Há alguns anos, numa das devocionais que fizemos em casa, eu ensinei aos meus filhos sobre a quase inimaginável vida que teremos na glória - quase porque a Bíblia nos dá indícios de como será viver uma vida eterna e incorrupta numa realidade em que não mais haverá pecado e não sofreremos mais com nenhum dos seus efeitos, como dores, sofrimentos, enfermidades ou morte.
Por isso a vida será potencializada, nossas capacidades que foram, todas, prejudicadas pelo pecado serão restauradas às plenas capacidades de sermos imagem e semelhança de Deus. Enfim seremos semelhantes ao Senhor Jesus tanto em santidade como em virtudes - coisas que perseguimos nesta vida e que serão plenas em nós no porvir. Assim, a nossa inteligência e todos os nossos dons serão aperfeiçoados e as nossas capacidades serão multiplicadas e não haverão limites para a exploração humana no vasto universo criado por Deus. Ciências e artes serão multiplicados em níveis inimagináveis de beleza e de eficácia para os nossos atuais padrões.
Após a ressurreição e já vivendo no porvir onde desfrutaremos das glórias do Senhor Jesus, a quem veremos face a face e a quem continuaremos a servir e a adorar - porque sempre veremos a Deus na face do seu Filho ressuscitado e glorioso, o nosso amado Senhor e Rei, a quem seremos semelhantes, mas nunca iguais, porque Ele é Deus, é eterno, o Criador que não foi criado, é o princípio e o fim, é o Cordeiro que nos salvou e é o Leão que a tudo venceu, enquanto que nós sempre seremos homens e mulheres redimidos do pecado, salvos da ira e agora, por graça de Deus, desfrutaremos das glórias do Cordeiro de Deus em seu Reino que foi plenamente instaurado.
Nós seremos, então, os irmãos menores do Primogênito Jesus, que permanecerá para sempre como Cabeça da Igreja, e a quem continuaremos a cultuar congregados, igreja triunfante e gloriosa, formada pelos redimidos de todos os tempos e reunida, também, com os santos anjos em adoração solene ao Senhor, porque Deus sempre será digno de culto, de louvor e de adoração, e nós o adoraremos, com alegria reverente, com gratidão e com santo temor para sempre. E com Ele estaremos na santa congregação de todos os crentes.
E o Senhor fará de novo o que fez no cenáculo, quando tomou o pão e o vinho dentre os elementos da última Páscoa e os distribuiu entre seus discípulos. Mas dessa vez seremos milhares de milhares diante do regozijo do nosso Senhor. Nunca houve alegria semelhante à alegria deste momento! E o veremos cantar ao nosso Deus e Pai, e nós estaremos diante da magnífica glória do Cordeiro não apenas em contemplação, mas como participantes da sua glória. E nessa congregação estaremos juntos dos pais da fé, lado a lado de Abraão, Moisés, Davi, Pedro, João, Maria, Paulo e todos os salvos de todas as épocas. Uns estarão mais próximos do Senhor e outros em fileiras mais distantes, e isso por causa dos diferentes galardões, mas todos estaremos tomados pela mesma contemplação e alegria.
Mas esse "sempre" na eternidade não será culto de adoração o tempo todo! Nós teremos outras atividades também.
Aqui entra a "teologia especulativa" que tem bases nas Escrituras mas que não é explícita. Suas construções são logicamente derivadas delas.
Se teremos outras coisas por fazer na nova Terra (que será a nossa morada) e nos novos céus (universo e além) isso significa que a adoração solene ao Senhor não ocupará todo o tempo - e por isso nós podemos presumir que continuaremos a guardar o Dia do Senhor, quando cessaremos os nossos trabalhos para a exclusividade da adoração congregacional com o SENHOR JESUS PRESENTE! Muito provavelmente todos os salvos continuarão a congregar, eis a verdadeira igreja composta por todos os remidos que foram comprados e lavados no sangue do Cordeiro, e no Dia do descanso, cessarão dos seus trabalhos para estarem juntos com o Senhor, e de corpo presente, e com os anjos, em adoração santa, belíssima e congregacional a Deus. Estaremos diante do Filho e veremos na glória do seu rosto a glória do Pai, e todos cantaremos à sua Santidade numa adoração perfeita.
Mas, terminado o Dia do Senhor, o que faremos? Cumpriremos os três mandatos que Deus ordenou à humanidade quando nos criou. Mas dessa vez cumpriremos os mandatos espiritual, social e cultural com perfeição, e presumo, de forma extendida a todo o universo.
Não haverão limites para a atividade humana sem os atuais danos do pecado. Sabemos que nessa realidade não haverá mais morte, nem dor, nem choro. Se não morreremos mais então não tem como morrermos afogados, nem queimados, nem sermos feridos por animais, nem por causa do vácuo do universo. Exploraremos as profundidades dos oceanos e os limites do universo como quem faz uma expedição para o Atacama. Se Deus nos sujeitou os animais e por isso domesticamos cães e domamos cavalos, então domaremos baleias e em seus lombos mergulharemos nas fossas abissais sem que a pressão das águas nos faça mal e sem que nos afoguemos. Se no estado de pecado, e com suas limitações, pudemos fazer ciências maravilhosas e fomos até a lua, sem o pecado as nossas ciências serão multiplicadas e iremos às galáxias, plantaremos e colheremos em outros planetas, dominaremos os cometas e os buracos negros.
O nosso Senhor nos disse que seremos como os anjos, porque não se casam, nem se dão em casamento. Então, parece-nos que seremos para sempre o número exato dos que foram redimidos, os eleitos de Deus de todos os tempos são um número exato, fechado de salvos. E esse povo de todas as tribos será uma multidão como as estrelas do céu, são milhares de milhares. Mas não haverão novos nascimentos. E, diferente dos anjos, nós teremos um corpo físico, esse mesmo corpo que temos agora, mas que será glorificado e, por isso, é muito difícil de imaginar como seremos. E essa multidão de gentes procedente de todas as partes do mundo será multicolorida. Brancos, negros, amarelos, pardos... e provavelmente a diversidade étnica continuará expressando uma diversidade cultural em diferentes sons, cores e modos de se fazer as coisas, mas agora em plena santidade e harmonia, totalmente livres dos efeitos do pecado, da sua corrupção e maldição.
Certamente seremos perfeitamente aptos para a realidade gloriosa que nos espera, mas ainda seremos humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, nosso Criador. Seremos muito mais inteligentes e provavelmente teremos memória dessa nossa vida, mas sem dores, sem lamentos, sem choros. E isso porque teremos consciência da plena verdade e da plena justiça e a paz de Deus será plena em nossas consciências. Deus nos satisfará plenamente na medida em que o Senhor estará plenamente diante de nós. Agora, enfim, o conhecerei como sou conhecido.
Uma evidência de memória é que as Escrituras serão as mesmas que temos agora - foi o Senhor Jesus quem disse que céus e Terra passarão, mas que as suas palavras permanecem para sempre. É claro que Ele se referia aos seus decretos, mas também às Escrituras porque, como um todo, lhe dizem respeito. Ele será nas glórias do porvir o mesmo que é agora, ressuscitado, o mesmo que foi visto pelos discípulos após a ressurreição, mas é o Soberano Senhor dos senhores, o Rei dos reis. Tomé tocou nas suas chagas antes que o Senhor reassumisse o seu trono, mas suas marcas e cicatrizes permanecerão para sempre como testemunhas da sua grande obra para a nossa salvação. Sempre olharemos para o Senhor como o Cordeiro que venceu e o Senhor Jesus continuará a ser o centro de tudo, e das nossas vidas, e da nossa devoção, o Deus conosco, Emanuel.
E vez por outra teremos a honra de o recebermos em nossa própria casa para cearmos com Ele. Nos Evangelhos Ele tinha o costume de fazer isso, e provavelmente manterá esse costume. Isso parece ser do feitio do nosso Rei, porque Ele nos ama.
E o Senhor Jesus será para sempre a glória da nossa vida porque dele, por ele e para ele são todas as coisas.