Resolvi postar o meu trabalho de Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Teologia - que no Mackenzie recebe o nome de Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI):
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Escola Superior de Teologia
JOÃO EDUARDO DUARTE
RELIGIÃO E MAGIA NA
IGREJA CRISTÃ APOSTÓLICA DO BRASIL
SÃO PAULO
2011
Autoria: João Eduardo Duarte
Título: Religião e Magia na Igreja Cristã Apostólica do Brasil.
Trabalho de conclusão de curso apresentado como parte das atividades para obtenção do título de Bacharel, do curso de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu Deus e Senhor, por ter impresso em minha alma o desejo pela Verdade e por ter me dado condições de trabalhar por ela; agradeço à minha querida esposa Jocilene, por ser a grande estimuladora aos meus estudos e carreira cristã; agradeço aos meus queridos filhos Leonardo e Ana Cecília pela força que suas vidas me dão; agradeço aos meus professores que no exercício de seus ofícios contribuíram para a construção do meu incipiente saber.
RESUMO
A prática religiosa é marcada pela crença e pelas manifestações de fenômenos místicos que assumem interpretações diversas de acordo com a diversidade religiosa.
Pretende-se compreender o que são certos fenômenos, qual a sua natureza e como ocorrem, uma vez que existe controvérsia dentro do ambiente da religião cristã acerca da sua validade e autenticidade perante os registros bíblicos, conforme são tradicionalmente compreendidos.
Nota-se também que muitos dos fenômenos místicos vistos, especialmente os vistos na práxis religiosa do caso estudado e que aqui são chamados de bens simbólicos, têm ampla identificação com os bens simbólicos presentes em abordagens místicas de práticas religiosas diferentes da prática cristã tradicional.
O presente estudo aponta para a possibilidade de certos fenômenos refletirem não a transcendência ou a interação com realidades espirituais exteriores, mas sim certas habilidades da psique humana, pouco conhecidas, mas tão comuns quanto as aptidões específicas para as artes, para a matemática, para a música, ou afins.
Palavras-chave:
Misticismo, Xamanismo, Êxtase religioso, Dons espirituais, Sincretismo, Pentecostalismo.
ABSTRACT
Religious practice is marked by belief and by manifestations of mystical phenomena that take different interpretations according to religious diversity.
Objective is to understand what certain phenomena are, which nature is theirs; and how they occur, once there is controversy among christians about their validity and authenticity before the biblical registers, as traditionally understood.
Note also that many of the mystical phenomena seen, especially seen in religious practice and that the case studied here are called symbolic goods have a broad identification with the symbolic goods in these approaches mystical religious practices differ from traditional Christian practice.
This study points to the possibility of certain phenomena reflect not transcendence or spiritual interaction with external realities, but certain abilities of the human psyche, little known, but as common as skills specific to the arts, to mathematics, to music, or the like.
Keywords:
Mysticism, Shamanism, Religious ecstasy, Spiritual gifts, Syncretism, Pentecostalism.
“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento.”
2 Coríntios 2.14
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Sumário
Introdução 11
Problemas 15
Hipóteses 16
Justificação 17
Fundamentação Teórica 19
Procedimentos metodológicos 20
Capítulo 1
As manifestações espirituais e os portadores do poder. 21
Capítulo 2
A espiritualidade na Igreja Cristã Apostólica do Brasil. 26
2.1 História mítica fundante. 26
2.2 Descrições do ambiente religioso e do culto. 32
2.3 Os cultos proféticos da Época da Graça. 49
Capítulo 3
A experiência religiosa e o ensino bíblico. 54
Bibliografia 59
Anexos. 1 – Revista Época 60
Anexos. 2 – Processo judicial 64
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Introdução
Este Trabalho de Graduação Interdisciplinar pretende estudar a prática da manipulação dos sobrenaturais religiosos, também chamados de bens simbólicos, numa comunidade cristã evangélica de abordagem neopentecostal e comparar tais práticas com as indicações bíblicas neotestamentárias deste tema.
Pretende também comparar o caso estudado com os postulados teóricos da psicologia e da sociologia sobre os bens simbólicos admitindo a possibilidade de tais bens serem, na verdade, capacidades inerentes ao ser humano, religioso ou não, e que assumem significado religioso conforme apresentado dentro de certas práticas religiosas.
Título do trabalho
Religião e Magia na Igreja Cristã Apostólica do Brasil.
Delimitação do tema
O objeto deste estudo é discutir e compreender o que são os bens simbólicos vistos no modo como é praticada a religião a partir do estudo de um caso representativo, de um líder dotado de poderes místicos para a manipulação da espiritualidade de uma comunidade religiosa, que compreende esses poderes como evidências da manifestação de dons e de poderes espirituais e portanto, de autoridade e manifestação divina.
Tais líderes, neste trabalho representado pelo apóstolo Arlen Vilcinskas, possuem, conforme acreditam suas comunidades de fé, dons de curar; capacidades para fazerem previsões do futuro, revelações e profecias; seriam instrumentos usados pelo divino para realizarem libertação espiritual e cura física e se utilizariam da prática do transe e do êxtase como formas de interação com a divindade.
O caso estudado é de uma igreja cristã neopentecostal situada no bairro da Mooca, em São Paulo/ SP que é liderada pelo apóstolo Arlen. Esta igreja é descendente de uma outra igreja, anteriormente liderada pelo mesmo pastor Arlen, onde se via frequentemente a prática de transes coletivos, curas, revelações e profecias. Assim, esta pesquisa se baseará nas evidências vistas nestes dois ambientes religiosos, dirigidos pelo mesmo líder através do uso de seus bens simbólicos.
História da Pesquisa
Este pesquisador é praticante da fé cristã e conheceu o seu ensino no ambiente neopentecostal, onde é enfatizada a busca da experiência com realidades espirituais e com o Espírito Santo. Essas experiências seriam evidenciadas pela glossolalia, por visões espirituais, por revelações, por êxtases (chamados de entrar no mistério), e teriam efeitos na libertação espiritual, nas curas físicas e psíquicas e na prosperidade financeira dos fiéis.
Enquanto esteve inserido neste ambiente, especialmente entre os anos de 1995 e 1997, vivenciando os fenômenos ensinados pela igreja “Época da Graça”, este pesquisador experimentou a glossolalia, as revelações e os êxtases e foi agente destes fenômenos nas ocasiões em que atuou nos serviços religiosos com pregações e orações.
Porém, em meados de 1996 os fenômenos vivenciados passaram a ser comparados por este pesquisador com os ensinos neotestamentários e foi verificada a incompatibilidade da prática espiritual vista com a prática religiosa neotestamentária. A partir daí este pesquisador passou a repensar a forma de espiritualidade vivenciada e a apontar o ensino bíblico nas ocasiões em que participava dos serviços religiosos.
Em 1997 este pesquisador foi expulso desta comunidade religiosa com o uso de violência por parte dos seus obreiros que agiam sob ordem da liderança eclesiástica local. Ao lado de outros dois colegas que compartilhavam das mesmas opiniões acerca do ensino neotestamentário sobre os dons espirituais e que freqüentavam a mesma igreja, este pesquisador respondeu a uma ação judicial por “Perturbação da Tranquilidade/Ameaça” CITATION ARA09 \l 1046 (acusações fraudulentas), tendo sido todos inocentados.
Desde então, este pesquisador tem procurado compreender o que são os fenômenos vistos em certos ambientes religiosos, amostrados nos bens simbólicos da práxis religiosa da igreja “Época da Graça” e especialmente vistos na pessoa de seu líder eclesiástico.
Objetivos
Objetivo geral
Levantar dados que colaborem para distinguir os chamados dons espirituais descritos no Novo Testamento daqueles fenômenos aparentemente sobrenaturais e que não correspondem ao ensino escriturístico e apontar possibilidades para a compreensão desses fenômenos.
Objetivos específicos
Especificar o que são os bens simbólicos, chamados de dons espirituais no Novo testamento, conforme registrados no Evangelho de Marcos e nos livros de Romanos, I Coríntios e Efésios.
Analisar os bens simbólicos praticados na Igreja Cristã Apostólica do Brasil considerando-a como uma extensão da Época da Graça.
Comparar a prática de manipulação, controle e interação dos bens simbólicos na Congregação Cristã na Mooca com o ensino neotestamentário conforme entende a tradição reformada.
Compreender o fenômeno dos bens simbólicos vistos na prática religiosa do apóstolo Arlen Vilcinskas, líder da igreja Cristã Apostólica do Brasil, considerando outras áreas do saber além da teologia, tais como a psicologia e a sociologia.
Analisar os bens simbólicos considerando a possibilidade de serem habilidades humanas aéticas comparáveis a outras habilidades humanas diversas, tais como as habilidades para as artes, para a matemática ou para a música.
Considerar a possibilidade de certos fenômenos serem, na verdade, acontecimentos comuns e humanos em vez de espirituais.
Problemas
Como estudar a experiência religiosa de alguém, quando a experiência é pessoal e portanto subjetiva?
Como adequar a experiência religiosa cristã contemporânea ao contexto neotestamentário?
Caso certos poderes espirituais sejam meras capacidades humanas, que efeitos tal distinção provocaria na religião e mais especificamente na igreja cristã?
Hipóteses
Esta pesquisa parte da premissa da existência da espiritualidade e de realidades espirituais como a existência de Deus, de seres espirituais e da interação entre estes seres e realidades com a realidade humana, mas considera que nem tudo o que é popularmente acreditado como espiritual pode ou deve ser considerado espiritual de fato. A Bíblia será autoritativa para discernir os diversos tipos de bens simbólicos.
No ambiente religioso cristão parece ser predominante a ideia de duas fontes de poderes sobrenaturais religiosos, sendo uma a divina – a que distribui dons ou poderes à Igreja -; e a outra demoníaca – a que distribui poderes sobrenaturais da falsa religião -. Assim é crido e ensinado na igreja Cristã Apostólica do Brasil. A hipótese deste estudo é a existência de uma terceira fonte de capacidades consideradas sobrenaturais e esta seria talvez a fonte mais comum dessas capacidades: uma capacidade natural humana tal como qualquer outra habilidade e que teria uma conotação espiritual por causa da pouca compreensão dessas capacidades por parte dos religiosos.
Os dons espirituais relatados no Novo Testamento bíblico seriam conseqüentes da conversão ao Evangelho e seriam ferramentas para o exercício da fé cristã no serviço à Igreja e ao mundo. Seriam, portanto, poderes sobrenaturais derivados da vida religiosa e por isso não seriam naturais do homem, mas decorrentes exclusivamente da conversão e distribuídos pelo Espírito Santo.
Algumas pessoas possuiriam capacidades especiais inerentes que seriam facilmente confundidas com poderes espirituais. Tais capacidades seriam notadas antes da adesão ou conversão à alguma religião, e poderiam ser descobertas e estimuladas dentro de algum ambiente religioso.
Justificação
A necessidade de discernir os bens simbólicos bíblicos dos não-bíblicos.
As habilidades que certas pessoas têm de interagir com realidades diferentes da realidade comum de experimentações sensoriais tendem a autenticar tais pessoas perante comunidades religiosas como portadoras de dons ou de poderes espirituais e nem todas essas habilidades seriam de natureza espiritual (se considerarmos a Bíblia como parâmetro), podendo ser habilidades meramente humanas, ainda que incomuns ou especiais.
Assim se for possível que se faça uma clara distinção e classificação entre as capacidades inerentemente humanas de experimentações sensoriais das experiências religiosas de fato, seria então possível discernir e compreender a fonte e a natureza de certos poderes acreditados por diversas comunidades religiosas.
O dualismo das fontes (do bem ou do mal) teria que ser revisto na prática cristã por conta da possibilidade humana e aética de ter em si alguma capacidade sensorial apurada que levasse à prática de visões, revelações, alguns tipos de curas, etc. Sugere-se, então, a desmistificação de certas habilidades sensitivas, aparentemente espirituais que algumas pessoas possuem e que comumente são utilizadas na prática religiosa em distinção daquelas habilidades não naturais dos homens e que alguns recebem como resultado de conversão religiosa (no caso, cristã) acompanhada de uma transformação de seus valores e mudança de conduta de forma condizente aos preceitos religiosos conforme descritos nas Escrituras.
Apontar possíveis efeitos da atuação humana em lugar da divina.
A religião cristã passa por crises. A religião que tem origem no próprio Deus encarnado que viveu entre os homens para ensiná-los sobre a verdade divina e para resgatá-los para o seu Reino sob o preço de sua própria morte seguida de sua ressurreição e assunção parece, muitas vezes, caminhar na história como se não tivesse um Pastor.
São os homens e suas ações que temos visto marcar a história da Igreja.
Não é exclusivamente ao ensino do seu Senhor que a religião cristã dá ouvidos. Ao ensino de Cristo, muitas vezes, a igreja acrescenta diversas outras vozes e influências, passando a ser uma religião praticada de maneiras muito diferentes de um lugar para outro, de uma comunidade para outra. Às vezes, certas crenças e práticas são opostas entre si, pois enquanto que numa corrente cristã certos fenômenos são cridos, noutra são desprezados.
À crise moral, à indiferença ao mundo à sua volta e à irrelevância comum de muitas comunidades cristãs pode-se somar o problema de uma espiritualidade que não se enquadra no ensino neotestamentário, espiritualidade essa que é marcada por influências diversas, pelo sincretismo religioso e pela ignorância do ensino do Senhor da Igreja.
Por isso, este trabalho pretende discutir, por meio de um exemplo, de um caso, a prática religiosa em certas correntes ditas cristãs para compreender se tais práticas são correspondentes ao ensino bíblico ou se elas se enquadrariam em outras categorias religiosas; se seriam fruto de uma ação genuinamente espiritual ou se seriam o resultado de certas habilidades humanas pouco compreendidas, mas muito utilizadas na história humana nos diversos contextos religiosos como um meio de dominação.
Fundamentação Teórica
A figura do Xamã CITATION ARA09 \l 1046 , o místico que está presente em diversas culturas com diferentes nomenclaturas, é quem organiza a compreensão do mundo em sua cultura e é quem sacraliza a realidade dando sentido, originalmente, às sociedades primitivas. O xamanismo seria uma das técnicas arcaicas de êxtase ao mesmo tempo em que seria magia e religião.
Os usos do êxtase, das releituras espirituais da realidade e o modo como o Xamã se apresenta à sua comunidade como mediador de realidades espirituais e realidades materiais, servirão de parâmetro na análise do caso estudado.
Também se verifica que o homem é naturalmente religioso e mítico CITATION ARA09 \l 1046 . Ele faz releituras constantes dos seus sistemas de crenças adequando-as aos novos contextos em que está inserido. Assim, poderia-se admitir que as novas formas de religiosidade evidenciariam uma velha necessidade humana de uma busca constante de sentido atrelado a experimentações sensoriais e isso poderia contribuir na compreensão do fenômeno estudado, em que se reivindica a verdadeira revelação divina por meio de misticismo, êxtase, religiosidade e os novos mitos modernos.
Uma razão considerada para as releituras dos movimentos religiosos é a sua reinterpretação CITATION ARA09 \l 1046 a partir da atuação de líderes messiânicos, de profetas da libertação e do sincretismo religioso provocado pela fusão de uma religião imposta pelo colonizador ou por uma cultura dominante com as antigas crenças locais. Estes fenômenos levariam a releituras religiosas onde o antigo sistema daria lugar a um novo sistema singular que apontaria para necessidades bem específicas e seria liderado por figuras messiânicas que tendem a se tornar míticas. É um sistema religioso que depende da figura de seu líder carismático.
Apesar das reinterpretações religiosas e das transformações da religião sofridas por diversos motivos (mudanças de costumes conforme a época, sincretismos, diversidade de vertentes filosóficas, etc) crê-se, conforme ensina a visão reformada da teologia cristã, na autoridade dos registros bíblicos para questões de fé e de prática e por isso, crê-se CITATION ARA09 \l 1046 que tais registros forneçam diretrizes confiáveis acerca de uma expressão religiosa adequada além de apontar para os verdadeiros bens simbólicos do cristianismo.
Procedimentos metodológicos
Uso do Método Fenomenológico – descrição do fenômeno tal como se apresenta.
Uso do Método de observação participante – interação com o fenômeno visando sua compreensão “de dentro para fora”.
Estudos de livros que tratam deste assunto – bibliografia.
Estudo de textos do Novo Testamento Bíblico.
Para o uso dos métodos apontados (Fenomenológico e Observação Participante), este pesquisador esteve presente ao cultos realizados pela comunidade religiosa estudada nos dias 2 de novembro de 2010 e nos dias 5 e 12 de abril de 2011.
Capítulo 1 – As manifestações espirituais e os portadores do poder.
A primeira coisa a ser feita é compreender o que se pretende dizer com os termos manifestações espirituais e portadores de poder.
Sobre manifestações espirituais pretende-se apontar para certos fenômenos que são convencionalmente acreditados pelos fiéis de alguma comunidade religiosa como evidências daquilo em que acreditam e que são interpretados à luz da convenção adotada.
Tais manifestações podem ser percebidas na interação das realidades do plano espiritual com o plano físico, a transcendência, o que, para James Frazer CITATION ARA09 \l 1046 , caracterizaria uma religião, um fenômeno coletivo e público praticado por homens que se veem impotentes perante as forças da natureza e que se unem para agradar a divindade a fim de alcançarem o seu favor. Para ele, existiria um antagonismo entre religião e magia, pois os poderes espirituais mantenedores da natureza, para a religião, não pertenceriam a ela, seriam transcendentes; enquanto que na magia crê-se que esses poderes espirituais seriam imanentes, fazendo parte da essência da natureza e por isso poderiam ser manipulados e sofrer intervenção humana.
Mas a religião não está isenta da magia e elas não podem ser separadas, como observou Marcel Mauss e Henri Hubert CITATION ARA09 \l 1046 , pois a maior parte das religiões conhecidas contêm elementos mágicos e se utiliza da magia ao mesmo tempo em que toda magia faz apelo às divindades sobrenaturais.
Assim, na religião os homens se reúnem em torno da crença em forças exteriores à natureza e mais poderosas do que eles a fim de agradarem a divindade a quem pertenceriam essas forças e assim alcançarem o seu favor. Enquanto que na magia desenvolvem-se maneiras de manipulação das forças que regem a natureza, e, no pensamento de Mauss e Hubert, a religião estaria amalgamada com a prática da magia a fim de que os homens alcancem o que desejam. Pretende-se nesses casos manipular a divindade e isso seria magia praticada dentro da religião.
Mas a manipulação dos meios que influenciam as ações da divindade a fim de se alcançar o seu favor só podem ser operadas por pessoas qualificadas, e que correspondam a certos pré-requisitos estabelecidos e que podem ser autenticados pela própria comunidade de fé. Por isso, Mauss aponta que a magia nunca é criação de um homem só, mesmo quando praticada individualmente, pois ela está baseada em crenças coletivas. O que confere sentido ao rito ou magia praticada pelo mágico é a própria sociedade. Do mesmo modo, Lévi-Strauss CITATION ARA09 \l 1046 demonstra que o mágico não inventa os ritos, ele age conforme os poderes que a sociedade lhe atribui; nem sempre o mágico é consciente desses poderes, pois eles residem, na verdade, nas interpretações e nas crenças da sociedade. Assim, as crenças são a priori e o poder para a manipulação do que se acredita serem realidades espirituais na prática da magia são reconhecidos no mágico a posteriori. Assim, se a natureza da divindade for espiritual, o mágico tem que ser alguém que tem acesso à transcendência de acordo com o que está convencionado como sinais da transcendência e que sirva como um elo entre os mundos físico e espiritual, sendo também um místico, alguém que opera entre duas realidades muitas vezes através do êxtase.
Este operador entre os mundos físico e espiritual provavelmente seria identificado como um Xamã por Mircea Eliade CITATION ARA09 \l 1046 . O xamanismo está presente nas mais variadas culturas, e refere-se às diversas crenças religiosas “primitivas”, possuindo nomenclaturas diversas conforme a diversidade cultural em que está inserido. O Xamã seria alguém predestinado pela divindade para o ofício religioso tribal, e esta vocação seria evidenciada a partir de uma experiência de êxtase espiritual, na maioria das vezes ocorrida em meio a uma enfermidade, em que o futuro Xamã faria uma incursão mística no além ou visitaria lugares distantes ao ter a sua alma desprendida do corpo. Após tal experiência, o candidato a Xamã seria reconhecido efetivamente pela sua sociedade como Xamã, após o reconhecimento de suas credenciais, os bens simbólicos percebidos a partir de suas experiências extáticas, onde ele seria dotado de certos poderes místicos como os transes em que sua alma, conforme se crê, deixa o corpo para fazer ascensões celestes ou descensões infernais. Tais viagens por mundos espirituais confeririam autoridade espiritual ao Xamã perante a sua comunidade, pois fariam dele o portador da sabedoria espiritual além de o credenciarem para a realização da magia, dos feitiços, das curas e de promover o êxtase religioso nas atividades religiosas tribais. Por possuir os bens simbólicos e por ser o detentor das técnicas do êxtase, o Xamã era reconhecido como líder da religião praticada em sua sociedade.
Neste sistema “primitivo” foram definidos os critérios que outorgam a alguém o poder de agir e de ser crido como um místico que atua na interação das realidades espiritual e física. O Xamã possui certos dons que a sua comunidade reconhece como autoritativos para a prática religiosa e ele próprio se torna uma autoridade que confere sentido ao mundo. Ele é o mágico capaz de interferir na natureza e é o místico capaz de operar a transcendência.
Roger Bastide CITATION ARA09 \l 1046 afirma que o misticismo, esta interação das realidades espirituais e físicas com efeitos perceptíveis para quem as experimenta, está presente no cerne das religiões a ponto de subentender-se o qualitativo religioso quando se fala em misticismo. Mas Bastide aponta para uma ampla possibilidade de misticismos, de experiências extáticas, de contemplações e devoções que não ocorrem exclusivamente dentro do ambiente religioso ou da magia. Outros tipos de misticismos são possíveis a ponto de serem provocados êxtases nos mais variados contextos assim como são vistos os êxtases nos ambientes religiosos e, portanto, os bens simbólicos interpretados dentro das práticas religiosas como evidências de transcendência espiritual podem, em outros contextos, adquirir significados diferentes, meramente humanos. Nesses casos, a experiência mística seria exclusivamente uma atividade humana.
Para incluir outras atividades além da religiosa na experiência mística, Roger Bastide define misticismo assim:
No sentido próprio do termo, o misticismo é uma transformação da personalidade, que se esvazia de seu ser próprio, de seus instintos, de suas tendências distintivas, para de certa forma sair de si mesma e comungar com o objeto de sua adoração. Essa experiência vivida pode igualmente se traduzir em termos intelectuais: se todo conhecimento supõe uma relação entre um sujeito e um objeto, o sujeito conhecedor e o objeto conhecido, o misticismo irá eliminar o primeiro desses dois termos; o sujeito que contempla se identifica plena e inteiramente com a coisa contemplada. (Bastide 1997, 14)
Assim, a experiência mística é marcada pela devoção do sujeito a algo a ponto de o sujeito anular-se perante o objeto da sua devoção a fim de enaltecê-lo em detrimento de si mesmo, o que poderia resultar em êxtase no sujeito devotado. Tal relação não está restrita à prática religiosa, mas pode abarcar todas as atividades humanas como as artes, a matemática, a filosofia ou ainda ser resultado de doenças neurológicas e mentais ou de fadiga CITATION ARA09 \l 1046 .
Se um músico (conforme o testemunho de Mozart) ouve simultaneamente uma sinfonia inteira na idéia soberana que constitui sua alma única; se, para um matemático como Descartes, o uso prolongado das revisões de conjunto e das enumerações completas liberta o espírito e o conduz a intuições simples que abrangem num só olhar uma cadeia de demonstrações; se o filósofo encontra a recompensa de uma vida de labuta na posse, afinal conquistada e familiar, de um pensamento já entrevisto e mais fecundo pelo fato de ser mais uno; se o homem que meditou e praticou dia e noite a doce lei do Senhor identificou-se com ela a ponto de trazê-la dentro de si feito um novo sentido dotado de delicadíssimas antenas, não será tudo isso – que é de ordem natural, de ordem intelectual, de ordem moral – acaso a expressão desse conhecimento e conaturalidade?
(Bastide 1997, 14)
Se o êxtase e a experiência mística forem experiências freqüentes e meramente humanas, que independem da transcendência – mas a incluem - e que podem ocorrer e ser interpretados de acordo com os diversos contextos da atividade humana, religioso ou não, embora “sejam proveitosos por levarem à magnífica exaltação do ser, ao sentimento de uma plenitude de vida que nos eleva acima deste mundo terra-a-terra e cotidiano”, como afirma Delacroix 9; pode-se deduzir que a experiência pode preceder a transcendência e neste caso, o fenômeno pode ocorrer antes e portanto ser informe e indefinido até que a explicação posterior elaborada pela sociedade ou pela comunidade religiosa seja apresentada depois do fenômeno, interpretando-o conforme quiser interpretar, dando-lhe forma e definição. Ou seja, seria possível a existência de certas experiências extáticas ou místicas e essas experiências não terem ligação com realidades espirituais por serem experiências meramente humanas, pertencentes ao plano natural e a prática religiosa pode impor certos significados a essas mesmas experiências conforme lhe aprouver, como se elas fossem legitimamente religiosas. Nesse caso seria dada a conotação de transcendência a um fenômeno não transcendente, embora fosse um fenômeno místico legítimo. Poderia-se deduzir também que nem todo fenômeno místico ou extático é também um fenômeno transcendental ao passo que não necessariamente o fenômeno transcendental implicaria num fenômeno místico ou extático por causa da sua natureza espiritual e supostamente superior à natureza física, e por ser superior, não seria adequado fechar as possibilidades quanto aos modos com que a transcendência se evidencia, pois levantaríamos hipóteses sobre realidades superiores a partir de um plano natural limitado. Por isso, quanto aos efeitos da manifestação da transcendência, se ela provoca êxtase ou não, recorreremos à autoridade bíblica para a busca de evidências, pois parte-se da premissa de sua autoridade acerca das realidades espirituais.
Dentro do ambiente religioso cristão, em que se confessa a crença no texto bíblico, existe ampla diversidade no modo com que se interage com as realidades espirituais descritas neste mesmo texto. Assim, no ambiente do evangelicalismo pentecostal um dos sinais perceptíveis do contato com o universo espiritual e evidência de transcendência é a glossolalia, a prática do falar em línguas estranhas. Lopes CITATION ARA09 \l 1046 cita Peter Wagner CITATION ARA09 \l 1046 para afirmar que esta evidência marcaria o movimento carismático dos anos 1960 e 1970, e que esta seria a “segunda” onda do Espírito. Esta onda seria sucessora da “primeira”, onde teria surgido o movimento pentecostal clássico no início do século XX em Los Angeles. Nos anos 1990 teria havido uma “terceira” onda, caracterizada por um avivamento espiritual visto nas manifestações divinas nas curas, nas revelações, nas palavras de conhecimento, nas profecias, nos milagres e nas reações físicas de quem sente a presença divina nos cultos. Estas características seriam marcas do reconhecimento da atuação divina, um envolvimento místico comprovado nos bens simbólicos dessas comunidades de fé, e as pessoas dotadas desses bens de forma mais perceptível e contundente tendem a ser reconhecidas como líderes espirituais, por elas serem as portadoras do poder ou os mágicos capazes de realizar a magia como agentes da transcendência, promotoras do sobrenatural, do miraculoso e do extraordinário.
Capítulo 2 – A espiritualidade na Igreja Cristã Apostólica do Brasil.
História mítica fundante.
Por causa das características que categorizam as igrejas pentecostais, a igreja que é o tema desta pesquisa, igreja Cristã Apostólica do Brasil, se enquadra no perfil das igrejas neopentecostais. Esta comunidade religiosa é marcada pela prática de revelações, profecias, visões e curas espirituais, presentes destacadamente na atividade de seu líder.
Entre os anos de 1995 e 1997, este pesquisador já havia tido contato com a prática religiosa do então presbítero Arlen quando ele liderava uma outra igreja no bairro da Vila Prudente, em São Paulo, capital. Quanto à mudança da nomenclatura de pastor para presbítero, ele teria recebido uma revelação divina em meados de 1997 ordenando a troca do seu título de pastor e de todos os componentes de sua equipe pastoral para o título de presbítero e a razão dessa ordem espiritual seria a existência de somente um pastor da igreja, que seria Jesus. Tal revelação teria sido recebida com naturalidade por esta comunidade de fé, pois seu líder apregoava em seu púlpito que aquele era um ministério profético, onde o próprio Espírito de Deus falava por meio de revelações e profecias em vez do homem com sua sabedoria humana.
Nesta igreja, no ano de 1998, foi publicada uma edição de uma revista distribuída entre os fiéis que se chamava Revista Época CITATION ARA09 \l 1046 e que trazia fotos do seu líder estampada nas quatro faces da capa. Também dentre as trinta páginas da revista, treze diziam respeito à vida e ao ministério do Pb. Arlen, com três das matérias lhe dizendo respeito: uma sobre a história de sua vida (Documento histórico Época da Graça), uma sobre a sua visita ao então jogador de futebol conhecido como Palhinha, na Espanha (Pb. Arlen na Espanha) e uma matéria com o testemunho de uma fiel em gratidão ao Pb. Arlen (Obrigado, Pb. Arlen).
A matéria Documento histórico Época da Graça CITATION ARA09 \l 1046 foi uma entrevista concedida pelo Pb. Arlen a um entrevistador não identificado onde é relatado o seu histórico de vida, sempre envolvido com a atividade religiosa, desde os dois anos de idade quando seus pais iniciaram sua carreira cristã em meio a muitas dificuldades. Sua experiência religiosa foi marcada por visões espirituais desde a infância, conforme os trechos dos relatos que foram transcritos a seguir:
Meu chamado profético foi quando eu era ainda muito criança.
Nesta época, sem amigos, sem nada, morava não mais na gruta, mas no meio do mato, numa casa de sapé, um fogão à lenha, chão de terra, onde a jararaca, cobra coral passavam no meio das nossas pernas.No meio da noite a gente acordava com cobra dormindo no canto da cama.
Lembro-me que nesse tempo eu comecei a sentir muita fome e não tinha o que comer, então apareceu um homem todo de branco que começou a brincar comigo e eu com ele. Até aquele momento eu não sabia que era um anjo de Deus, ele me chamou, e eu fui com ele, quando então, ele abriu com a mão o mato e disse:
- Pegue esses ovos.
Havia muitos ovos e eram enormes. De que ave eram até hoje eu não sei. Os ovos eram tão grandes que o anjo teve que me ajudar a carregar. Eu trouxe dúzias de ovos.
Minha mãe não viu o homem de branco, ele tinha desaparecido. Ela me perguntou de onde eu tinha trazido aqueles ovos. Os ovos nos alimentaram por quase uma semana. p.4
A experiência descrita na entrevista concedida pelo Pb. Arlen à revista de sua igreja descreve fenômenos equivalentes a um mito fundante onde o herói em sua fraqueza é agraciado por divindades com favores especiais e é transformado num profeta, ou um tipo de Xamã. Na mesma entrevista são reveladas outras experiências místicas a partir dos seis anos de idade:
Havia também um menino que vinha brincar comigo no meio do mato, ele me chamava para ir com ele e quando ele me puxava para dentro do mato, parávamos num lugar com muitos lagos, era tudo muito lindo e eu brincava naquele lago. Tinha também uma fonte muito bonita e quando eu contava para os meus pais sobre essa fonte ninguém acreditava. Fui entender muitos anos depois, porque eu só tinha seis anos de idade quando tudo isto aconteceu. Comecei a ter visões, e então minha mãe percebeu que alguma coisa vinha do céu. p.4
Arlen e o seu ministério profético aos dez anos:
Aí vieram as profecias que Deus tinha ministério na minha vida. Os anjos também continuavam a conversar comigo, até que um dia o Senhor me batizou com o dom de profecia. Nós estávamos numa sala orando e eu comecei a dar a primeira profecia e ela se cumpriu. Aí eu peguei o sabor do jejum. Com 10 anos eu jejuava de 12 a 24 horas. Eu já amava jejuar porque sabia que Deus respondia e quando eu dormia os anjos vinham conversar em sonhos e visões. p.5
Casos de arrebatamento na infância e na adolescência:
Numa certa ocasião em Santo André, meu pai e minha mãe foram a uma casa que tinha uma igrejinha num quintal e havia muitas crianças. Eu me reuni com aquelas crianças e nós fomos orar. Quando terminou a reunião, os pais estranharam aquele silêncio, aí perceberam que nós estávamos desmaiados – eu não me lembrava se estar desmaiado – minha mãe PE que me contou esta história e os pais batiam no rosto de seus filhos para tentar acordá-los. O que havia acontecido é que um anjo veio e nos arrebatou. O impressionante é que quando despertamos, todas as crianças contavam as mesmas coisas que o anjo havia mostrado. E tudo o que o anjo nos mostrara, se cumpriu. p.7
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Na minha adolescência, houve uma época em que eu andava muito desanimado, pois era só igreja de manhã, de tarde e de noite, não podia fazer nada errado, pois eu era muito fiscalizado e muito cobrado e não agüentando a pressão pensei em desistir de tudo. Fui me deitar e fui arrebatado. Deus me levou num prédio de vidro e de cima eu via a terra podre e o céu escurecia como se fosse chover, deu um trovão tão forte e desceu uma coluna de fogo do céu até a terra e quando desceu esta coluna no meio do trovão eu escutei assim: - Eu sou o Senhor teu Deus.
“Neste ponto da entrevista eu e o Pb. Arlen estávamos de frente para a janela de sua sala, quando houve um raio que cortou o céu de cima a baixo e depois de alguns segundos, um estrondo muito forte de trovão – era como se Deus confirmasse através de um sinal – foi incrível a unção que tomou aquela sala, comecei a chorar.” (relato do entrevistador – anônimo) p.8
As curas divinas, expulsões de demônios e ressurreição:
Entre 15 e 16 anos... nós conhecemos uma senhora chamada Sebastiana que se converteu e eu comecei a pregar em sua casa... paralíticos levantavam, cegos viam e Deus começou a desenvolver meu dom. Chegou a ter 300 pessoas na casa dessa irmã. Os demônios caíam pela janela e por misericórdia de Deus, dava conta de todos... tinha apenas 16 anos, e muitos pastores estavam querendo ficar com aquele ministério. Foi nesse lugar que o vizinho que havia morrido, ressuscitou – e quando o caixão chegou o morto já estava em pé...
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Nós estávamos num culto quando eu ainda estava sozinho sem pastor, aí uma mulher chegou desesperada pedindo para que alguém fosse orar pelo seu pai. Eu fui, só que pensei orar por um doente, mas qual não foi meu espanto quando percebi que as velas estavam acesas, o defunto já estava duro, e o caixão já estava chegando. Era um velho de aproximadamente 70 anos, e quando o vi ali morto, fiquei assustado, me virei para ir embora, quando o Senhor me disse: “Dobra o teu joelho e ora”, dobrei o meu joelho perto do defunto, e falei ao Deus que ressuscitou Lázaro – Faça a obra Deus! Soprei sobre o defunto e disse para a filha daquele homem: - daqui a pouco ele vai levantar. Ela riu, pois aquelas palavras saíam da boca de um moleque. Quando voltei ao culto, começou uma grande gritaria, gente correndo para todos os lados, o caixão entrando, o caixão saindo, aquele homem de 70 anos de idade abriu a porta do quarto e perguntou bravo o que era aquela gente toda na sua casa, e aquele caixão. Enfim depois de dois minutos que eu havia saído, Deus levantara aquele homem. Foi um momento demasiadamente marcante para o meu ministério. p.8
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Os cultos eram lotados. Paralíticos andavam, pessoas vomitavam gilete, cabelo. Quando eu orava, as pessoas viam baratas andando nos cabelos sem existir. Certa vez, entrou uma mulher (parecendo estar grávida) enquanto eu orava, ela expelia uma vela. Tinha sido uma obra de macumbaria. Pessoas vomitando câncer... p.6
A revelação da morte do Deputado Ulisses Guimarães CITATION ARA09 \l 1046 :
Outra revelação que me marcou bastante foi sobre o Ulisses Guimarães. Dias antes da sua morte estávamos na igreja e Deus me trouxe uma visão: Eu via águas e um grande político caindo em uma aeronave nestas águas e morrendo e não se achando o corpo. Cumpriu-se esta profecia poucos dias depois. p.8
A revelação da morte de Ayrton Senna, corredor de Fórmula 1 CITATION ARA09 \l 1046 :
...e de repente o teto veio sobre mim como se fosse uma nuvem, e no meio da nuvem apresentou-se-me uma visão. Eram 2 carros, ao lado dois capacetes de corrida e a palavra morte. Depois eu vi um lugar com árvores, era uma casa ou mansão e dois portões se abriram. Saindo dali dois caixões e um carro fúnebre, com duas prateleiras,um caixão ficou em cima e outro embaixo. Um deles foi enrolado com a bandeira do Brasil e outro com uma outra bandeira. Nisso eu vi uma grande multidão seguindo um carro de corpo de bombeiro indo para um cemitério que na época falei que lembrava o cemitério do Morumbi... Não se passaram dois meses e vinha a acontecer o falecimento do Ayrton Senna. p.8
A matéria intitulada “Pb. Arlen na Espanha” CITATION ARA09 \l 1046 traz o testemunho do jogador de futebol Palhinha, que jogava na época no Real Mallorca, um time espanhol. Nesta matéria estampada com a foto do Palhinha ao lado daquele que ele chamou de “meu conselheiro espiritual”, o jogador afirmou que “Deus fala através do Arlen” e que seu filho André, então com 9 anos, estaria vivo “graças a Deus e através da intervenção do Arlen”, pois teria sido curado de uma grave enfermidade na coluna vertebral conforme o seu conselheiro havia apontado. Palhinha disse não querer que se refiram ao Arlen como bruxo, “porque na realidade ele é uma pessoa que está muito próxima de Deus” e que teria recebido uma revelação do Arlen a respeito da sua contratação por uma equipe européia “de uma ilha e com camisa vermelha” e ele estaria num clube espanhol em conformidade com a revelação recebida.
A matéria intitulada “Obrigado, Pb. Arlen” CITATION ARA09 \l 1046 traz o testemunho de uma fiel chamada Carminha, que teria acompanhado o ministério do Arlen desde quando ele tinha 13 anos, tendo sido ele o responsável pela sua conversão à fé cristã do espiritismo além de ter recebido dele diversas revelações e curas. Carminha afirmou ser testemunha de milagres operados por Deus através do Arlen.
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As características da prática religiosa do ex Presbítero e agora Apóstolo Arlen serão examinadas conforme as considerações já apresentadas sobre a prática religiosa baseada no misticismo, no êxtase e nos bens simbólicos notados na pessoa do mágico xamânico. Poderiam tais características estarem presentes e serem sincréticas a uma prática cristã atual?
Descrições do ambiente religioso e do culto.
Como parte de um dos métodos adotados para a análise do caso estudado, observação participante, este pesquisador esteve presente algumas vezes à Igreja Cristã Apostólica do Brasil, atual igreja do agora apóstolo Arlen Vilcinskas, situada no bairro da Mooca, em São Paulo, capital.
Segue-se uma descrição do espaço físico e dos acontecimentos vistos:
Espaço físico:
O salão de culto da igreja é amplo, com formato retangular, com entrada por um dos lados menores. O púlpito é posicionado ao centro de um dos lados mais compridos, de modo que as fileiras de bancos de madeira se posicionem em direção ao palco, ficando os fiéis focados no dirigente do serviço religioso, que detém toda a atenção durante os cultos.
As paredes ao fundo do palco são verdes e decoradas com elementos simbólicos do judaísmo como um grande candelabro de madeira e um quadro na parede representando o tabernáculo judaico com uma nuvem de fogo sobre ele. Esta decoração comunica religiosidade ao recinto, com suas referências ao judaísmo do Antigo Testamento e às manifestações do poder divino. Não foram identificados os símbolos típicos do cristianismo, como a representação da cruz, do peixe, ou de outras figuras simbólicas que frequentemente adornam igrejas cristãs. Na mesma parede estão afixados dois grandes quadros brancos emoldurados, um em cada extremidade do palco, onde são projetadas, em meio a figuras de campos, montes, ovelhas e céus, as letras dos cânticos entoados além dos avisos às pessoas sobre outras atividades semanais da igreja e os textos bíblicos lidos durante o culto. Posicionado exatamente atrás do púlpito, há um grande espelho com dimensões semelhantes às de uma porta. Do lado oposto ao palco estão algumas colunas na cor roxa e uma plataforma com uma cabine onde um funcionário controla o som dos microfones, os play-backs, as projeções no data-show e faz as gravações das mensagens proferidas nos cultos para serem vendidas a quem se interessar.
Vestuário:
Não existe regulamentação quanto ao tipo de vestimentas que os freqüentadores dos cultos devem trajar, com a excessão do uso de um véu branco com rendas usado pelas mulheres sobre as suas cabeças assim como é usado pelas mulheres da igreja Congregação Cristã no Brasil. Algumas vezes os dirigentes masculinos utilizavam terno e gravata, noutras vezes usavam roupas informais. Também as vestes femininas eram diversas, desde o uso de saia ao uso de calças, tênis e moletons.
Em certa ocasião, já próxima ao final de um dos cultos assistidos por este pesquisador, o apóstolo Arlen ordenou a uma das mulheres presentes no culto que colocasse o véu sobre a cabeça porque este acessório teria um mistério com as mulheres que o usam e portanto esta mulher seria mais abençoada. O texto bíblico que referenda o uso do véu foi projetado no telão em certos momentos dos cultos CITATION ARA09 \l 1046 .
Liturgia:
O culto costuma começar por volta das 19:30h com a oração de um dos pastores que compõem a direção da igreja, onde é pedido a Deus que abençoe o culto e as pessoas presentes, que manifeste o seu poder e que revele a sua palavra profética, trazendo cura, salvação, libertação e prosperidade por meio do seu servo, o apóstolo Arlen.
O salão de culto fica repleto de pessoas, mas não como nos tempos em que o Arlen era o líder religioso da Época da Graça, pois durante todas as reuniões ainda existiam lugares vagos nos bancos – coisa difícil na Época, onde para assegurar assento, as pessoas tinham que chegar com antecedência.
Música:
Após a oração inicial, o serviço religioso passa a ser dirigido por um cantor de músicas com temática religiosa conforme as crenças compartilhadas naquela comunidade, sendo o fundo musical uma gravação tocada por play-backs. Não há um grupo musical ou instrumentistas no palco. Este cantor usava roupas modernas, como camisão listrado e calça jeans e um reluzente brinco na orelha. Ele se movia por toda a área do palco enquanto cantava e em meio às canções ele proferia palavras de encorajamento e de motivação direcionadas à congregação como “... eu profetizo vitória sobre a tua vida...” ou “...hoje é o dia da tua vitória...” intercaladas pela prática da glossolalia e a congregação cantava junto dele.
Notou-se durante os cânticos a liberdade que os fiéis têm de se expressarem corporalmente com o levantar de mãos, o fechar de olhos, o bater palmas e as constantes reações dos fiéis às palavras proferidas pelo cantor em seus gritos de “aleluia!” e “glória a Deus!”. A música e o entusiasmo são usados para “aquecer” a igreja, levando os fiéis à expectativa pelo poder divino que é esperado que se manifeste.
Arlen:
Terminada a parte das músicas, sobe ao palco para assumir a condução dos serviços religiosos o líder da igreja, apóstolo Arlen Vilcinskas, com uma saudação à congregação onde se roga a graça e a paz do Senhor sobre todos. A esperada manifestação do profeta precede a manifestação dos poderes divinos que são por ele mediados.
Até aqui a descrição se refere ao esquema padrão adotado no serviço religioso, cuja estrutura é sempre muito parecida nas partes do culto. Após as etapas descritas, o apóstolo Arlen assume a condução do culto com alguns avisos, com o ofertório, com a ministração da palavra revelada, a entrega de revelações e profecias, as curas, as orações e por fim entrega seu microfone a um dos pastores auxiliares para este fazer o encerramento do culto. O Arlen sempre se retira da igreja antes do término do culto acompanhado por assistentes e seguranças.
Introdução à mensagem (retomada de revelações anteriores):
Seguem as descrições do modo como o ap. Arlen conduziu a pregação da palavra revelada no culto de 2 de novembro de 2010:
Assim que assumiu a palavra, o ap. Arlen mencionou um registro bíblico CITATION ARA09 \l 1046 em que Deus, irado com seu povo, enviaria um anjo para conduzi-lo em seu lugar. A ousadia de Moisés, elogiada pelo Arlen, residia em sua recusa do anjo, pois ele desejava a presença do Senhor, e a declaração do Arlen à sua congregação foi: “Pode nos faltar tudo, não a presença de Deus”.
Em seguida, o ap. Arlen mencionou um incômodo com um espírito de engano e de encantamento no meio do povo de Deus, e por isso ele teria se sentido chamado por Deus à oração, e deveria estar acompanhado pelas irmãs de oração. Em seu retiro, ele teria tido uma visão (que já teria sido compartilhada com a igreja numa outra ocasião), de olhos abertos, o que seria diferente de uma revelação:
“Vi o mar e uma cidade, acho que era o Rio de Janeiro, e no ar do Brasil via-se uma enorme bandeira brasileira... quem está lembrando disso? Levanta a mão, por favor...
Não via o teto, eu via aquilo e onde tem o globo azul, uma estrela saía e vinha para fora para colocar-se sobre Brasília. Esta estrela, ao contrário das demais, azuis, era vermelha. Mas Senhor, o que significa isso?
A bandeira é recolhida como um lençol e Deus mostrou um telefone a e um palmo acima dele havia a letra D. A irmã Noemia deduziu que se tratava da Dilma e Deus disse ela ganharia a eleição. Era início de pesquisa e a coisa estava feia para o lado dela. Outros diziam que ela não tem chance porque o Serra seria favorito...”
Aqui termina a descrição da visão e o ap. Arlen comenta a aliança evangélica feita em torno do candidato à presidência José Serra, que teria sido confirmada por profecias de outros líderes evangélicos acerca da sua vitória, contrariando a sua visão sobre a vitória da candidata Dilma (o ap. Arlen coloca-se como pequenino entre tubarões):
“Causa estranheza os grandes líderes evangélicos em horário eleitoral dizendo: se você é evangélico vote no 45... não estou falando contra o Serra mas contra o ocorrido. Silas Malafaia fez isso e a igreja Mundial se aliançou à Assembléia de Deus e lá foi profetizado que o Serra ganharia. Tive dor de barriga, pois sou pequenininho e esses tubarão estão falando... Mas Deus disse (ao Arlen) que foi Ele quem falou.”
O ap. Arlen teria ligado para Brasília e teria falado com a segunda assessora da então candidata à presidência, Dilma Roussef. A atendente teria gravado o telefonema para segurança do pastor e dela. Ele teria dito que não está incluído com esses evangélicos aliançados com o candidato José Serra e que Deus teria dito que a Dilma ganharia as eleições no 2º turno.
“Está chegando o dia em que se cumprirá o que Deus disse: Meu servo, vou te levar diante de reis e presidentes para profetizar às nações.”
A Dilma teria dito que quer saber quem é este Arlen (em resposta ao contato feito com sua assessora).
“Quando o encontro ocorrer vocês vão saber. Não vou entrar na política mas vou falar o que Deus mandar falar para que se saiba que existe profeta no Brasil. Aí pergunto como ficam essas profecias... Deus mandou falar...(ironia com as profecias feitas por outros líderes evangélicos) fico impressionado com isso...”
Apontamento para duas profecias que deveriam se cumprir em 2010:
“Faltam duas profecias para cumprir este ano: vão encontrar mais uma bacia de petróleo maior que o pré sal e a outra é a vitória da Dilma. Não estou me gloriando, mas dando glória ao Senhor porque cumpre a sua palavra.”
Provável interpretação da 2ª parte da visão sobre a vitória de Dilma Roussef:
“Telefone preto e letra D preta... minha concepção humana: preto significa luto. Não sei o que vai acontecer, vamos orar por ela para que não haja corrupção e que a profecia se cumpra. Eu prego isso desde o outro ministério: Atos um, oito! Coloquem-se em pé, não brinco com Deus!”
Com o relato desta visão espiritual, o apóstolo Arlen procurou destacar-se do cenário atual da liderança evangélica nacional, sugerindo a fidelidade de seu ministério à direção divina em contraste com os demais. Sua comunidade reagiu glorificando a Deus.
Ao terminar o relato desta visão profética, o Arlen conclamou a sua igreja à oração pelo Chile afirmando que aquele país seria muito abençoado por Deus. Fez menção ao recente resgate dos mineradores que foram soterrados CITATION ARA09 \l 1046 , o que seria uma provação divina, e solicitou a uma pessoa da igreja que trouxesse uma bandeira do Chile para ser colocada no palco.
Coleta:
A partir daí foi feita a coleta de dízimos e ofertas, ocasião em que o Arlen fica sobre o palco segurando um cesto de vime, encurvado em direção à congregação e as pessoas saindo dos seus lugares, vão até a presença do seu líder espiritual para depositar no cesto a sua contribuição, recebendo em troca um simpático sorriso.
Pregação (palavra revelada):
Após a coleta, que foi encerrada com uma oração feita pelo Arlen, ele deu início à exposição de sua mensagem que é revelada. Nem mesmo ele sabe o que será dito, pois a mensagem vem da ministração do Espírito divino que usa a boca do pregador, como ele mesmo mencionou em meio à mensagem: “Não sei por quê estou dizendo isso. Não sei nem o que eu prego... Deus toma a minha boca aqui...”
Assim, o pregador tem um caráter passivo na explanação da mensagem e o Espírito de Deus tem um caráter ativo e espera-se que Ele se manifeste, cabendo à igreja cumprir com certos requisitos para que isso aconteça, destacando-se a glorificação a Deus. Para exemplificar essa dinâmica, durante a pregação do dia dois de novembro o ap. Arlen exclamou logo no início da mensagem: “Quem crê dá gloria a Deus! Ô povo esquisito!” e alguns minutos depois: “Senhor usa minha boca porque a igreja está sem glória hoje, hein! Vocês pensam que é fácil pregar sem glória? É difícil...” Para alcançar o êxito no alcance da revelação o estímulo recebido da congregação com seus gritos de glória a Deus e aleluia parece ser um fator determinante, assim como a consagração do pregador a Deus por meio de orações e jejuns. Assim, tudo é possível e imprevisível no transcorrer da mensagem, o próprio Deus fala e quando Ele o faz, o pregador está no Espírito e por isso não poderá ser responsabilizado pelo que diz. Ele é, naquele momento, apenas um instrumento com vontades subordinadas à manifestação das vontades divinas apesar de manter a sua consciência e de ter este estado extático subordinado à sua vontade, ou seja, o Espírito o envolve, despertando-lhe certos sentidos mas não anula a sua humanidade que pode, quando o pregador quiser, fazer cessar este êxtase. O pregador não está possuído, ele está envolvido em poderes celestiais.
O ap. Arlen sabe apenas qual texto bíblico será usado para a mensagem, e que servirá aos desdobramentos da mensagem que será dirigida pelo Espírito, mas ele desconhece quais serão esses desdobramentos e por isso a mensagem é uma revelação, uma mensagem profética com efeitos imediatos e dirigidos às pessoas presentes no culto, podendo também referir-se a categorias que excedem o ambiente interno do culto ou das pessoas presentes, como nos casos já citados da candidatura de Dilma Roussef entre outros.
A mensagem partiu da leitura do texto bíblico em que Jesus envia os seus discípulos à sua missão lhes conferindo poder para a sua realização CITATION ARA09 \l 1046 e no começo da explanação de sua mensagem naquele dia de finados, o ap. Arlen enfatizou o poder de influência espiritual que todos sofremos, podendo tal influência proceder de trabalhos espirituais como a macumba e a bruxaria além da carga espiritual recebida em conseqüência dos atos sexuais, incluindo o ato sexual que resulta na concepção, porque neste exato momento ocorre a combinação dos fluídos de duas pessoas diferentes, com suas influências e cargas espirituais, tanto boas como más, que se fundem e são transmitidas à nova pessoa que está começando a se formar no ventre da mãe. Assim, as pessoas seriam de tal modo influenciadas pelos atos sexuais que não seriam capazes de se conduzirem livremente, como gostariam de fazer, por causa das heranças espirituais recebidas, e para confirmar isso o Arlen mencionou uma fala do apóstolo Paulo sobre a luta interior constante CITATION ARA09 \l 1046 , entre o desejo de se fazer o bem em contraste com a prática do mal recorrente além de apresentar uma interpretação polêmica sobre o relato bíblico CITATION ARA09 \l 1046 da maldição de Cão por seu pai Noé: Cão teria tido relações sexuais (o termo correto seria, segundo ele, estupro no hebraico praticado no tempo de Moisés) com seu pai quando este estava embriagado e as cidades geradas pela descendência de Cão, Sodoma e Gomorra, teriam sido destruídas não porque reproduziram a prática sexual de Cão, mas porque sacrificavam seus filhos aos deuses.
Segundo estas revelações que relacionam a sexualidade às influências espirituais, a vida estaria no sêmen e os abortos seriam praticados não somente após a concepção, mas também com a eliminação do esperma, sendo este último um tipo de aborto comum e aceitável somente na polução noturna. O ap. Arlen trouxe à tona, então, uma nova revelação à sua comunidade, a de que todos somos santificados ou profanados pelo ato sexual, e esta revelação seria esclarecedora e libertadora para as pessoas presentes naquele culto, pois a partir dali muitos relacionamentos seriam libertos de maldições adquiridas em atos sexuais passados ou até mesmo do ato sexual praticado pelos pais em sua concepção. Naquele culto as pessoas presentes estariam recebendo poder para se libertarem das maldições resultantes dos atos sexuais profanados e para, através dos atos sexuais com seus cônjuges, os santificarem sem receberem deles possíveis influências danosas.
Segundo o Arlen, a libertação operada por Deus é feita constantemente, à medida em que as revelações são feitas nas ministrações da palavra revelada. Ele nunca sabe o que pregará, pois a mensagem de Deus é revelada ao seu povo por meio do seu profeta na medida em que é pronunciada.
Visões, revelações, profecias e curas:
Terminada a mensagem o ap. Arlen deu início à sessão de entrega de revelações e de profecias que ele teria recebido de Deus no decorrer do culto, momento em que ocorrem também diversas curas milaculosas. Seguem as transcrições de suas revelações, profecias e curas:
Convocação à fé:
“Se você acredita em milagres, você que está aqui, o que fez esta genética te fazer cego, Deus vai te curar, mas você tem que acreditar. Você condenado com câncer, a sentença da palavra... porque Deus tem uma história na fecundação da tua vida, nos teus genes (glossolalia)... você que deseja libertação completa, coloque-se em pé. Eu, Deus e a tua fé. Levante a mão para depois da oração colocá-la sobre a enfermidade para a cura. Você vai orar, curve a fronte e nós vamos orar. Pode haver manifestações e daqui por diante o único espírito a se manifestar é o Espírito Santo.”
Oração feita por Arlen:
“Querido Deus, querido Pai, Deus de Abraão, Deus de Isaque, Deus de Jacó... eu Arlen Vilcinksas, teu servo com meus joelhos dobrados em tua presença Senhor, ergo a minha voz para interceder por este povo aqui...”
A parcela da oração direcionada a Deus está transcrita acima e nela, o ap. Arlen se coloca nominalmente ao lado dos patriarcas do judaísmo, pois ele também seria uma autoridade perante os homens, com quem Deus se relaciona de forma especial. A oração continua, mas ela passa a ser dirigida não mais a Deus, mas às doenças e aos demônios que causam o sofrimento das pessoas congregadas naquele lugar. Na oração são proferidas ordens a diversos espíritos seguidas sempre pela expressão em nome de Jesus. Também são dadas ordens a várias doenças seguidas pela mesma expressão. Assim, a expressão em nome de Jesus assume um caráter de autoridade no tratamento às mazelas, é um termo que define sentenças proferidas contra o mal, uma expressão mágica que deve ser acionada para a conquista de alguma vitória diante dos inimigos e não é uma expressão de referência que aponta para o mediador na relação humana com Deus.
Com o término da oração as revelações são transmitidas à igreja, enquanto o ap. Arlen anda pela igreja apontando para certas pessoas a fim de dizer-lhes revelações específicas, além de orar por alguns por cura e por libertação. Os efeitos são claramente percebidos.
Nos relatos registrados a seguir, o ap. Arlen está andando entre as pessoas enquanto serve como instrumento de interação entre realidades espirituais e físicas:
Um colar vermelho e os demônios:
“Entre nós, Deus está mostrando uma pessoa portadora de um colar vermelho... não sei se está no pescoço ou no carro, só estou vendo o colar, tem 2 demônios. Enquanto estou falando eu vi um espírito com cavanhaque olhando feio para mim. Glória a Deus, porque hoje vai cair a sentença dele. Ele disse que sou sete encruzilhadas, mas quem criou as encruzilhadas foi meu Deus e ela não é sua. Você vai sair agora em nome de Jesus!
Tem uma pessoa que incorporava um índio, caboclo e por isso as coisas para você estão amarradas, vai sair hoje!”
O grito contido:
“A igreja vai fazer silêncio, tem uma pessoa entre nós que está se segurando para gritar. Pode se soltar porque esse demônio vai sair. Demônio, pode receber a ordem em nome de Jesus, Agoraaaa! Em nome de Jesus Cristo Nazareno, deixa essa mulher, deixa essa casa agoraaaa! Igreja fica em comunhão...”
4 anjos:
“Tem quatro anjos fazendo a limpeza aqui, agora é uma hora forte irmãos, o Senhor está fazendo passeando irmãos, aleluia! Glória a Deus... tem muitos espíritos saindo de quartos, de camas, de filhos de documentos... igreja, se liga em comunhão porque esses quatro varões desceram aqui para fazer guerra para libertar a sua vida de uma vez! Tem uma mulher que ficou cega (ele vai ate uma mulher e ora por ela). Fica em comunhão igreja...” (silêncio)
Uma cura de cegueira:
“Tá normal, tá limpo, oh Deus... na hora que eu fui orar tinha uma pele branca, agora tá limpo.” Só o Senhor e Deus! (igreja responde três vezes: “Só o Senhor e Deus!”).
Documentos e o tempo de Deus:
“Quem trouxe fotos, documentos... irmão, se você se desesperar Deus vai fazer a obra. Se você ficar tranquilo, Deus também vai fazer a mesma obra! Só que Ele manda dizer: não é nenhum dia a mais, nenhum dia a menos, é na minha agenda. Então, o que é melhor?
Con-fi-ar.”
Um exorcismo:
“Tem uma mulher que se sentiu muito mal na oração, levante a mão por favor. Vem aqui meu amor... (oração). VAI EMBORA! Pai cura este mulher agora, dá um coração novo... sai! Demônio aqui não faz bagunça não! Deus está fazendo, você nem imagina irmão.
Deus curou uma cega ali irmão, e nem precisou fazer espetáculo, trazer aqui em cima mostrar..”.
A interrupção de um grito e outro exorcismo:
“AAAAHHHHH!! “(grito)
“Eu não falei que ele ia gritar? Ó ele gritando ai gente! Eeeta esse demônio não tá agüentando a presença de Deus! Pode ir gritando aí demônio, vai sair pelo grito mesmo! Pode ir saindo agora em nome de Jesus. Vai saindo da vida dela hoje, vai saindo da vida dela hoje... ó como ele manifesta irmão, igualzinho em terreiro, pode soltar, ele não vai cair não. Ele é manco de uma perna, anda para este povo te ver. Olha como ele se manifesta, esse Caboclo aqui. Levanta a mão Igreja, fala em nome de Jesus... demônio... saia dessa mulher! O que eu falei, esse demônio ia gritar aqui hoje gente? Vamos aplaudir o Senhor, demônio aqui não resiste ao poder de Deus!” (aplausos)
A libertação e a cura do mal de chagas:
“E essa mulher, senta e ora com ela. Ela não conseguia falar, porque estava fraquinha com doença de chagas. Olha o grito que deu e o coração desinchou. Diga: só o Senhor é Deus!” (igreja: “só o Senhor é Deus!”)
Exortação sobre a visão do colar vermelho:
“Agora é com você, eu vi um colar com pontas vermelhas, uma miçanga e se você for com isso, se guardar isso até o final do culto, continue com isso porque tem um espírito de morte nisso aí. Eu queria muito que recebesse oração. Falaram: isso é bom para mim, não você, foi enganado. Esta pessoa está aqui, Deus está me falando e eu vi direitinho esse colar. Quer benção ou quer maldição?
Curve a fronte igreja. Não adianta no final do culto entregar, falar: ah fui eu mas não quis falar... irmão, se fosse comigo eu falava: sou eu... eu pensei que seria bom para mim... tô liberto. Que senão o negócio vai ficar feio na tua casa. É você e Deus agora... é você e Deus agora... eu vou pôr os obreiros aqui espalhados.,Tá com vergonha? Fala com um deles. Você não precisa vir aqui na frente não. Procura um deles. É libertação, eu vou abrir essa porta, mas ninguém vai sair daqui da forma que entrou aqui não porque meu Deus vai fazer maravilha.”
Portas de emprego abertas:
“Olha a novidade, 72 portas de emprego abertas! Nestes 23 dias, 72 e ó que é boooa!”
Uma família específica:
“Deus me traz um sobrenome, chamado família Ferreira. Quem que tem esse sobrenome aqui. Vem aqui. É família Ferreira, é uma benção muito grande chegando para essa família. Vem aqui... traz a família aqui, família Ferreira.
Pai libert...(choro de mulher) hoje eu ponho fim à tua prova mulher! (profecia) olha o meu anjo chegando! (glossolalia) A boca do leão vai ser fechada e até o teu companheiro vai pregar atrás da minha tribunaaa!! O renovo tá chegando até o final desse ano irmão! (voz da mulher glorificando a Deus em meio ao choro) Põe a mão sobre essas pessoas aqui... (voz da mulher: “tá doendo”) Claro que a cabeça tá doendo, é livramento de morte!”
A dona do colar vermelho:
“Irmãos, com permissão, com muita humildade esta irmã está aqui, a miçanga é dela, e ela vai trazer domingo porque ela quer libertação na vida dela. Ela vai trazer domingo e eu vou dar uma bíblia linda para ela. (a mulher diz: eu ia comprar uma bíblia)
Oi? Ela falou que ia comprar uma bíblia? Não compra porque você já ganhou. Você me dá aquela miçanga do Diabo para mim e eu dou uma bíblia para você! Quero ver o Ogum, o que ele vai fazer... ototututu...” (zombaria)
Visão de amuleto japonês:
“Ah como eu não gosto disso Papai... tem uma pessoa entre nós, eu não sei se... me parece que é no carro, é um tipo de patuá mas é uma coisa meio japonesa, é meio japonês o negocio, nem sei como chama aquilo ali, a pessoa portadora disso livre-se. Se o deus do Japão fosse bom aquilo não tava tremendo toda hora. Livre-se disso, não fique no seu carro, não fique na carteira, não fique na bolsa, não fique no escritório. Quer uma bíblia melhor? Eu faço a troca com você. Deus é fiel. O tempo estourou.”
Cura de 2 mulheres estéreis:
“Tá acontecendo cura em ovário, trompa, útero... 2 mulheres, 1 já desistiu de tratamento porque não engravida. O Senhor diz que em menos de 30 dias a semente vai estar em teu ventre e a outra atá o final do ano. Glorifica ao Senhor, não precisa tomar esse remédio não! O Senhor está abrindo a tua madre e 1 delas vai ter gêmeos! Oh glória a Deus! Deus é fiel” (glossolalia).
Visão de um número:
“Eu não sei se é apartamento, escritório... Deus me mostrou o nº 171, então e Senhor está indo ao encontro... Que esse número significa para você? Tua casa? Tá preto o negócio lá. O Diabo quer entrar com falência. O irmão crê que hoje esse demônio vai sair de lá? Ó, vai chegar o tempo em que essa loja vai ser vendida e o Senhor vai dar um outro negócio para você!
Digam Deus é fieeeel!”
Documentos:
“Quantos aqui, problemas com contrato de moradia, documento de moradia, apartamento ou casa? Levante a mão, coloque no coração. Senhor eu me aproprio desta propriedade agora neste ano! Receba em nome de Jesus!”
Expectativa para o próximo encontro:
“Me perdoe por segurá-los aqui. Hoje eu estou no levinho, porque 3ª feira o negócio vai esquentar aqui. Eu vou ver Deus curar, demônio sair e a igreja vai o-rar.”
Oração de agradecimento:
Levanta a sua mão para o céu (oração de agradecimento pelas portas abertas pela visão de cega, belas bênçãos e libertação). Aplausos ao Senhor.
“Me perdoem por segurar vocês aqui, prometo iniciar o trabalho de libertação mais cedo, porque às vezes o Senhor quer revelar nomes e situações e eu preciso de tempo para isso e eu não estou aqui para brincar irmão. Deus é fiel.”
O irmão de azul:
“Ô irmão listrado azul, Deus vai fazer um caminho para você! O irmão tá toreando uma situação há meses... uhuhuh.. Deus diz: eu estou abrindo um caminho novo para você... levanta a tua mão e receba em nome de Jesus.”
Sinais na madrugada:
“Se alguém acordar de madrugada com cólica para fazer xixi ou outra coisa e ver sangue, ver limbo ou qualquer sujeira, não se preocupe porque na hora da cura, irmãos, Deus fez a obra.”
R$ 5.000,00:
“Eu soube aqui, apenas a companheira está aqui e a outra pessoa não está, acho que foi na 3ª feira que Deus falou a palavra que ia pôr 5 mil reais na conta de alguém... foi. Essa pessoa, segundo o que eu ouvi ali, ela mesma vai dar o testemunho, foi 3ª feira passada... na 4ª feira, ela tinha que pagar uma conta de 3 mil e poucos reais, eu sei que dava quase 4 mil reais. Para ela era muito dinheiro. Quando ela foi puxar o extrato, desesperada, tinham depositado em dinheiro 5 mil reais.”
(igreja: “glória a Deus!”)
“Aí ela falou: eu vou falar com o gerente, ela inglória... lembra o que eu falei: fique quieta! Pagou a divida... com aquele dinheiro que Deus, Deus pôs na conta dela. Sabe como Deus pode fazer isso irmão? Pega gente que tem, faz errar a conta e mandar para quem não tem.Trouxa é o crente que vai falar com o gerente... hã! Eu fico é quietinho! A bênção é minha... Deus não falou que vai tirar do que tem para dar para quem não tem? Quem quer essa bênção aqui? 3ª feira comigo aqui e domingo, cenáculo com Santa Ceia! Oh glória a Deus! Aleluia.”
Em seguida, o apóstolo Arlen desceu de seu púlpito rodeado por auxiliares e se ausentou apressadamente da Igreja pela porta da frente enquanto um pastor assistente fez o encerramento do culto com uma oração rogando a bênção de Deus. Pronunciou também a bênção apostólica.
2ª visita à Igreja Cristã Apostólica do Brasil:
No dia 5 de abril de 2011, este pesquisador retornou à Igreja Cristã Apostólica do Brasil num de seus cultos, tendo chegado por volta das 20h 40 min. – o culto já estava acontecendo e não presenciei a parte dos cânticos, tendo chegado no momento em que começou a pregação.
A igreja estava em reforma, seus adornos na região do palco tinham sido removidos, havia material de alvenaria empilhado no fundo e na lateral do salão de culto e a cabine de controle do som tinha sido mudada para acima das portas da entrada.
Nesta noite um outro pregador trouxe a mensagem, tendo falado a maior parte do tempo sobre a sua experiência religiosa e do modo como Deus o teria chamado do Nordeste para São Paulo. A sua fala, sempre aos gritos, era intercalada pela prática da glossolalia.
Terminada a pregação, o apóstolo Arlen assumiu a palavra em seu púlpito para iniciar a parte das revelações. Foram poucas nesta noite. Ele afirmou ter visto um bonito cavalo branco cavalgando pela congregação, que fazia referência à vitória do Cordeiro na vida dos crentes. Também fez nova coleta, pois disse que não aceitaria comprar os materiais para a reforma a prazo, pois a igreja poderia fazer isso à vista e incentivou às pessoas a contribuírem com o que pudessem, mesmo que com poucas moedas e disse que o que pode ser considerado pouco aos nossos olhos pode ser muito valorizado por Deus por causa da fé. Após a coleta e uma oração, o Arlen se retirou do culto apressadamente pela entrada principal cercado por sua equipe de seguranças. Um outro pastor terminou o culto com uma oração e a bênção apostólica.
Os cultos proféticos da Época da Graça.
Entre os anos de 1995 e 1997 este pesquisador teve contato com a igreja liderada pelo então pb. Arlen Vilcinskas, um homem dotado de notável carisma, percebido na sua maneira de pregar e nas manifestações consideradas espirituais pelos fiéis que frequantavam os cultos, que ficavam sempre lotados, tanto nas terças-feiras como nos domingos, pois nos cultos destes dias o dirigente era, de costume, o pb. Arlen.
Tamanha era a aglomeração de pessoas que o já amplo salão de culto não comportava as pessoas que se apertavam nos corredores, na calçada e no palco. Este último era tomado por cadeiras improvisadas e ocupadas por personalidades da televisão, jogadores de futebol e empresários com suas respectivas famílias.
Os freqüentadores da Época da Graça eram admiradores dos chamados dons e da capacidade espiritual do pastor Arlen, pois este, à medida em que discorria em sua exposição de textos da Bíblia, tinha revelações e visões espirituais diversas. Teria previsto as mortes do Deputado Ulisses Guimarães e do corredor de Fórmula 1 Ayrton Senna. Era costume nos cultos ele ter visões e revelações sobre muitas das pessoas presentes, como problemas familiares, questões financeiras, doenças, envolvimento espiritual com bruxaria, etc. Ele apontava de seu púlpito para diversas pessoas, revelando-lhes suas necessidades, também profetizava e realizava curas miraculosas. Muitas vezes, nestes momentos em que o pb. Arlen dizia as revelações e profecias, ele o fazia andando em meio à igreja, saltando entre os bancos, abrindo espaço com dificuldades por causa da lotação de pessoas a fim de chegar à pessoa específica para lhe entregar o recado do Senhor. Era comum, enquanto ele fazia isso, ser tomado por um transe espiritual em que rodopiava, sapateava e praticava a glossolalia. Este transe espiritual era chamado de entrar no mistério e normalmente outras pessoas também entravam no mistério simultaneamente ou após o pastor Arlen.
Os cultos na Época da Graça dificilmente duravam menos de 3 horas. Começava com outros pastores ou presbíteros que oravam, faziam alguma leitura bíblica e faziam a coleta de dízimos e de ofertas e eram intercalados por apresentações de cantores de músicas com temas bíblicos e ênfase na temática pentecostal, priorizando sempre os temas do batismo no Espírito Santo e o ser preenchido, conduzido e usado pelo Espírito; ou temas de lutas e vitórias. Também havia alguns cânticos entoados pelo coral e orquestra locais e cânticos congregacionais do Cantor Cristão da igreja Batista. O pastor Arlen sempre chegava ao púlpito discretamente por uma entrada lateral cerca de 1 hora depois de o culto ter começado. Sua entrada no púlpito, por mais discreta que fosse, era sempre percebida por todos, pois o profeta havia, enfim, chegado.
Normalmente o pastor Arlen não ia direto para a pregação da Bíblia. Antes ele puxava mais um período de cânticos, ou do Cantor Cristão, ou com os levitas com seus play-backs, ou os corinhos de fogo. Esses últimos, quando cantados na igreja, acabavam por promover um êxtase coletivo, pois muitas pessoas entravam no mistério, rodopiando no “Espírito”, sapateando (os chamados sapatos de fogo) e falando em línguas estranhas. Era assim que o fogo caía. Esta prévia da pregação tinha por objetivo fazer com que todos entrassem no Espírito, pois a mensagem nunca era planejada anteriormente, era necessariamente revelada. Não eram raras as vezes em que o pastor Arlen abria aleatóriamente a Bíblia em seu púlpito após uma oração que antecedia a mensagem. No ministério do pastor Arlen Deus falava com a sua igreja por meio de revelação e, por isso, a visão deste pastor sobre teologia era de recusa, como ele afirmou certa vez: “não se estuda a Deus como se ele fosse um rato de laboratório...”
O fogo cair era uma expressão comum no ambiente pentecostal, pois se refere às manifestações do poder do Espírito Santo em meio aos crentes comprometidos, com dedicação à oração e ao jejum, os chamados crentes do estreito – pessoas que negligenciam a carne para viverem no Espírito CITATION ARA09 \l 1046 . Normalmente o fogo caía nos momentos em que no culto eram feitas orações coletivas e fervorosas; quando eram bradados várias e consecutivas CITATION ARA09 \l 1046 vezes os gritos de “glória a Deus” e “aleluia” – estes eram considerados os combustíveis para o fogo, como costumava dizer o pb. Arlen: “é no glória que o fogo desce!” O fogo costumava cair também quando eram entoados os corinhos de fogo, como era cantado num dos refrões dos corinhos de fogo: ...é glória que sobe, é glória que desce e no poder a igreja estremece...” sempre com o acompanhamento de pandeiros CITATION ARA09 \l 1046 e palmas, num ritmo semelhante ao ritmo das canções e batuques nos cultos afro-brasileiros; ou quando, na progressão da pregação o êxtase que tomava o pregador contagiava o restante da congregação – neste caso o êxtase era coletivo CITATION ARA09 \l 1046 , muitas pessoas falavam em línguas e entravam no mistério ao mesmo tempo em que eram manifestadas as revelações e as profecias pelo pb. Arlen e às vezes também por outras pessoas. Este momento do culto, em que o fogo caía, ao lado do momento da palavra revelada, era quando o Espírito descia, os anjos passeavam em meio às pessoas trazendo ministrações, presentes, rolos, dons e mistérios. Este era o clímax do culto, pois acreditava-se estar diante da manifestação do sobrenatural divino e suas evidências eram bastante convincentes, pois muitas curas de fato aconteciam, as revelações e profecias eram muito específicas e precisas e as sensações sentidas no êxtase faziam as pessoas acreditarem que estavam mais próximas da glória de Deus.
O clímax do culto acontecia durante a mensagem do pastor Arlen e esta parte do culto durava cerca de uma hora. No final da mensagem, o pastor Arlen ficava fisicamente abatido, suado, muito cansado. Ele afirmava que o rolo estava se enrolando para ser levado novamente ao céu, ou seja, a revelação chegara ao final e era este o momento de parar – até ali era o Espírito falando, dali em diante seria a carne e, por isso, este era o fim da mensagem. Da mesma forma com que ele costumava entrar no púlpito ele também saía, amparado por auxiliares e seguranças, antes do término do culto, que era finalizado por sua equipe pastoral de apoio.
Manutenção do poder.
Este pesquisador pôde constatar que a prática religiosa nas comunidades lideradas pelo pastor/ apóstolo Arlen é norteada pela experiência religiosa de seu líder, que é marcada por revelações e visões de um universo espiritual desconhecido, misterioso e por atribuições de poderio mágico a diversos símbolos e objetos religiosos. O líder é um intermediário entre o mundo material onde os fiéis estão situados e o mundo místico em que somente o apóstolo Arlen transita com segurança e credibilidade. Ele, enquanto desvenda o mistério na revelação da palavra, tem acesso a segredos que são progressivamente revelados e tais revelações podem ser para toda a congregação, ou específica para indivíduos. Podem também, se referirem ao presente, ao passado ou ao futuro.
Por causa das experiências místicas e espirituais não raramente são vistos anjos e outros tipos de seres ou representações espirituais ministrando à congregação e esta é a razão do uso do véu por parte das mulheres consideradas espirituais, pois as hierarquias e os papéis das personagens neste ambiente de interação mística, que se torna sagrado devem ser mantidas, os poderes sobrenaturais estão se revelando, devem ser respeitados e as posições das personagens que compões este cenário devem ser delimitadas a fim de que a ordem seja mantida nessa interação entre os mundos físico e espiritual. Por esta razão é dada importância aos objetos mágicos, aos amuletos mesmo que de outras formas de espiritualidade ou religião, pois o apóstolo tem os dons divinos para interagir entre os mundos físico e espiritual e nesse trânsito as outras formas de interação entre esses mundos são tidos como legítimos, pois têm efeitos na influência espiritual para o bem ou para o mal das pessoas, que vivem expostas às diversas manifestações do sobrenatural em suas diversas formas de tensões. O apóstolo Arlen assume o papel de uma espécie de intermediário entre o mundo dos homens e os poderes dos céus.
São retomados na pratica religiosa desta comunidade, por causa do ministério do seu líder, o uso dos símbolos religiosos judaicos porque eles representam realidades que são ali cridas e vivenciadas. No tabernáculo judaico existem etapas CITATION ARA09 \l 1046 a serem superadas para a aproximação do sagrado, para adentrar o lugar santíssimo, e assim, o alcance do sagrado com seus segredos, mistérios e prêmios só pode ser feito por quem evidencia capacidades elevadas, vistas numa santidade pessoal que é comprovada nos poderes sobrenaturais dados pelo próprio Deus ao seu servo. Da mesma forma as tábuas da Lei estão bem guardadas dentro da arca, e quem a tocar indevidamente será morto CITATION ARA09 \l 1046 , só podendo tocá-la quem for dotado de uma dignidade superior para então ter acesso aos seus segredos. Assim como os segredos sagrados somente são revelados àqueles que evidenciam méritos elevados e um alto grau de identificação com o sagrado por meio de uma santidade conquistada e notada em poderes sobrenaturais evidentes e que funcionam como uma espécie de credencial, de autenticação, o apóstolo Arlen corresponde a este tipo de herói que transita no lugar santíssimo como uma pessoa comum não poderia fazer por causa de sua indignidade e é alguém que traz as revelações dos tesouros escondidos da divindade para compartilhá-los com os seus ouvintes dos poderes que experimenta. Vê-se o sobrenatural agindo, as revelações, as profecias e as curas. Deus e seus anjos estão em meio à congregação e o ministério do seu profeta funciona como um elo entre dois mundos distintos.
As leituras que o apóstolo Arlen faz dos textos bíblicos e dos detalhes que o compõem normalmente são diferentes das leituras e interpretações feitas numa igreja cristã tradicional. Como no caso registrado acima, o texto lido CITATION ARA09 \l 1046 no culto de 2 de novembro de 2010 trata da missão dada por Jesus aos seus discípulos e do poder que eles receberiam para cumpri-la e normalmente seria esta a interpretação feita por um pregador cristão. Contudo, o apóstolo Arlen viu no texto questões de sexualidade, da concepção, do aborto e da hereditariedade de influências espirituais, questões que não estão descritas no texto em si. Os textos são, no ministério do apóstolo Arlen, um pretexto para revelações e funcionam como a abertura de uma porta de onde virão as revelações de mistérios ocultos da divindade e que, não necessariamente, estarão estritamente relacionadas ao texto. A exposição da palavra, em seu ministério, é por meio de revelações e por isso parte do desconhecido, até mesmo para ele.
Mas, ao passo que a revelação se evidencia gradativamente no desenrolar do rolo dado pelos anjos no culto, somente o Arlen possui os dons necessários para desenrolá-lo e decifrá-lo fielmente à igreja, e esses dons teriam se manifestado em sua vida ainda na infância. Seu poder é inato e incomunicável.
Capítulo 3 – A experiência religiosa e o ensino bíblico.
Sendo ainda um freqüentador da Época da Graça, este pesquisador constatou divergências entre o ensino bíblico neotestamentário acerca do culto cristão e dos dons espirituais e a forma como eram praticados os cultos naquela igreja.
Diferente do que era praticado na Época, a instrução bíblica sobre os cultos e as evidências dos dons apontava para a ordem e a racionalidade 1. No máximo duas ou três pessoas deveriam falar em línguas estranhas, com a necessidade de intérprete a fim de que houvesse compreensão pelos ouvintes daquilo que era dito. Na falta de interpretação, as línguas estranhas deveriam dar lugar ao silêncio. Também o culto deveria ser dirigido a Deus 2 e nunca a outros seres espirituais.
Na Época a glossolalia era praticada desordenadamente por incontáveis pessoas e ao mesmo tempo. A presença dos anjos 3 causavam euforia e o nome de Jesus era usado apenas como um endosso de sentenças.
O ensino bíblico denuncia a acepção de pessoas 4 que era praticada na Época, quando lugares privilegiados eram reservados a artistas, empresários e jogadores de futebol em detrimento das pessoas comuns que ficavam de pé.
Os contínuos êxtases e os mistérios não tinham valor algum para a piedade. Este pesquisador presenciou profetas adúlteros e fornicários que mesmo em flagrante delito não tinham seus status eclesiásticos maculados. A crença local era dicotomista, fazendo total separação entre as realidades e poderes espirituais das categorias materiais. Por isso o Arlen alegava que quem falava no púlpito era o Espírito, e não ele, e por isso ele não tinha responsabilidades pelo que dizia. Ao contrário disso, o ensino bíblico valoriza a conduta 5, o testemunho pessoal e a ética e nos faz responsáveis pelo que fazemos ou dizemos. A racionalidade 6 e o caráter são valorizadas nos escritos neotestamentários, e não os transes ou os atos praticados sob o torpor dos êxtases.
O simples registro bíblico aponta para a necessidade do seu ensino, o texto deve ser lido para ser compreendido, podendo ser até mesmo discutido ou recusado. Trata-se de um exercício racional para ser assimilado na espiritualidade. Porém, os apontamentos dos textos referentes às questões levantadas, enquanto este pesquisador ainda frequentava aquela igreja, levou o questionador a ser hostilizado, o que evidenciou indisposição ao diálogo, desprezo pelo registro bíblico e disposição à violência, em detrimento da piedade.
Para este pesquisador a experiência vivida revelou que é possível uma igreja subsistir sem que seja uma igreja autêntica, conforme apontam os escritos bíblicos, comprometida com o seu ensino. Pode se tratar de uma realidade religiosa qualquer, que apenas se utiliza de nomenclaturas e símbolos cristãos, podendo não ser, exatamente, uma religião autenticamente cristã. Neste caso seria um fenômeno religioso resultante de sincretismos, e por ser sincrético, não corresponderia a nenhum dos referenciais que lhe emprestaram características, pois a somatória de características diversas geraria um fenômeno religioso novo e distinto das religiões antecessoras.
Assim, se a igreja cristã é a instituição criada e mantida pelo próprio Senhor 7 para servi-lo e gozá-lo, as demais formas de religiosidade estariam fora deste propósito e, portanto, destituídas de Cristo e dos seus privilégios, ao passo que é para a Igreja que Cristo dirige a sua instrução e é para a Igreja que Ele concede dons espirituais 8. Se as outras formas de religiosidade não são Igreja, então o que seriam os poderes místicos que nelas são vistos? O que são esses bens simbólicos notados na espiritualidade do ap. Arlen? Qual é a sua procedência? O que são estes êxtases que este pesquisador experimentou? O que é a glossolalia desordenada vistas nos cultos neopentecostais?
Por tratarem de assuntos espirituais, as igrejas cristãs tendem a resumir a procedência dos bens simbólicos a duas fontes apenas: ou de Deus ou de demônios. Não existe espiritualidade além desse campo ditocomista de influências. Mas nem toda espiritualidade refere-se às relações entre a alma humana com influências espirituais exteriores. Pode a espiritualidade refletir realidades do próprio espírito humano apenas, da sua mente e ou do subconsciente e, por isso, essa espiritualidade seria algo inerentemente humano, desconectado de ligações exteriores e independente de influências divinas ou satânicas em suas origens e, portanto, poderiam ter um caráter aético.
Este pesquisador descarta a possibilidade de estas manifestações serem manifestações demoníacas pelo fato de o nome de Cristo 9, sua obra redentora, sua ressurreição e divindade serem confessados mesmo nos momentos de êxtase pelo Arlen ou por outros frequentadores da Época da Graça.
Creio que esta espiritualidade pode ser comparada às habilidades naturais 10 que um músico possui para a música, ou os dons que alguém tem para as artes, ou a facilidade que alguém tem para a matemática. Esta espiritualidade seria, na verdade, uma capacidade sensitiva apurada, humana e não decorrente de dons divinos para o exercício eclesiástico, mas que assume interpretações dentro dos diversos ambientes religiosos que redirecionam tais habilidades humanas de acordo com o seu contexto religioso, conferindo-lhe sentido e aplicação.
Vê-se, por exemplo, que antes de praticar a religião, antes de ter consciência a respeito, o Arlen, ainda criança, já tinha experiências místicas 11. Não foi na conversão ou na prática religiosa que lhe foram conferidos dons espirituais; a prática religiosa reconheceu, interpretou e direcionou os seus dons naturais pré-existentes.
Exemplo semelhante pode ser notado no médium 12 Chico Xavier: antes de conhecer a religião, quando o Chico era ainda uma criança, ele já tinha experiências místicas que eram condenadas pelo clérigo católico, mas que posteriormente foram absorvidas pelo Espiritismo, lhe conferindo sentido e aplicação.
No caso do Arlen foi o movimento evangélico neopentecostal que conferiu significado e aplicação às suas habilidades sensitivas naturais. A religião dá forma a certas capacidades humanas que fora do ambiente religioso carecem de sentido, de explicação e de aplicação. Contudo, há sensitivos 13 que evidenciam suas habilidades fora de qualquer ambiente religioso.
Assim, este pesquisador conclui que muitos fenômenos atribuídos à interação com espíritos, podendo ser considerado o Espírito Santo dentro de um ambiente neopentecostal ou ainda um espírito desencarnado num ambiente espírita, por exemplo, podem ser manifestações do poder psíquico humano e de suas habilidades sensitivas naturais que são estimuladas e desenvolvidas com o uso de recursos técnicos que estão diluídos nas diversas práticas religiosas, talvez inconscientemente, com seus sincretismos sucessivos. Nem tudo o que é considerado espiritual é espiritual de fato, se compreendermos o termo como a interação humana com espíritos; mas muito do que é considerado espiritual pode ser evidência de habilidades humanas naturais e pouco compreendidas que são estimuladas dentro das diversas práticas religiosas e que podem, sim, servir como instrumento nas diversas formas de religiosidade e evoluir para uma interação com realidades espirituais de fato. Muitos dos fenômenos místicos são uma espécie de projeção e exteriorização que o mágico faz do seu próprio interior (ou mente) em conformidade com os cânones estabelecidos convencionalmente pelas diversas comunidades de fé.
Bibliografia
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BASTIDE, Roger. O Sagrado Selvagem e Outros Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
COSTA, Hermisten Maia P. da. A Inerrância e Inspiração das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
DREHER, Martin N. Bíblia, Suas Leituras e Interpretações na História do Cristianismo. São Leopoldo: Sinodal, 2006.
ELIADE, Mircea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ÉPOCA. Revista Época, criativa em todo tempo, 1998.
GODO, Carlos. A Tecnologia do Misticismo. Estudos de Religião: UMESP, Março de 1985: 45-86.
GRUDEM, Wayne. Manual de Teologia Sistemática. São Paulo: Vida, 2001.
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LEWGOY, Bernardo. Chico Xavier e a Cultura Brasileira. 2001.
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LOPES, Augustus Nicodemus. O Culto Espiritual. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
MAIA, Hermisten. Fundamentos da Teologia Reformada. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
MONTERO, Paula. Magia e Pensamento Mágico. São Paulo: Ática, 1990.
MORRIS, Leon. I Coríntios - Introdução e Comentários. São Paulo: Vida Nova, 1986.
Referências eletrônicas
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ICANB. Gravação em áudio do culto. São Paulo, 5 de Abril de 2011.
ZANGARI, Wellington. Estudos Psicológicos da Mediunidade: Uma Breve Reflexão. <http://www4.pucsp.br/pos/cos/cepe/intercon/revista/artigos/mediunidade.htm>
ROCHA, José Antonio Meira da. Modelo de monografia e Trabalho de Conclusão de Curso. Documento disponível em <http://www.meiradarocha.jor.br/ news/ wp-content/ uploads/ 2007/ 09/ modelo_tcc-2006-09-11b.zip>. Acesso em: 5 Abr. 2011.
ANEXOS
1. Revista Época.
Testemunho da Carminha
Matéria documento histórico Época da Graça
Mandado de intimação
Termo circunstanciado de ocorrência policial
CITATION ARA09 \l 1046 Anexo 2
CITATION ARA09 \l 1046 ELIADE, Mircea (1998). O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase.
CITATION ARA09 \l 1046 BASTIDE, Roger (1997). O Sagrado Selvagem e outros ensaios.
CITATION ARA09 \l 1046 LANTERNARI, Vittorio (1974). As Religiões dos Oprimidos.
CITATION ARA09 \l 1046 LOPES, A. Nicodemus (1999). O Culto Espiritual.
CITATION ARA09 \l 1046 MONTERO, Paula (1990). Magia e Pensamento Mágico, p. 9
CITATION ARA09 \l 1046 Idem, p. 11
CITATION ARA09 \l 1046 MONTERO, 1990, p. 13
CITATION ARA09 \l 1046 ELIADE, 1998, p. 15
CITATION ARA09 \l 1046 BASTIDE, 1997, p. 13
CITATION ARA09 \l 1046 BASTIDE, 1997, p. 15
CITATION ARA09 \l 1046 LOPES, 1999, p. 11
CITATION ARA09 \l 1046 WAGNER, C. Peter, The Third Wave of the Holy Spirit: encountering the Power of Signs and Wonders Today (Servant Publivations, 1998).
CITATION ARA09 \l 1046 ÉPOCA (1998). Ver anexos.
CITATION ARA09 \l 1046 Idem (1998, p. 3)
CITATION ARA09 \l 1046 O corpo do Parlamentar Ulysses Guimarães desapareceu nos mares do Rio de Janeiro em 12 de outubro de 1992 após a queda do helicóptero que o transportava, 30 minutos depois de levantar vôo de Angra dos Reis com destino a São Paulo.
CITATION ARA09 \l 1046 O tricampeão brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva morreu num acidente no Grande Prêmio de San Marino em 1 de maio de 1994.
CITATION ARA09 \l 1046 ÉPOCA, 1998, p. 12
CITATION ARA09 \l 1046 ÉPOCA, 1998, p. 22
CITATION ARA09 \l 1046 I Coríntios cap. 11,v. 10.
CITATION ARA09 \l 1046 Êxodo cap.33, v. 12 a 23.
CITATION ARA09 \l 1046 Em 5 de agosto de 2010, 33 mineradores (32 chilenos e 1 boliviano) foram soterrados na mina de ouro e cobre San José, no Chile, a 622 metros de profundidade. O resgate dos mineradores só pôde ser realizado entre os dias 13 e 14 de outubro de 2010 com o uso da sonda Fênix II. Este incidente provocou forte comoção internacional e recebeu ampla cobertura midiática.
CITATION ARA09 \l 1046 Marcos cap. 16, v. 15 a 18.
CITATION ARA09 \l 1046 Romanos cap. 7, v. 15 a 20.
CITATION ARA09 \l 1046 Gênesis cap. 9, v. 20 a 25.
CITATION ARA09 \l 1046 BASTIDE cita Amiel: “O misticismo... compreende estados de desapropriação, de despojamento intelectual e físico, um caminhar rumo ao nada; e em paralelo, estados de enriquecimento espiritual.”. No caso dos cristãos, estes não buscam sufocar a personalidade, e sim a transformação de sua personalidade numa personalidade divina (BASTIDE, 1997, p. 22).
CITATION ARA09 \l 1046 Este procedimento pode ser considerado uma das técnicas de transe que levam ao Estado Alterado da Consciência (EAC) e a partir desse estado a mente fica vulnerável aos mais diversos tipos de sugestões feitas por agentes externos ou pela própria psique, levanto o indivíduo que alcançou a EAC às experiências místicas diversas conforme estimulado pelo ambiente (GODO, 1985, p. 56 a 62).
No xamanismo a prática dos gritos coletivos visando o êxtase e a descida dos espíritos é recorrente. Neste caso a glossolalia é entendida como a capacidade de assimilação da linguagem secreta dos animais e aquele que dominar tal linguagem também seria capaz de profetizar, pois os segredos da natureza lhe seriam desvendados. (ELIADE 1998, p. 116)
CITATION ARA09 \l 1046 O tambor xamânico é componente do transe que, por meio da marcação rítmica é estimulado (ELIADE, 1998, p. 193).
CITATION ARA09 \l 1046 Assim ensina o Apóstolo Paulo acerca das manifestações de línguas e profecias na igreja em I Corinto cap. 14: “No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. Mas não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus. Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.” (v. 27 a 30). “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” (v. 40) (ARA, SBB 2009)
CITATION ARA09 \l 1046 Conforme as orientações divinas, Moisés coordenou a feitura do tabernáculo judaico que viria a ser o modelo para a construção do Templo em Jerusalém. O tabernáculo era composto pelo lugar Santo (onde eram feitos os serviços religiosos pelos sacerdotes), o Santo dos Santos (onde ficava a Arca da Aliança e somente o sumo sacerdote poderia adentrá-lo) e o pátio (onde as pessoas comuns ficavam). Ex. cap. 25 a 40.
CITATION ARA09 \l 1046 Ex. cap. 25, v. 10 a 16; cap. 37, v. 1 a 9 e 2 Sm. cap. 6, v. 6 e 7.
CITATION ARA09 \l 1046 Marcos cap. 16, v. 15 a 18.
1 O Apóstolo Paulo instrui assim a igreja em Romanos cap.12, v. 1: “Rogo-vos pois irmãos, pelas misericórcias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (ARA, SBB 2009)
2 O culto cristão é cristocêntrico, e entende Cristo como a 2ª pessoa da divindade (LOPES 1999, p. 95)
3 O 2º capítulo da carta do Apóstolo Paulo aos Colossenses é uma exortação à fé na pessoa do Senhor Jesus Cristo e à perseverança no seu ensino em contraste com os diversos ensinamentos humanos, mesmo os que são filosoficamente ou misticamente convincentes por causa de seus argumentos ou experimentações sensoriais e que são aparentemente revestidos de sabedoria ou de transcendência. Até mesmo a hipotética interação com anjos mostra-se um exercício espiritual inútil.
4 Tiago cap. 2, v. 1 a 10.
5 Mateus cap. 7, v. 16; v. 24 a 27; Filipenses cap. 2, v. 1 a 18; Tiago cap. 2, v. 14 a 23; etc.
6 Romanos cap. 12, v. 1; Efésios cap. 1, v. 17 e 18.
7 Mateus cap. 16,v. 16 a 19; Efésios cap. 1, v. 22 e 23; Colossenses cap. 1, v. 18.
8 Efésios cap. 4, v. 7 e 8; Atos cap. 1, v. 8.
9 Ciente de acusações especulativas sobre a natureza da sua espiritualidade, o então pb. Arlen, em algumas ocasiões, citou de púlpito textos bíblicos que não poderiam ser recitados por demônios. Ex: “Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo...” (I João, cap. 4, v. 2 e 3). Portanto, ao confessar que Jesus Cristo veio em carne, ficaria comprovado que ele não estava sob influência demoníaca.
10 BASTIDE 1997, p. 15.
11 ÉPOCA 1998, p. 4
12 A mediunidade de Francisco Cândido Xavier teria se manifestado quando ele tinha 5 anos de idade, época em que ele desconhecia o espiritismo. Ele e sua família, nessa época, eram católicos. (LEWGOY 2001)
13 ZANGARI s.d.
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