31/07/2023

Princípio Regulador do Culto



"...o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.” (Confissão de Fé de Westminster; 21,1

O Princípio Regulador do Culto 

Escrevo esse texto como necessidade que surgiu de questionamentos sobra a palavra "culto" de outra postagem.

Costumamos usar a palavra "culto" para todas as reuniões que os crentes fazem onde oram, cantam louvores e compartilham de textos da Bíblia. E a palavra "culto" tem sido apropriada porque nessas reuniões Deus é louvado, adorado e é servido, inclusive com a evangelização de outras pessoas. Mas ao mesmo tempo em que é apropriada, a palavra "culto" também assume um significado mais amplo que incorre num problema: nem sempre os crentes distinguem os cultos informais dos cultos ordenados por Deus e, por serem ordenados os cultos requeridos por Deus são muito mais específicos e solenes.

Sim, existem diferenças entre cultos e cultos, entre a adoração ordenada por Deus e as diversas reuniões com orações, pregações e expressões de louvor que podemos fazer. E é muito importante discernirmos uma coisa da outra para não pecarmos com corrupções da adoração a Deus.

Veja, por exemplo a descrição de um "culto" no Salmo 150. Podemos chamar aquela celebração em louvor a Deus de culto", mas nela temos uma descrição de uma festa com danças, inclusive. Diferente disso, os cultos ordenados por Deus eram caracterizados por uma postura solene dos adoradores, não haviam danças, mas uma "liturgia" (serviço) em que o povo congregado cumpria determinadas ordens feitas por Deus num comportamento intencional apropriado numa dialética, uma "conversa" entre o povo congregado e Deus em interação santa.

Nós, reformados, adotamos uma "regra", o PRINCIPIO REGULADOR DO CULTO, em que praticamos (ou deveria ser assim) somente os atos que Deus ordena, e do jeito que Ele determina que sejam feitos nos cultos solenes ao Senhor, que é a adoração congregacional dos santos. E nesses cultos (feitos no dia do Senhor) nós não devemos aceitar o que as Escrituras não estabelecem que devam ser feitas. Se a Bíblia não mandou, nós não fazemos. E nós só fazemos o que a Bíblia ordena. 

Na adoração solene a Deus os crentes se reúnem PRESENCIALMENTE, oferecendo ao Senhor as suas vidas, orações e louvores em sacrifício vivo, racional, santo e agradável a Deus (agradável porque é conforme a sua vontade revelada) e com contrição de coração, em santo temor, porque se reconhecem pecadores, mas se reúnem com confiança nos atos de Cristo para a obediência à ordem de Deus de adorarmos somente a Ele como único Deus verdadeiro, em espírito e em verdade, de todo o coração, alma e entendimento.

Nesse ajuntamento deve-se primar pelas simplicidades, porque não é ocasião para o fomento de vaidades, de ostentações e de idolatrias. Não são as coisas visíveis que devem nos mover à adoração, mas unicamente o poder do Espírito Santo agindo pela Palavra. Os corações dos crentes devem estar quebrantados e focados em Deus somente, a quem imploram o seu perdão pelos pecados e as suas misericórdias - essas são ações preliminares de purificação, feitas no início do culto, porque os crentes estão adentrando na presença Santa do Altíssimo - e isso não se faz de qualquer maneira, devem ser intencionais. E então os crentes congregados louvam ao Senhor, agradecidos, pelo perdão e pela obra do Cordeiro que nos remiu e cujo sangue nos habilita para estarmos onde os anjos temem. Estamos a desfrutar de um incomparável privilégio, totalmente envolvidos pela Glória do Deus que recebe nossa adoração! Adentramos, ousadamente, no Santo dos Santos, na presença gloriosa e temível do Pai através do Filho e na força do Espírito Santo para, juntos, o povo de Deus tributar ao Deus Triúno a adoração que lhe é devida. Estamos, então, em plena comunhão com a mais poderosa força de todo o universo, e na beleza da sua Santidade. NADA É MAIS SUBLIME DO QUE ISSO!

Nessa união santa o Todo-Poderoso recebe a nossa adoração feita por meio de Cristo, nossos atos imperfeitos são aperfeiçoados no Mediador, e Ele responde ao seu povo, os seus filhos remidos por Cristo, falando com eles pela pregação das Escrituras, e os abençoa. O que pode ser maior, mais poderoso e mais intenso do que isso?

Por adoração devemos entender a inteireza do culto, e jamais qualquer parte dele. Porque todo o culto consiste na entrada no Santo dos Santos para a contemplação da beleza da santidade do Deus Triúno, que concede a sua Graça ao seu povo amado. Sempre é povo, sempre é no coletivo. O louvor a Deus não é, portanto, adoração em si mesmo, mas é parte de toda uma LITURGIA, parte do serviço feito a Deus (sim, o culto é o mais sublime dos serviços cristãos, pois nele servimos a Deus diretamente), é um todo que configura e caracteriza a verdadeira adoração a Deus conforme Ele mesmo prescreve, exige e faz cumprir.

Eis o "culto solene", a adoração bíblica que só pode ser feita pela igreja, a assembleia dos santos, é privilégio apenas dos salvos enquanto que os não salvos ainda continuam na morte espiritual, banidos de Deus e, portanto, não são capazes de adorar a Deus e não adentram no Santo lugar pois a santidade de Deus os fulminaria - sim, embora as pessoas estejam reunidas de corpo presente num mesmo espaço físico no salão de culto, o fato é que do ponto de vista espiritual, o de Deus, essas pessoas estão separadas entre os espiritualmente vivificados pela obra de regeneração realizada por Cristo, e somente esses estão de fato em adoração a Deus; em contraste com as pessoas que não estão adorando a Deus, e isso porque não podem, não compreendem e não querem fazê-lo, embora possam se emocionar com os estímulos humanos e artificiais de uma falsa adoração e de falsa espiritualidade. É apenas emoção, é carne. O joio e o trigo estão fisicamente juntos num ambiente de culto, mas somente o trigo pode cumprir as ordens de Deus de adorá-lo de verdade. Enquanto isso o joio estará apenas cultivando idolatrias, um pecado típico dos que ainda são inimigos de Deus e que só cessará se forem convertidos de verdade ao Senhor do Evangelho - porque é somente o Evangelho que pode regenerar pecadores mediante a conversão à fé.

Pela sua natureza sublime, o culto não pode ter outro tema senão a glória de Deus somente (e isso o distingue das demais "formas de culto") e essa adoração é uma ordem dada por Deus que deve ser cumprida obedecendo às suas prescrições escriturísticas, nunca às nossas vontades e imaginações que jamais cabem nessa dignidade do culto, mesmo que a pretexto de serem feitas "de coração", porque inventar coisas no culto é corrompê-lo e é instigar a ira justa e santa de Deus mesmo sobre quem supostamente esteja sendo movido por boa-vontade - lembre-se da boa vontade de Uzá, que movido pelo senso de voluntariedade e de urgência apressou-se a fazer algo que não lhe competia, morrendo imediatamente quando tentou segurar a arca da aliança e impedí-la de cair no chão - uma "boa-obra" que era tarefa exclusiva dos levitas, não dele. Para Deus os fins não justificam os meios, mesmo que os meios nos pareçam justificáveis. O Deus que ordena os fins também ordenou os meios. O pragmatismo é uma filosofia estranha à fé no Deus Triúno.

Em questão de santidade (e o culto é santo, pois estamos na presença do Deus Santíssimo no Santo dos Santos) o que vale é a obediência e o temor, não as "sinceridades" de um coração invariavelmente enganoso. Diante do Senhor, "cale-se toda a terra"! Quem somos nós para determinar o que deve ser feito diante do Altíssimo? Simplesmente acatemos o que Ele requer de nós.

Mas, diferente do culto solene, nós também praticamos "cultos" que têm uma natureza e propósitos diferentes daquele que é específico, glorioso mas singelo, sublime mas semanal que Deus ordena. Esses outros cultos, como os realizados informalmente em casas, cultos de gratidão, cultos de missões, de evangelismos, de jovens, da SAF, etc costumam receber de nós esse nome (culto) porque não parece que hajam outras opções que melhor os definam - mas são coisas diferentes! Poderíamos chamar de "celebrações", de "reuniões" mas assim esvaziaríamos o seu sentido intencionado, que também é de louvar a Deus, de orar e de proclamar a sua Palavra. Mas note, assim como as devocionais familiares essas reuniões espirituais não foram ordenadas por Deus com as definições e ênfases do culto solene, dominical. Por exemplo, embora possamos fazer algum "culto" de ação de graças na casa de alguém, ou por quaisquer outros motivos, o não fazer esse tipo de culto não é pecado. Mas, diferente disso, o omitir-se ou ausentar-se do culto (solene) a Deus sem uma justificativa à altura é pecado. E, ainda sobre as diferenças, embora nos cultos solenes não caibam invenções dos homens, expressões artísticas e sentimentais livres, nas "celebrações" cabem até mesmo as festas, a diversidade de instrumentos e danças, comprovando-se, assim, serem modalidades de "adoração" diferentes. Mas essas formas de "culto" não têm a mesma importância e o peso de glória do culto "solene". No culto solene, ordenado, não cabe as pessoas falarem de si, dos seus testemunhos, nem a diversidade de coisas que falamos e que fazemos nas reuniões mais informais. Também não cabem invenções, encenações, nem danças. Não queira tomar o lugar de entreter nem de animar a plateia com a ingerência dos esforços humanos onde a exclusividade do poder no recinto é do Deus que está sendo cultuado, isso porque Ele não divide a sua glória com ninguém! No culto que Deus requer e para o qual Ele convoca o seu povo ocorre uma reunião Santa entre o único Deus verdadeiro e o seu povo que foi por Ele congregado. Mas, diferente disso, em celebrações livres podem ocorrer testemunhos, distribuições de falas e de participações (e até de lanchinhos) porque o rigor litúrgico, para esses casos, é mais solto e menos exigente.

Distinções explicadas, saiba-se que os crentes precisam aprender a discernir "culto" de culto, isso para não pecarmos no culto solene ao tentar incrementar nele coisas que não podem ser nele feitas. E precisamos valorizar e amar (zelar) os cultos congregacionais por entendermos a dimensão grandiosa da sua realidade, como cumprimento de uma ordem direta feita pelo Deus que exige ser adorado da forma correta e santa e, diferente desse tipo ordenado, os "cultos" livres, ou celebrações, as devocionais, os cultos temáticos (de missões, de evangelismo, de gratidão - provavelmente cabem aí os casamentos) são expressões "menores" de adoração a Deus, mas legítimas, que são mais flexíveis e que podem ser feitas sempre que os crentes fiéis quiserem fazer, e em qualquer lugar - e Deus sempre abençoa e instrumentaliza esses ajuntamentos.

P.S. - "adoração on-line", então, como se vê, não cumpre os requisitos do culto ordenado por Deus, porque a pessoa que apenas assiste ao culto não está, de fato, participando dele, isso porque "congregação", "assembléia", "reunião" significam reunir de fato, de corpo presente. Eis um requisito indispensável para o culto ao Senhor. Sendo assim muitos crentes modernos estão PECANDO ao se adaptarem para a modalidade prática e confortável dos "cultos on-line", uma solução de emergência para tempos de isolamentos sociais que não pode ser adotada como opção para os crentes como se a vida cristã pudesse ser nivelada em níveis baixos de comodidades e de confortos carnais. As transmissões online podem até ter o seu valor como formas de transmissão da Palavra de Deus ou como arranjo provisório para quem realmente está impossibilitado de estar presencialmente nos cultos (por motivo de doença, por exemplo), mas nunca substituem o ato verdadeiro e exigido por Deus de adoração congregacional. 

Lembre-se, culto está associado a SACRIFÍCIO de si mesmo! (Rm.12)

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EIS A IDENTIDADE PRESBITERIANA – PARTE 7 - por Rev. Ageu Magalhães 

O Princípio Regulador do Culto

Em matéria de culto há dois caminhos a serem seguidos: Ou o Princípio Normativo (Católicos e Luteranos) que ensina que o que não for proibido na Bíblia é permitido no culto ou o Princípio Regulador do Culto (Reformados e Presbiterianos) que ensina que apenas o que for ensinado na Bíblia é permitido no culto.

Os ensinos são opostos entre si. No primeiro, para algo não entrar no culto é preciso uma proibição explícita. Assim, posso cultuar dando cambalhotas, acendendo velas e fazendo coreografias? A resposta católica/luterana é: Há alguma proibição quanto a isso na Bíblia? Não? Então, pode.

Já no Princípio Regulador do Culto, para algo não entrar no culto basta não ser ordenado na Bíblia. Assim, posso cultuar dando cambalhotas, acendendo velas e fazendo coreografias? A resposta reformada é: Há alguma ordem de Deus para que isso seja feito no culto? Não? Então, não pode.

A Bíblia é a nossa única regra de fé e de prática também nas questões de adoração. Apenas tendo base bíblica é que algo pode ser permitido no culto.

Qual é o embasamento bíblico do Princípio Regulador do Culto? Por exemplo, Levítico 10, onde Nadabe e Abiú são reprovados por Deus porque trouxeram fogo estranho perante Ele, “o que lhes não ordenara”. Veja que Deus não disse: “o que lhes proibira”. Ou Deuteronômio 12.32: “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás” e outros textos.

A Igreja Presbiteriana adota oficialmente o Princípio Regulador do Culto. Ele está descrito no texto da Confissão de Fé de Westminster: “... o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.” (CFW 21,1)


Para saber mais, leia: 

- Nove Linhas de Argumentos em Favor do PRC – T. David Gordon - http://www.monergismo.com/textos/liturgia/nove_argumentos.htm

- O Princípio Regulador do Culto – Brian Schwertley - http://www.monergismo.com/textos/liturgia/principio-regulador-culto_brian.pdf