01/10/2024

Cultos que são superproduções imersivas.


Cultos que são superproduções imersivas.

Vivemos uma epidemia apóstata da tendência de transformação do culto a Deus em eventos de imersão em experiências sensoriais. 

O verdadeiro culto cristão é a prática de um conjunto de ações que são biblicamente orientadas para a adoração a Deus, somente. 

O Evangelho é a nossa reconciliação com Deus, realizada pela obra redentora do Senhor Jesus Cristo, o único Mediador entre o povo e Deus. Portanto, por meio do Senhor Jesus Cristo o povo congregado está na presença santíssima e sublime do Todo-Poderoso, e nós devemos adorá-lo em cumprimento do propósito primeiro da nossa existência, pois fomos criados para adorarmos a Deus e desfrutar dEle. 

A adoração a Deus que nos é requerida é feita por meio de Cristo e jamais se baseia em nossos méritos. Nós nos baseamos somente nos méritos do Senhor Jesus, pois somente Ele cumpriu toda a Lei e se ofereceu como sacrifício perfeito, o Cordeiro de Deus oferecido no holocausto da cruz para pagar pelos nossos pecados, e assim somente Ele satisfaz às exigências da Lei e da santidade de Deus e assumiu, perante Ele, as maldições das nossas dividas, sofrendo a santa e justa ira de Deus em nosso lugar, nos outorgando o seu perdão pleno, fazendo-nos, então, aceitáveis diante da suprema santidade do Deus-Pai que nos adota como filhos com o seu Unigênito, agora Primogênito dentre muitos irmãos.

Diante disso, o culto a Deus não consiste em nós, no que queremos, no que julgamos serem as nossas prioridades, mas sim na glória do Cordeiro de Deus que nos resgatou e que ressuscitou dos mortos, triunfando da morte, do pecado e do inferno, e que vive e reina para sempre. O verdadeiro culto cristão é focado no Senhor, na sua obra e na sua glória e não em nós. E por estar focado e baseado no Deus que é Espírito, e que não pode ser visto, nem sentido pelos nossos atributos carnais, mas conhecido pela fé somente, e que é Santo e incontaminável, o culto a Deus deve estar fundamentado nesses mesmos fatos e nesses elevadíssimos valores que nós não podemos reproduzir - não no que vemos, não nas nossas obras, mas somente no que de Deus conhecemos pela sua auto-revelação que é feita nas Escrituras. 

O culto é a adoração a Deus na beleza da sua santidade. O culto tem um destino definido, tem uma beleza definida e tem um modo santo e incontaminável definido. É Deus que deve ser contemplado, apreciado, e nós só o podemos conhecer pela sua auto-revelação que é por meio das Escrituras somente. Portanto apreciamos o que as Escrituras dizem sobre Ele, o verdadeiro louvor a Deus é a proclamação dos seus atos e dos seus atributos. Nós não inventamos coisas sobre Deus, nós proclamamos o que sabemos sobre Ele, o que Ele mesmo diz. Nossas invencionices não cabem nesse contexto.

O culto é um serviço congregacional oferecido a Deus, é quando os crentes, os santos de Deus, que são chamados de santos porque Deus os comprou com o precioso sangue de Cristo, separando-os do mundo para si, se reúnem para cumprir o que Deus requer deles como povo de sua propriedade exclusiva. Esse povo adora a Deus declarando seus atributos, as virtudes que de Deus conhecemos na mesma medida em que delas desfrutamos em santa e solene reunião. Não são as belezas que podemos produzir nem as virtudes que podemos praticar que saudamos ou louvamos, nós exaltamos o Deus invisível que preenche o recinto com a sua glória excelsa, porque podemos adentrar o Santíssimo lugar sob a cobertura justificadora e santificadora do seu Filho, o nosso Redentor. E a Palavra de Deus que diz respeito ao próprio Filho de Deus encarnado, porque toda ela se refere a Ele, nos é proclamada, e nela as grandezas do Todo-Poderoso se evidenciam e nós as assimilamos, e a nossa fé é edificada, e somos santificados, limpos, guiados, fortalecidos e instruídos. A glória do Deus Espírito nos preenche e transforma a nossa consciência à semelhança de Cristo. Mas o que fazemos enquanto as glórias do Todo-Poderoso se tornam evidentes é a simplicidade de quem não tem coisas semelhantes às grandezas recebidas para oferecer. Tudo o que temos para oferecer é o esvaziamento de nós mesmos. São petições de suplicantes, não exigências. São louvores aos atributos de Deus, e à beleza da sua santidade, e aos seus grandiosos feitos, não expressões da vaidade humana. O eu diminui em contraste com a evidência da sublimidade das glórias do Deus Santo que nos concede a graça de estarmos numa presença tão grandiosa e incomparável. O comportamento adequado da nossa parte, então, é de contrição, de quebrantamento e humilhação, de santo temor e de consciência da nossa finitude e pequenez diante da glória suprema do Santo dos santos. Não é lugar para auto-exaltação, nem de palavras de ordem. Diante do Senhor toda a Terra deve se calar pois é Ele quem tem a prerrogativa da fala.

Então, por mais gloriosa que seja a natureza de um culto a Deus, o que fazemos nele é singelo, simples, humilde e cheio de santo temor. A grandeza não está no que fazemos, mas sim do Deus que é adorado. Da nossa parte, começamos alinhando nossas consciências para que a congregação esteja num mesmo espírito e propósito. Uma reflexão quieta em preparação e uma oração coletiva na adoração iniciada. Nela agradecemos pela oportunidade de obedecermos às ordens da adoração congregacional no dia do Senhor para desfrutarmos do seu amor, e suplicamos a benção do Deus-Espírito em receber e dirigir a nossa adoração coletiva. E imploramos o seu perdão pelos pecados cometidos para, purificados, podermos adentrar o Santo lugar, não as instalações físicas do prédio onde estamos, isso não é um templo, mas o local espiritual onde o Todo-Poderoso exerce sua soberania sobre todas as coisas nos céus e na Terra. E assim, adentramos com ousadia na sua santíssima presença onde anjos não ousam descobrir seus rostos por temerem a grandeza do Senhor de todos, mas nós, cobertos pelo sangue de Cristo podemos contemplar o que antes nos era impossível. E então nós o louvamos, apreciando assim as suas virtudes, os seus feitos, a sua glória. E enquanto o adoramos Ele se agrada de nós e como verdadeiro Pai que é nos ama, nos cura, nos instrui e transforma. O culto de adoração a Deus é a forma mais excelente de desfrutarmos da sua comunhão, verdadeira intimidade e conhecimento. E quando terminamos o nosso louvor, coisa simples porém feita em submissão às Escrituras e de todo o coração, força e entendimento, Ele nos dá mais de si, da sua graça na medida em que pregação fiel da sua Palavra é feita ao povo.  O culto é uma dialética, uma conversa entre o povo congregado com o Deus que é adorado. E Ele responde.

É assim o culto de adoração a Deus, nós estamos reunidos como congregação na presença de Deus por meio de Cristo para adorá-lo na beleza da sua santidade, e não para nos impactarmos uns aos outros com qualquer coisa que nós possamos fazer. 

Cultos imersivos em emoções fabricadas pelo homem estão colocando a glória baixíssima dos homens caídos no lugar da sublimidade da glória do Deus Santo e Todo-Poderoso, e isso é uma inaceitável corrupção do culto, é uma profanação dele, é uma idolatria porque está se praticando a adoração às coisas criadas em lugar do Criador. Cansa ver "ministros" de louvor se esforçando para "contagiar" sua plateia enquanto agem como animadores de auditório em cima de palcos como em shows, teatros e em circos. Mas essas desgraças são pragmáticas, elas funcionam, atendem bem aos desejos hedonistas daqueles que repudiam o culto santo ao Deus Santo porque, em última instância, o odeiam. Os shows exigem mais trabalho por parte dos que os produzem, mas atendem aos apetites dos sentidos ao promoverem o entorpecimento das emoções a quem chamam, equivocadamente, de "mover de deus".

É o entorpecimento, as fortes emoções induzidas por um conjunto de coisas embaladas por luzes, músicas muito bem produzidas (aliás, o que seria do movimento evangélico sem o movimento gospel com sua indústria musical?), muita técnica e pirotecnia, palavras de ordem e abordagens emocionais com a odiosa despersonalização e a descentralização de Deus no culto para em seu lugar ser praticada a ênfase no "eu", e no que "eu sinto", e no "meu bem estar", no meu acolhimento e empoderamento, na minha validação quanto à espiritualidade feita sob medida para mim num mercado religioso de múltiplas opções em que o senhor é o meu arbítrio. A corrupção do culto de adoração ao Senhor se transformou numa epidemia crescente de deturpação do ministério da igreja, que em muitíssimos casos tem se prostituído com modelos pragmáticos de se praticar o hedonismo, o culto das pessoas por elas mesmas e das suas emoções na busca do seu próprio bem-estar projetadas num "deus" idealizado que reflita as suas perspectivas e que costuma ser chamado de Jesus, um homônimo vazio do verdadeiro. Eis um culto idólatra e pagão que enche facilmente igrejas em franca apostasia e que profanam cada vez mais o Evangelho e que quebram todos os mandamentos ao adorarem ideais e deuses inventados enquanto invocam o nome do Senhor em vão para tentarem validar suas egolatrias.

O verdadeiro culto a Deus é desprezado pela maioria das pessoas porque elas simplesmente odeiam a Deus. Todos nós já fomos mortos espirituais, inimigos de Deus e da sua santidade, e por isso nos refugiávamos nas nossas idolatrias como desdobramento do nosso pecado, da nossa rebelião. E esse é o padrão humano à parte de Cristo até que o Evangelho nos salve, antes de tudo, de nós mesmos.

Por isso, o passo fundamental que é requerido pelo Senhor Jesus daqueles que pretendem seguí-lo é a renúncia de si mesmos, é a auto-negação e não a auto-aceitação nem a auto-validação, pois conversão é olhar para Jesus e não mais olhar para si mesmo, é esvaziar-se de si para se preencher com Ele.

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Os pilares da igreja são a Palavra de Deus pregada, crida e praticada em fidelidade, somente.

O fundamento da igreja é a doutrina dos Apóstolos, é a obra de Cristo e os seus desdobramentos e não as obras da carne, as ingerências dos homens caídos.

Mas nos nossos tempos os oportunistas têm envenenado a muitos com suas ideias inovadoras, com seus relativismos e ideias do marketing, com conceitos pragmáticos do ambiente corporativo, com abordagens da psicologia, da pedagogia e tantas outras intromissões que não são doutrinas nem ordens do Rei da igreja ao seu povo.

Essa sanha pragmática por resultados produzidos por técnica, controle humano e tecnologias para tornar a igreja num negócio que se expande artificialmente é um câncer em metástase no contexto religioso-evangélico e que fomenta ideias humanistas, meramente terapêuticas e sensoriais, contextos em que a Palavra de Deus é tratada como um meio de se obter algum bem estar e o próprio Deus é reduzido a um mordomo dos homens, algo que Ele não é. 

Essa aberração anticristã tem prosperado inclusive no contexto reformado onde, em muitos casos, o culto de adoração a Deus tem sido desfigurado num espetáculo sensorial feito aos homens que perderam a consciência da glória do Cordeiro e que buscam se sentir bem numa espiritualidade que sirva aos seus hedonismos - e, obviamente, por detrás desse circo existe um comércio oportunista que se agiganta, pois esse fermento levedador da massa do que deveria ser a pureza do Evangelho é sempre a mesma e velha obra da carne que, por sedução do Diabo, corrompe as coisas que deveriam ser santas sem parecer que essa degeneração faz com que rebanhos inteiros apostatem da fé genuína enquanto estão entorpecidos com as fortes luzes artificiais que são embaladas por meias verdades, ou melhor, verdades torcidas a ponto de tornarem-se em mentiras.


Um contraste com os modismos, um modelo santo.