A resistência e a luta contra as progressões das iniquidades do nosso tempo, abundantemente vistas nos poderes do nosso país, seriam menos difíceis e desgastantes se houvesse fraternidade, união de forças com aqueles que partilhamos a fé e a confiança nos mesmos princípios e, principalmente, no mesmo Senhor. A fraternidade dos crentes é otimizadora de virtudes, é fonte de refrigério, é bálsamo, é um meio eficaz de renovação das forças e de preparação para as batalhas justas com a segurança de que se está fazendo a coisa certa no seu breve tempo em que se vive na história.
Contudo esse nosso fragmento da história também é marcado não apenas pela decadência dos políticos, mas também por um tipo de cristianismo que é predominante e que é bastante apático e confuso, e não porque essa seja a natureza da fé no Senhor, mas sim porque os cristãos do nosso tempo são excessivamente mundanos, eles corromperam a sua fé pessoal e compartilhada numa mistura de convicções deturpadas, com suas leituras dos textos bíblicos poluídas por interesses pessoais, por ambições e com muitas reservas nas disposições de crer e de fazer o que a Bíblia claramente ensina para preservarem suas vidas duplas, seus desejos iníquos, seus desejos por primazia, sua estupidez pretensiosa de pensar que o Todo-Poderoso se sujeitaria às agendas dos homens e às suas corrupções, presunções e blasfêmias. Em suma, grande parte do que parece ser cristianismo é apenas o resultado de um grande bolo fermentado que cresceu, porque jogaram ao longo de anos muito fermento na massa que deveria formar um pão ázimo, um pão puro destituído de fermento, mas que agora é apenas um agigantamento deformado que pouco, ou nada, tem a ver com a verdadeira fé no Senhor Jesus e com o que deve ser a sua verdadeira igreja. O que vemos, tão destacadamente, são impérios religiosos liderados por homens pervertidos, amantes de si mesmos, gente detestável, repugnante, idólatra do deus-dinheiro e das suas ambições que blasfemam sistematicamente do Senhor na medida em que cooptam legiões de seguidores que também desenvolvem um tipo de fé adulterada, impura, miscigenada, poluída, sincrética, descaracterizada, cheia de misticismos e infiel ao Senhor - apesar de mencionarem o seu nome Santo e impoluto e de lerem as Escrituras repetidamente. Seus cultos são espetáculos teatrais feitos em palcos que dependem de música e de estímulos fabricados, seus ministros são atores preocupados com a sua desenvoltura e com o seu estatus, seus líderes são homens soberbos, são pessoas abjetas que manipulam seus rebanhos como se fossem senhores feudais ostantadores de luxos, seus frequentadores são ensinados seletivamente e de modo que sejam mantidos na subserviência, porque conhecer bem a fonte primária da fé, as Escrituras, é um perigo para líderes que querem manter seus rebanhos na dependência de quem controle suas consciências. Por isso o Deus da Verdade continua sendo tratado por esses corruptores da fé como se continuasse escondido da comunidade dos crentes pelo véu da separação, uma linha divisória que só pode ser administrada pelos ministros, os novos sacerdotes de um subtipo da fé cristã que está pulverizado em muitas subformas de cristianismos vistos em múltiplas igrejas onde cada líder cria a sua própria versão de espiritualidade e o seu próprio ideal de Jesus. Nas deturpações não existe unidade, não se vê nessa pluralidade "uma só fé, um só corpo e um só espírito", o que se vê é confusão e jogos de interesses. É cegueira. Mas Cristo é a Luz, sua Palavra é Luz para o nosso caminho e nEle não andamos em trevas. O que está acontecendo então? Por que tamanho disparate? Por causa da corrupção dos homens. Por causa das suas rebeliões contra o Senhor. Eles manipulam a Palavra, eles a adulteram para que ouçam apenas o que suas presunções querem ouvir. Eles agem contra o Senhor porque o detestam, mas querem suas bênçãos, querem o céu. Então eles mentem para si mesmos tentando condicionar o Senhor às suas concupiscências. Mas Deus não é como o ídolo da garrafa que pode ser aprisionado pelas presunções dos homens e acessado quando eles quiserem para atender aos seus desejos como quem aperta um botão de liga-desliga. Deus é Soberano, o Todo-Poderoso, e quem o homem pensa ser diante da sua magnitude? Pensam que podem se assenhorar da Igreja e fazer dela o que quiserem? Pensam que podem usar o seu Santo Nome em vão para mentirem, perverterem a verdade e engrandecerem a si mesmos? Deus resiste aos tais! Não há bençãos de Deus nas bocas dos falsos profetas. Não há nada de Cristo em falsos pastores e falsos mestres, esses lobos são anticristos a serviço da corrupção e da apostasia. Não há luz da verdade na mentira, não há salvação no falso Evangelho e não há glória de Cristo onde a decadência humana é glorificada na suntuosidade dos hipócritas e dos perversos.
Então, com luzeiros apagados porque os homens se enganam e entretém a si mesmos com luzes falsas, incapazes de fazerem o que somente a pureza da verdade faria, dá-se que o mundo esteja mergulhado em trevas. Não há luz, pois quem deveria portá-la se omite ou a suprime, assim como o sal abundante mostra-se insípido, ineficaz, e então as carnes mortas no derredor estão em acelerada putrefação, pois não há sal, e o que temos é um subproduto desprezível digno de ser pisado pelos homens, subjugado.
O mundo decadente assim é porque os homens são amantes de si mesmos. São devotos dos seus pecados, não de Deus. E no distanciamento da verdade multiplicam-se os efeitos diversos da mentira, a corrupção, a degradação do pecado. E não tem como ter fraternidade quando a estupidez é celebrada e o mal atenuado por disfarces.
Mas, graças a Deus, ainda que todo o mundo sucumba nas múltiplas formas de mentiras, nada podemos contra a verdade. Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso, e, Deus sempre manterá um remanescente fiel. Os remidos pelo Senhor nunca estarão sozinhos, ainda que vez por outra se sintam assim. Dentre os inúmeros covardes sempre despontarão os fiéis do Senhor Jesus e a fraternidade dos crentes, a Igreja, segue em marcha triunfal até o fim, mesmo que às vezes subsista em pequeninos rebanhos do Supremo Pastor.
O mal virá ao nosso tempo como efeito justíssimo que Deus imporá sobre as legiões de réprobos e de apóstatas. Mas Cristo também virá, em breve, para impor o seu juízo e as glórias na eternidade aos Seus, porque Ele é digno.