A fé mundana dos crentes
Ao ler o Evangelho de Lucas fica evidente o quanto os discípulos do Senhor Jesus não tinham entendido o seu ensino quando, na ocasião da ressurreição, eles resistiram para acreditar naquele evento glorioso predito pelo Senhor.
Tal como é retratada na narrativa dos dois discípulos no caminho de Emaús, parece ser tendência os crentes atribuírem suas expectativas ao Senhor e ignorarem a perspectiva dEle. Tal como naquele evento, existe pouco interesse no que o Senhor veio fazer concretamente em contraste com as aspirações seculares a Ele atribuídas. Os crentes louvam ao Senhor pelos cuidados nessa vida, pela saúde, família, emprego, segurança, provisão e tantas outras coisas que focam nesta vida passageira mas ignoram a ressurreição, a contemplação da glória exclusiva do Senhor e a expectativa do porvir. Uma prova desse problema é o quanto os crentes, no geral, estão despreparados para a vida eterna, o quanto se receiam da morte, o quanto estão desesperados de apego por esta vida efêmera e mundana. Não valorizamos o que o Senhor nos deu, queremos que Ele nos abençoe aqui. Como os discípulos no caminho de Emaús o que queríamos mesmo é a libertação de Israel, é o reino de Deus para aqui e para agora, e como não o recebemos nós ficamos frustrados. Na prática ainda somos muito mundanos.
Então, no Evangelho de Lucas, especialmente no final com a narrativa dos tristes discípulos que muito pouco entendiam sobre o que o Senhor fez, fica claro o quanto é predominante a persistente luta da fé evangélica no Senhor Jesus triunfante em contraste com ingredientes remanescentes de uma crendice pagã nos crentes que persistem numa expressão religiosa autosatisfatória e baseada no eu e em coisas efêmeras dessa vida. Porque a verdadeira fé cristã é baseada na glória do Senhor Jesus somente e essa convicção só se forma com o ensino da realidade evangélica da ressurreição do Senhor e nossa, um ensino que tem sido sistematicamente negligenciado e, por isso, predomina nos crentes uma expressão religiosa baseada no eu e não na glória do Senhor Jesus.
Vemos prosperar, infelizmente, uma fé definhante e cada vez mais infantilizada em crentes cada vez mais sentimentais e que tratam a fé como um serviço de acolhida e de segurança a eles prestados como consequência de abordagens que são cada vez mais esvaziadas das grandes verdades da fé cristã. Pouco tem se pregado sobre a cruz, sobre a ressurreição e sobre a volta do Senhor.
Crentes servindo nesse mundo
O Senhor Jesus exige que seu povo busque, antes de tudo, ao Reino de Deus e à sua Justiça. E como complemento dessa busca prioritária Ele promete que Deus cuidará dos seus, da Igreja militante neste mundo, de cada crente fiel. Porque é neste mundo que os crentes buscarão os altos ideais do Reino e da Justiça do Senhor, e isso faz de nós atuantes numa causa constantemente conflitante com os baixos ideais desse mundo caído. Por isso nós somos como ovelhas enviadas para o meio dos lobos, porque apesar dos elevados valores que defendemos as nossas armas não são conformes as armas mundanas, isso porque são armas espirituais, é a oração, é a comunicação das verdades bíblicas, é a prática da piedade cristã, é imitar o modelo do Senhor de confrontar as trevas irradiando a luz da verdade inegociável de Deus e, provavelmente, sofrer represálias por causa disso. Nossa luta é espiritual, feita na propagação das verdades de Deus, a conclamação aos arrependimentos de pecados e à fé no Evangelho. O ministério cristão não é um apoio às causas dos homens caídos, não é simplesmente dar esperanças aos contextos humanos porque não existe nenhuma esperança para essas coisas. A mensagem de Deus não corrobora e não endossa o sistema mundano que está sob juízo. Nós, povo de Deus e o mundo, estamos num confronto da causas! E é assim que a igreja milita, tendo as mentes e os corações nas glórias que estão reservadas para os redimidos por Cristo, mas os pés nessa terra e as mãos sendo calejadas e feridas nos seus arados. Sofremos as dores por servir no mundo mas tendo as certezas da redenção operada pelo nosso Senhor e Salvador, que são fatos obtidos não por quaisquer coisas que façamos, mas sim pelo que o Senhor realizou em sua obra na cruz. Tudo se volta para Ele e crer no Senhor e se submeter a Ele é o ato definidor dos nossos destinos. Seria desigual a luta dos crentes nesse mundo uma vez que somos minoria e que não usamos as armas dos homens caídos. Seria desigual se não fosse um elemento determinante que faz inverter o peso na balança: é o Senhor quem luta por nós, o Todo-Poderoso é o Senhor dos seus exércitos e é nesse rochedo inabalável que esmagará o mundo dos ímpios que estamos firmados.
Saiba disso, você pode olhar para um crente a serviço do Senhor e desprezá-lo porque não te oferece riscos. Na verdade você pode até mesmo maltratá-lo ou matá-lo, porque ele não tem meios de oferecer resistência à altura das tuas possíveis agressões. Mas a aparência humilde dos crentes engana os olhares dos soberbos, que sempre enganam unicamente a si mesmos, pois na verdade esses crentes são embaixadores de uma força inimaginável que te expurgará da vida e te lançará ao inferno, pois a única esperança possível que foi dada aos homens é a de acatar o que esses homens de Deus dizem quando conclamam as pessoas ao arrependimento de pecados e à fé no Senhor Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida, sem o qual ninguém se aproxima de Deus.
Ou seja, o que esses homens aparentemente indefesos estão fazendo no mundo é te oferecer misericórdia, pois a única salvação possível para a tua vida é o Evangelho que está sendo anunciado.