03/08/2024

Integridade e solidão no primeiro Salmo.

 


Integridade e solidão no primeiro Salmo.

"Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores; antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite."

(Salmos, 1, versos 1 e 2)

Tem muitos textos bíblicos que celebram a fraternidade. Mas a verdadeira fraternidade, na Bíblia, é seletiva, pois se baseia na santidade de Deus que nos é comunicada, nas exigências espirituais e morais feitas por Deus por meio da sua Palavra ao seu povo, que deve distinguir a missão de estar no mundo e nele refletir a luz que de Deus procede, de estar no mundo para ser pelo mundo influenciado e assim corromper os deveres santos do povo de Deus.

O ser humano é uma criatura essencialmente social. E para fazer parte de um grupo social nós temos que nos sujeitar às suas regras sociais. E quando fazer parte de um grupo inclui a celebração do erro, do pecado?

O primeiro Salmo abre a coleção de 150 poemas inspirados por Deus elogiando aqueles que não se unem aos ajuntamentos que Ele reprova - e chama a atenção o saltério começar com essa distinção, pois em muitos dos Salmos a união dos crentes, do povo de Deus é celebrada, mas aqui fica claro que nem todo ajuntamento é aceitável por Deus, pois o Senhor abençoa quem não se junta aos ímpios, aos pecadores e aos escarnecedores. Note que a bem-aventurança do texto sagrado é daqueles que não se juntam aos pecadores e, assim, não consentem e não corroboram com as suas práticas. Ou seja, o Senhor não nos quer unidos a eles e eles não podem fazer parte da fraternidade do povo de Deus enquanto perseverarem nas práticas que os definem nesses termos, pois, embora esse texto não trate de arrependimentos de pecados, o arrependimento é uma verdade bíblica que é requerida de todos os pecadores para serem justificados pela fé, e serem salvos e unidos na fraternidade dos santos. Essa é uma mudança celebrada nas Escrituras, pois todos somos pecadores, todos já estivemos do lado errado das coisas, mas uma vez purificados pela regeneração nós não podemos voltar a nos unir com o mal que deve ficar para trás. O Salmo 1 aponta para essa separação e celebra a distinção entre o povo Santo de Deus e os réprobos com alguns detalhes no subtexto e seus desdobramentos que devem ser considerados.

A afirmação de bem-aventurança é uma imputação, uma descrição de quem olha a pessoa de fora e o descreve, e não é uma descrição de bem-aventurança (satisfação, felicidade) que necessariamente é percebida pelos sentidos dessa pessoa, pois a sua condição inicial é de exclusão e de isolamento, de não estar junto de outras pessoas que parecem estar socialmente melhores, pois têm conselheiros à sua disposição para terem algum êxito no modo de vida que é ímpio (destituída de piedade ou contrária a ela) pois não considera a Deus nem à sua Lei como devemos considerar. Essa é uma ideia de que existe ampla fraternidade em oposição a Deus, e que esse tipo de união e colaboração é aconselhada e portanto é intencional, é comunicada e é ensinada. Por isso, podemos ser seduzidos a condescender e aceitar os termos da impiedade para fazer parte do clube (qualquer que seja), e se você não aceitar os termos não poderá desfrutar dos benefícios dessa agremiação, dessa aceitação social.

Além disso, o bem-aventurado do texto tem que ser seletivo quanto aos seus companheiros de caminho, de jornada, de vida. Em nenhum texto da Bíblia nos é ordenado a confiar nas pessoas, pois confiança custa caro e deve ser conquistada. Nós devemos ser confiáveis e dispostos a ser amigos, a cultivar fraternidade, comunhão e hospitalidade mas essas coisas são construções que precisam ter as coisas de Deus como fundamento e critério. Amizades verdadeiras são chamadas de tesouro nos Provérbios e a fraternidade de crentes custou o altíssimo preço do sangue derramado pelo Senhor Jesus no Calvário, portanto o companheirismo de jornada não deve ser desperdiçado com quem se dedica ao pecado, e isso limita bastante com quem devemos andar (e essa deve ser a regra de ouro também para o casamento).

O bem-aventurado, aquele que vive bem e de forma aprovada por Deus, é seletivo com quem se assenta, com quem conversa. Os escarnecedores têm ampla e fácil companhia à mesa, têm com quem se assentar, conversar. Escarnecer, zombar de Deus e das pessoas, rir da desgraça alheia, profanar, se engajar na ridicularização e nas distorções das coisas são agregadores fáceis em qualquer roda de conversa. Por isso os escarnecedores parecem ter muitos amigos, juntam fácil muitos parceiros para celebrarem a decadência, mas os bem-aventurados se retiram desses contextos, e os reprovam, e por vezes ficam isolados.

Então vem a coroação do contraste - os pecadores, os ímpios e os escarnecedores podem formar um grande ajuntamento, mas tudo o que eles têm é o vazio de si mesmos, e a necessidade de se empenharem naquilo que os torna reprováveis como num vício escravizante e cíclico. E assim eles se escoram na conduta reprovável, uns com os outros e isso é tudo o que eles têm, pois eles não tem a Deus, que se opõe a eles e ao que fazem. Junte um pouco de esterco a outros tantos e você terá uma montanha de esterco, será sempre isso, não importando a quantidade. A fraternidade dos homens que celebram o mal é a celebração das suas podridões. Pode ser que aos olhos humanos nos deixemos impressionar com a fina superfície das suas felicidades momentâneas e realizações, mas Deus vê o sentido das coisas, o seu verdadeiro valor, o espírito, e é por isso que uns grupos de pessoas são reprováveis em contraste com o bem-aventurado do Salmo 1, que apesar de parecer minoria no texto, numa aparente desvantagem do isolamento, do não pertencimento a muitos grupos sociais, porém, ele é bem-sucedido porque o seu companheiro de vida mais importante é o próprio Deus, o Todo-Poderoso que também é Justo Juiz e é o Deus-conosco. 

O que faz com que esse bem-aventurado seja distinto e abençoado é a ocupação que o define, o seu prazer não está nos prazeres e satisfações dos mundanos, dos pecadores, dos ímpios e dos escarnecedores, antes, em contraste, o seu prazer está na Palavra de Deus, em conhecer ao Senhor e aos seus desígnios mais profundamente e desfrutar desse prazer e companhia constantemente.

E o texto continua descrevendo as bençãos de ter ao Senhor como conselheiro, como caminho e como aquele com quem nós nos assentamos para conversarmos - isso porque meditamos na sua Palavra de dia e de noite e o Senhor Jesus está de fato lá, conosco, em perfeita e santa fraternidade e unidos espiritualmente com todos os remidos.

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Ainda sobre a reflexão no Salmo 1

E se esse conselho de ímpios (um concílio que despreza a santidade da piedade e promove distorções dela), esse caminho de pecadores (um descaminho que se desvia da verdade e da ortodoxia) e essa roda de escarnecedores (pessoas intementes e irreverentes quanto às coisas de Deus), for uma fraternidade do erro DENTRO de uma igreja, um ajuntamento de relativizadores da verdade do Senhor e que a tudo diz "não é bem assim", tal como fez Satanás em todas as vezes em que aparece nos relatos bíblicos, sempre relativizando a Palavra de Deus e propondo releituras dela para promover o desvio da verdade e a apostasia da fé como se Deus aceitasse desvios e infidelidades?


Não faça parte disso!

Feliz é quem não compactua com estes!

Feliz é quem se opõe às apostasias!

Feliz é quem resiste à mundanização da igreja.