Pecado é o estado de corrupção da criação em decorrência da rebelião humana contra a Lei de Deus. O pecado é o mal que degenerou a natureza e nos colocou em inimizade contra Deus.
O estado atual das coisas não é o que era em sua origem, pois toda a natureza está maculada, corrompida, adulterada pelo mal do pecado que a tudo afetou. A natureza de todas as coisas criadas foi degenerada, tornando-se repulsiva para o elevado padrão da santidade do Criador. Fomos, então, banidos dEle. O Deus Santo é totalmente separado dessa sua criação, Ele é inacessível a nós mas nós não somos inacessíveis aos seus atos de misericórdia e de Graça, e por esses atos Ele age na criação.
Por causa do pecado existe uma ruptura entre o Deus Criador e nós, suas criaturas, uma separação intransponível para nós e que só pode ser reparada pelo próprio Deus.
Sendo Deus a fonte inesgotável de vida e o sustentador de toda a criação, a ruptura do pecado nos impôs morte e destruição. O destino da criação, então, é o colapso e a morte. A criação está em agonia, caminhando para a sua ruína, para o seu fim que será imposto pela manifestação de Deus no retorno glorioso do Senhor Jesus, o Juízo final. Então a atual criação será destruída pelo fogo (o poder da santidade de Deus se impondo à criação) e serão criados uma nova Terra e novos céus, sem pecado e sem os seus efeitos, em plena santidade e perfeição.
A intransponível separação entre a criação e Deus, por causa da ruptura da queda no pecado é a impossibilidade de união entre a santidade de Deus e a degeneração de todas as coisas, não apenas do homem, mas do mundo e do universo onde o ser humano foi estabelecido por Deus como "cabeça" da criação, o jardineiro do Éden, o administrador, o cuidador e líder de tudo o que podemos ver e entender por criação, por mundo e por universo. Isso porque fomos criados de uma forma que nos distingue de todas as outras coisas criadas - somente o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, moldado pelas mãos hábeis, cuidadosas e poderosas do Criador. Somos seres dotados de elevadíssima e exclusiva dignidade, e foi-nos dada a ordem de cuidar da criação, de cumprirmos mandatos espirituais, sociais e culturais estabelecidos pelo próprio Deus e, dentre as ordens dadas por Deus havia uma única Lei restritiva que previa severas penas: De todas as árvores Adão podia comer dos seus frutos, exceto uma! Ele não podia comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Adão tinha diante de si todo o universo para conhecer, de tudo podia usufruir, mas tinha uma única árvore que lhe outorgava a liberdade de escolher permanecer numa realidade de perfeição e de santidade ou podia escolher conhecer o bem e o mal, recebendo todas as sansões previamente anunciadas por Deus, a morte e as consequências de ser banido da sua santidade e, portanto, ser amaldiçoado e assim degenerar tanto a si como a tudo que lhe foi submetido. Somente Adão, dentre toda a humanidade, tinha, de fato, o livre-arbítrio. Pois somente ele, e nenhum de nós, podia escolher permanecer na perfeição ou decair no pecado. Diferente dele, desde então, todos somos escravos do pecado (até que Deus nos salve dele) e temos "livre-agência" apenas dentro de um contexto limitado em que não temos como desfazer o que Adão fez e nos foi imputado. Então, ainda no Éden, Satanás pôde se aproximar da esposa de Adão, nas proximidades da árvore proibida, e tentou à Eva, que deu ouvidos à proposta em que foi pervertida a palavra de Deus (as mentiras do Diabo costumam ser sutis), Eva, então, atentou para a beleza convidativa dos frutos da árvore proibida, comeu do seu fruto e o deu também a Adão, selando, assim, a nossa rebelião contra Deus. Isso porque em Adão toda a humanidade estava representada, ele era o "cabeça"da humanidade, todos estávamos nele e todos faríamos (ou fizemos) o que ele fez, e todos herdamos a sua degeneração, as maldições da queda e da imposição da separação de Deus. Quando pecamos em nosso pai Adão (onde todos estávamos representados) nós caímos em desgraça e em maldição, corrompendo a nós mesmos e submetendo a criação que nos foi confiada a todos os danos da separação de Deus.
E nessa separação a Santidade qualifica a Deus como o "totalmente outro", porque santidade é SEPARAÇÃO. Embora Deus seja onipresente (Ele se faz presente, mas não é parte das coisas), Ele está totalmente "substancialmente" separado da criação, embora se imponha sobre ela e a sustente. Deus e criação (incluindo a humanidade) são totalmente distintos - aqui se comprova que crenças animistas e que atribuem divindade às coisas criadas são falsas.
A santidade de Deus é o seu atributo onde todos os demais são fundamentados - o amor de Deus é santo, o poder de Deus é santo, a sabedoria de Deus é santa, etc. Deus é santíssimo, puríssimo, incontaminável, incorruptível, impecável. Para nós, portanto, Ele é um fogo consumidor, pois se nos aproximarmos dEle em nossa atual condição de pecadores a sua santidade nos fulminaria. Por isso Deus deve ser temido.
A santidade e o pecado são opostos, são incomunicáveis, são realidades impossíveis de serem unidas. E suas forças são de tal forma desproporcionais que a santidade fulmina, incinera a todo pecador pois não existe a possibilidade do pecado resistir à presença Santa do Todo-Poderoso. E esse poder repelente não é passivo da parte de Deus, é intencional, pois Deus odeia e não tolera o pecado, sendo todo pecado e todo pecador objetos da sua justiça, da sua ira.
Estamos de tal forma separados e postos em contraste a ponto de Deus e sua glória serem o mais letal inimigo para o nosso estado de degeneração. Nós que originalmente fomos feitos para o apreço de Deus agora, por causa do pecado, somos objetos do seu juízo (por isso o inferno é um fogo que não se apaga, é Deus impondo as justas penas com todos os rigores da sua santidade - porque a sua Lei é santa), porque o pecado nos corrompeu de tal forma que, apesar de termos um indelével senso de necessidade de Deus, nós odiamos a santidade de Deus (e isso só é mudado, pelo próprio Deus, na ação do Espírito Santo de transformar o nosso coração e consciência, através do poder do Evangelho) e é exatamente por isso que os nossos corações enganosos são fábricas de ídolos, pois temos consciência de que precisamos de Deus, mas enquanto estivermos sob o domínio do pecado nós teremos aversão ao verdadeiro Deus e por isso inventamos deuses falsos para devoções idólatras. Nós, em nosso estado natural de pecado, estamos em guerra contra Deus.
Entendemos, então, que pecado não é apenas o que fazemos. Pecado é o nosso estado de corrupção após a queda. É a nossa natureza. Os pecados que cometemos são apenas os frutos condizentes com a natureza degenerada do pecado. Somos como uma espécie de árvore que foi alterada em sua genética, em sua natureza, e que sempre produzirá frutos impróprios para o consumo, putrificados e que estragam tudo no seu derredor, disseminando doenças em quem come dos seus frutos. Por isso o agricultor exterminará a todas essas árvores más da sua plantação. E isso é um direito seu, uma coisa boa a ser feita.
Nós não somos pecadores porque praticamos pecados, nós somos pecadores e por isso praticamos pecados. Os atos de pecado são frutos da nossa natureza pecadora, contra a qual nada podemos fazer. Alguém não é pecador simplesmente porque mente, porque pratica adultério, porque adora Maria, porque é homossexual. Esses são alguns dos pecados, dentre tantos outros, que qualquer um de nós praticamos, são frutos diversos condizentes com a natureza de quem está separado da santidade de Deus. Todos nós nascemos corrompidos pelo pecado, mesmo um bebê recém nascido já é pecador. Pecador é o que somos, indistintamente. O pecado nos define, porque todos somos filhos de Adão, pecamos nele e fomos amaldiçoados com ele.
A Redenção
Mas Deus ama a sua criação e ama, especialmente, a sua criação humana. E por isso Ele fez o que nós não podíamos fazer: o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo foi enviado por causa do seu amor por nós, mesmo nós sendo ainda pecadores, e isso foi feito para nos salvar.
Diante da impossibilitado dos homens se salvarem, o abismo intransponível entre a santidade de Deus e a degeneração pelo pecado humano foi superado pela encarnação do Filho de Deus para cumprir uma penosa missão.
Jesus, o Unigênito de Deus, o criador de todas as coisas, a Palavra com todo o seu poder abriu mão da sua glória, glória que tinha junto ao Pai, esvaziou-se de si mesmo e fez-se homem nascido da jovem virgem Maria. Assim o Messias pré-anunciado em todo o Antigo Testamento viveu entre nós, um homem verdadeiro, um milagre sublime, o Santo de Deus ensinando a verdade aos pecadores e a sua missão era resolver o mal do pecado, algo impossível a nós, para nos reconciliar com Deus. Então, como Cordeiro de Deus Ele tomou sobre si as culpas dos eleitos de Deus e ofereceu-se em sacrifício no holocausto da cruz. Ali o Santo de Deus, o justo, sofreu em lugar dos depravados e dos injustos, as malignidades dos homens estavam sobre Ele e a ira de Deus o esmagou e puniu em nosso lugar. Sua morte foi substitutiva, pois pagou a nossa dívida, sofreu o nosso inferno, e nós, os que cremos nEle obtemos o perdão pelos nossos pecados, a nossa salvação, a justiça do Senhor Jesus Cristo nos é atribuída. Ter fé no Evangelho do Senhor é receber gratuitamente o poder da sua salvação. O meu inferno foi sofrido pelo Senhor Jesus Cristo para que eu receba os privilégios que pertenciam somente a Ele. Por isso os crentes são adotados por Deus como filhos, uma dignidade que pertencia somente a Jesus.
Aos pecadores é requerido que se arrependam dos seus pecados e que se convertam de uma vida de servidão aos mais variados pecados à fé servil ao Senhor Jesus Cristo, que creiam no Evangelho e vivam sob suas ordens, Graça e doutrinas.
Por isso, por meio do Senhor Jesus Cristo, nós temos a nossa comunhão com Deus restabelecida. Em nome do Senhor Jesus nós oramos ao Deus-Pai e Ele nos ouve. Através do Senhor Jesus nós adentramos no Santo dos Santos na presença de Deus para adorá-lo em espírito e em verdade e Ele recebe as nossas vidas, o nosso culto e a nossa adoração.
E o Senhor Jesus Cristo ressuscitou, a morte ocorrida na maldição cruz não pôde detê-lo, Ele venceu a morte, o pecado e o inferno e retomou a majestade nos céus, ao lado do Pai, de onde reina soberano sobre todas as coisas e intercede pelo seu povo até que chegue o glorioso dia do seu retorno. E então todos ressuscitaremos, os salvos para as glórias do porvir e os réprobos para receberem suas justas condenações.
O Evangelho
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O ódio pela santidade de Deus
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O amor de Deus e o inferno
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O pecado entrou na criação através de Adão e Eva. Mas ele já existia num contexto espiritual. A Serpente, Satanás, o Diabo já tinha caído em pecado, já o conhecia, já era corrompido e já era um corruptor que arrastou, num passado desconhecido, uma parte dos anjos à injustificável rebelião contra Deus. É para a condenação desses demônios que o inferno existe. Contudo os eventos que levaram anjos a se corromperem em tempos diferentes dos descritos no Éden são pouco descritos nas Escrituras e a ênfase da Bíblia como Palavra de Deus é na história da redenção da humanidade, cujo centro é a obra e a glória do Senhor Jesus Cristo.
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Ainda que o pecado tenha alterado e degenerado toda a criação, e especialmente à humanidade, ele não foi um "acidente de percurso".
Se considerarmos que o Senhor Deus é onipotente e onisciente, Ele necessariamente exerce sua soberania sobre todas as coisas e nada escapa do seu senhorio, do seu conhecimento, nem dos seus planos.
Todas as coisas aconteceram exatamente como Deus predeterminou.
Efésios 1 descreve toda a Trindade agindo pela salvação dos eleitos e é dito que "Deus nos escolheu nEle (em Cristo) antes da fundação do mundo" - ou seja, antes de o mundo ser criado e antes da queda de Adão, Deus já tinha elegido a sua igreja (gente de todas as eras e lugares) e a salvou pelos atos redentivos do Senhor Jesus. Disso concluímos que a queda não foi acidental, mas estava dentro dos planos soberanos e sempre perfeitos de Deus, isso porque o plano de salvação já estava predeterminado tanto sobre os fins como nos seus meios. Se Cristo sempre foi o Cordeiro de Deus desde a fundação do mundo isso implica no fato de que os atos da cruz já estavam preordenados e que a redenção de pecados era parte central dos planos de Deus mesmo antes do pecado ter entrado no mundo e antes mesmo do mundo ter sido criado. Jesus, no Evangelho, é o "pleroma", a plenitude dos tempos, a plenitude de tudo, a glória de tudo por meio de quem tudo veio a existir e tudo converge para Ele, porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas.
A humanidade não é o centro do mundo, o Senhor Jesus é quem é. E a história da redenção é o meio pelo qual se desenvolve a sua glória.
Na história da redenção, e especialmente no seu desfecho, na glorificação, percebemos que houveram coisas boas que só se evidenciaram por causa da queda: Adão não conheceria perdão, redenção, misericórdia e outras ações e atributos de Deus especialmente reconhecidos no Senhor Jesus Cristo, que nós conhecemos, e a glória do Cordeiro de Deus se impôs sobre a criação por causa da queda, da redenção e da glorificação.
Ou seja, conhecemos, como Deus disse, tanto o bem como o mal. Nós podemos conhecer a Deus como Adão jamais pôde.