo, o espiritismo, o hinduísmo, o budismo, etc, que se apresentarão como opções de abordagem religiosa a um grande público fragilizado e decepcionado com sua fé. Os muçulmanos brasileiros já estão trabalhando muito nesse sentido (ver www.islan.com.br)

Espero que muitos se voltem para o verdadeiro Evangelho, sem necessariamente esperarem o desapontamento que uma abordagem corrompida gera.

O Evangelho consiste no que Deus fez por nós na pessoa de seu filho Jesus. Ele deu-se por amor a nós! Deus não faz negociatas com os homens (quem somos nós?). Todos estávamos perdidos, em trevas absolutas por conta dos nossos pecados que nos separavam eternamente dEle. Em toda a história, em todas as culturas, sempre existiu uma busca angustiante por este que se revelou em Cristo. Aqueles que não o conheceram tiveram que criar os seus meios para tentar viver da melhor forma por meio de suas crenças, rituais e ideologias... tudo o que podiam era apenas tentar encontrar a salvação de suas almas, mas nada podemos fazer para sermos salvos... somente Deus o poderia fazer, e Ele fez a única coisa que poderia ser feita para que as trevas do pecado se dissipassem: Deus, em Cristo, fez-se homem para ensinar-nos o caminho e a verdade e assumiu nossa culpa, pagando pelos nossos pecados na cruz, nos apresentando justificados por Cristo diante de Deus.

Quando recebemos tal dádiva por meio do Evangelho - a boa-nova da salvação, a angústia da perdição, da escravidão ao pecado dá lugar à liberdade que a verdade proporciona. Pela fé em Cristo recebemos todo o favor de Deus, somos salvos pela sua graça, os atos de Deus a nosso favor são gratuítos. Ele se dá a nós e nós correspondemos ao seu amor com uma vida de devoção e isso é o viver cristão, algo essencialmente diferente dessa prática no atual mercado gospel.

O cristão verdadeiro exterioriza em seus atos de amor e devoção transformações profundas que Deus já realizou em seu interior e isso é salvação. Tal vida, livre da escravidão e da escuridão do pecado, mudado de um modo de viver afastado Deus para um modo novo de viver repleto da presença de Deus, é eterna porque tal como Cristo ressuscitou, vencendo a morte e o pecado, todo aquele que simplesmente crer nEle também vencerá.