25/09/2023

A soberania de Deus em tempos difíceis.


A soberania de Deus em tempos difíceis.

Deus é soberano sempre. E Ele é Onipotente (tem poder sobre todas as coisas), é Onisciente (conhece e perscruta todas as coisas) e é Onipresente (está presente em todos os lugares). Isso significa que cada partícula do universo, que todo acontecimento em toda a história estão debaixo do seu senhorio, do seu conhecimento, dos seus decretos. Nada escapa da sua soberana vontade.

Esse atributo de Deus, sua soberania, costuma ser abordado de forma otimista para estimular boas esperanças nas pessoas. Ora, sendo Deus sábio, perfeito, bom e amoroso, então "todas as coisas cooperam para o nosso bem..." é isso que se costuma dizer. Sendo assim nós devemos apenas "confiar e descansar nEle", sequer precisamos nos engajar por orações ou ações contra o aumento das diversas iniquidades que se multiplicam no nosso tempo porque "Deus tem poder sobre tudo isso."

É claro que o Senhor é o protetor do seu povo, é o rochedo onde os crentes estão alicerçados, é refúgio e fortaleza daqueles que a Ele recorrem com fé. Mas a relação dos crentes com Deus não deveria ser apenas a de buscar nEle o socorro uma vez que já estamos amparados nEle, já fomos salvos por Ele e nada, nem sofrimentos, perseguições ou morte, nos podem separar do seu amor. O mal no mundo tem causa e isso deve ser combatido: o pecado - e nós crentes fomos comissionados pelo Senhor para lidarmos com isso como um exército que está em plena batalha, e não como desertores ou refugiados que se escondem do que está acontecendo no mundo e que simplesmente buscam proteção para si mesmos, eximindo-se de lutar provavelmente porque muitos de nós ainda estamos cheios de amor próprio, vaidoso e ególotra, e muitos temos dificuldade de cumprir a ordem de negarmos a nós mesmos e, por isso, ainda priorizarmos autopreservação e bem-estar - e achamos que o Senhor está comprometido com esses mimos. O problema é que muito do que se prega corrobora esse senso ególotra e corrompido da fé, mas essa concepção distorce as práticas e o ensino bíblico porque todo o ensino bíblico exige fé valorosa e vigorosa, uma fé que persiste até a morte, que é auto-sacrificial, que leva à negação de si mesmo para que seja dado o devido destaque ao senhorio e à glória de Cristo, uma fé de renúncia de si mesmo para a priorização do outro (porque isso é o amor cristão) e que não pode ser celebrada pelos omissos e covardes, mas sim pelos que se dispõem a ser, se for preciso, mártires cristãos.

Ora, a Bíblia jamais nos estimula nem ensina a omissão diante do mal que se multiplica, mas, ao contrário, requer dos crentes (da igreja) um posicionamento claro acerca dos valores e práticas do Reino de Deus e da sua Justiça uma vez que fomos comissionados como SAL da terra (o elemento que refreia a putrefação do mundo pelo pecado) e LUZ do mundo (igreja como coluna e baluarte da verdade que a todos ilumina - que é o próprio Senhor Jesus revelado na Palavra de Deus).

Deus, de fato, é Soberano. Mas Ele também é Justo e a história está em curso, sujeita às suas interações. Portanto, Deus é Senhor mas também é o punidor e disciplinador dos povos, a começar do seu próprio povo (Israel no Antigo Testamento e a igreja espalhada pelo mundo a partir do Novo Testamento). E nós vemos, de forma recorrente nas Escrituras, Deus permitir ou impor o mal sobre o povo como forma de disciplina e punição porque esse povo se distanciou e se rebelou contra Ele. 

O povo de Deus, com quem Ele se aliançou, está imbuído de deveres como parte dessa aliança, desse pacto. E como parte dessa aliança o povo de Deus deve ser santo, deve dedicar-se a Ele, e deve também ser luz para as nações e sal neste mundo, pregando o Evangelho, conclamando os povos aos arrependimentos de pecados e apontando sempre para as verdades de Deus em oposição às iniquidades do mundo e, assim, esforçando-se para refrear a multiplicação dessas iniquidades. Deus é Soberano e em sua soberania Ele decidiu usar o ministério da Igreja em suas ações de obediência à sua Palavra enquanto ela milita no mundo. Não é por acaso que a Bíblia chama a Igreja de Corpo de Cristo, pois nós, os crentes, somos as extensões do Senhor que está nos céus agindo nesta Terra e na história do mundo, fazendo obras ainda maiores do que as que Ele fez. Deus deu aos cristãos o privilégio e a responsabilidade de sermos seus cooperadores.

Assim, o Deus que é Soberano e que definiu todas as coisas e determinou os rumos da história, também decidiu escrever essa história pré-determinada nos atos da igreja, e isso inclui tanto os nossos atos fiéis como os infiéis. E por isso podemos concluir que os tempos maus e difíceis são, muitas vezes, consequências de infidelidades e da progressão de iniquidades que se multiplicam no vácuo dos nossos pecados de omissões e de negligências, pois na ausência do bem ordenado e da luz que deveria brilhar acumulam-se as rebeliões e as conspirações das trevas. É na ausência do sal que torna-se insípido, imperceptível, que as carnes mortas apodrecem e as iniquidades dos ímpios prosperam, e isso acontece com a negligência de uma igreja que se torna predominantemente omissa ou que foca em ativismos e ações que não foram ordenados por Deus, pervertendo assim o seu propósito e o desempenho do seu ministério. É porque nós não temos exercido o nosso ministério cristão com fidelidade que as iniquidades do mundo tem se multiplicado, que as pessoas perdem as noções de bem e de justiça, e isso jamais significará que Deus deixou de ser soberano ou que Ele não esteja atento a essa situação, mas mesmo essa situação continua sendo evidência de que Ele continua soberano e continua exercendo o seu poder, porque também essa corrupção estava prevista, advertida e predita nas Escrituras, pois a Bíblia afirma que a igreja dos últimos tempos oscilaria muito em sua fidelidade a ponto de apostatar-se e de cercar-se de falsos mestres que ensinam e confirmam práticas infiéis em igrejas que se desviam, e isso tem como consequência tanto o enfraquecimento da igreja como a degeneração do mundo que perde seu referencial de bem, de justiça e de verdade, acarretando no consequente juízo do Deus santo que pune o povo, concedendo ao povo as degenerações e corrupções que esse povo promíscuo deseja.

É disso que advém as autoridades corruptas e corruptoras (e isso não é evidência de bênção de Deus, mas sim de ira, de juízo, de maldição - ou seja, embora não haja autoridade nenhuma que não seja por Deus estabelecida isso não significa que ela seja do seu agrado), e da omissão dos portadores da luz advém a confusão e a substituição dos conceitos de bem pelos de mal, a inversão da justiça, o enfraquecimento da família, o descrédito à Palavra de Deus, o descarado e público ódio por Cristo, a celebração das idolatrias, a progressão da causa LGBT+, a desvalorização da dignidade humana, a complacência com criminosos, a celebração do aborto, a autodestruição do homem...

A igreja não deveria se acomodar em promessas bíblicas muito mal interpretadas, isso porque textos como o que diz "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam ao Senhor..." apontam para o propósito desse ensino e dessa verdade: as glórias do porvir que são garantidas à igreja verdadeiramente militante e fiel. Amor, na Bíblia, é servir e servir ao Senhor é, se for preciso, se sacrificar por Cristo e pela sua causa em oposição ao mundo, é em muitas vezes perder e se for preciso morrer por Ele, é agir com total dedicação e fé não visando confortos pessoais, mas sim o cumprimento da missão cristã no mundo. É assumir-se como agente na história em obediência ao Senhor Jesus, e como seu cooperador fazer resistência à progressão do mal nos apontamentos do que é verdadeiro e justo. Isso implica, também, em tomar parte nos debates públicos denunciando pecados e apontando os melhores caminhos para a justiça e para a verdade, além de se orar engajadamente pelas autoridades (uma prática ordenada nas Escrituras e que está praticamente perdida, desdenhada), e pela prevalência do bem em conformidade com os valores da Palavra de Deus, sabendo que o Senhor soberano da história está agindo e usando o seu povo, usando nossas orações e ações para que seus desígnios se imponham. 

Mas, diferente disso, igrejas omissas que negligenciam o papel profético que têm e se fecham em bolhas egoístas que ignoram tudo no seu derredor como se não tivessem nada a ver com coisa alguma, a não ser com suas questões e necessidades internas (e com sonhos de crianças mimadas), elas pecam em suas alienações e utopias (porque leituras superficiais e meramente otimistas das Escrituras são apenas utopias) porque resistem ao Senhor que para redimir pecadores se encarnou no mundo e que exige o mesmo de nós, o de irmos pelo mundo e nos espalharmos por ele, e nos "encarnarmos" nele e em suas demandas, para multiplicarmos discípulos que salguem e iluminem a todo o mundo, porque todo o mundo é um campo pronto para a colheita.

Deus nunca deixa de ser soberano, mas a igreja pode vir a ser infiel e inútil caso trilhe em rebelião - e isso foi alertado pelas Escrituras e está provisionado por Deus. E o mal ou o bem do mundo estão diretamente relacionados a ter ou não ter a luz de Cristo brilhando através de uma igreja fiel e que ilumine e salgue ao mundo do seu tempo - sendo essa, a igreja fiel e militante, a noiva verdadeira que é amada pelo Senhor que nos buscará no fim da história, e não a massa de covardes. Esse é o bem preparado por Deus para todos os que o amam - as bodas do Cordeiro - e para o qual todas as coisas cooperaram.


Sermão sobre o mal da secularização da igreja baseado em Juízes 3: 12 - 31 
(igreja e política, de novembro de 2017)

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Mas as coisas parecem estar tão estranhas nesses tempos, valores importantes tornaram-se confusos, a verdade não parece ser absoluta...

Tem gente confundindo misericórdia com condescendência, conversão com adesão religiosa, mandamento com sugestão a ser relativizada, doutrina com opinião, adoração com terapia, pastoreio com política, igreja com empresa, soberania de Deus com omissão engajada.

E parece que está tudo bem. Mas não está.

E é assim que a velha serpente tem envenenado a muitos.

O arrependimento e a fé no Deus das Escrituras continuam sendo ordens inegociáveis que nós, cristãos, recebemos do próprio Deus para proclamar.