02/04/2023

A sublimidade do culto a Deus

 


A sublimidade do culto a Deus

O culto a Deus é uma prática muito simples de ser feita, e é incomparavelmente gloriosa. Contudo o culto pode ser também muito facilmente corrompido, e consequentemente esvaziado das glórias do Deus que nos dá a Graça da sua presença com toda a beleza da sua santidade - e é uma pena que algo tão simples, belo, verdadeiro e poderoso seja tão constantemente pervertido pela injustificável e descabida insistência dos homens de trazer ídolos da sua perseverante e teimosa prevaricação num local onde deveriam esvaziar-se de si mesmos. 

Insistimos com as nossas quinquilharias que transtornam a singeleza eficaz da adoração a Deus, que apesar de singela requer fidelidade, e muitas vezes impomos perante a Graça de Deus que nos está descoberta o quanto ela nos parece insuficiente - ainda que costuma-se dizer o contrário disso. E assim insistimos em ritos caducados que resultam na desvalorização do que não devia ser desvalorizado na consciência e nas experiências dos crentes, e insistimos nos esforços artificiais provocados por pessoas que aparentam piedade mas que na verdade estão ostentando prerrogativas que não lhes pertencem ao tentarem fabricar emoções quando o agente nas consciências deveria ser apenas o Deus soberano que age em.meio ao seu povo congregado e que é usurpado por um show de talentos carnais envolto em pirotecnia e muitos ruídos, uma artificialidade que faz com que parte da plateia confunda suas emoções fabricadas por outras pessoas e seus talentos artísticos ou técnicos com a ação do Espírito Santo.

A nossa redenção é, acima de tudo, para a restauração da nossa comunhão com Deus, de quem estávamos separados e banidos por causa do pecado. E essa relação entre seres humanos e Deus é, acima de tudo, baseada no cumprimento do nosso dever como criaturas diante do Criador para prestarmos a Ele culto, para o adorarmos como Ele mesmo prescreve e exige. E nisso consiste a base do cumprimento da ordem prioritária de se amar a Deus, porque você não amará a Deus em todos os desdobramentos da vida se não adorá-lo nas práticas dos cultos feitos em Cristo como o próprio Deus requer. Se o culto for subvertido toda a suposta prática cristã também será.

Se o culto a Deus for negligenciado ou corrompido, não haverá o cumprimento do amor a Deus nem no culto, nem nos desdobramentos da vida. E se for invertida a ordem dos amores, priorizando-se o amor ao próximo, inclusive na subversão do culto ao se fazer do "eu" e das necessidades das pessoas o objeto prioritário nas suas reuniões e reduzindo Deus a um tipo de mordomo para nos servir em nossas necessidades e anseios, pratica-se também aí a subversão do culto, e da fé, porque se o amor primeiro a Deus for mudado de lugar acaba-se por transformar o que era para ser adoração a Deus numa idolatria às pessoas e às coisas, boas ou más, legítimas ou não - que as pessoas almejam.

O culto a Deus deve ser restaurado, reformado, praticado conforme requerem as Escrituras. 

Ainda que possamos adorar a Deus e expressar a Ele amor, devoção, louvor e gratidão em praticamente todos os momentos, em todos os dias, existe uma clara distinção por Deus ordenada para que Ele seja devidamente adorado pelos ajuntamentos dos crentes. E esse ajuntamento, reunião (esse é o sentido de igreja) deve ser no Dia do Senhor (4º mandamento), o sábado cristão (dia do descanso das atividades regulares do trabalho durante a semana para a consagração e para o culto ao Senhor), nos domingos - que desde os primórdios da era cristã foi tomado como o sábado dos cristãos, o dia em que os cristãos desde Atos se reuniam para a adoração a Deus, porque foi num domingo que o Senhor Jesus ressuscitou - a ressurreição era o mote para ser neste dia, tanto para a sua celebração como para a sua proclamação, e assim os cristãos resistiram à imposição romana de adoração ao Cezar nos domingos, reafirmando nesses dias que o Senhor é Jesus Cristo.

Assim, os crentes devem se reunir (de fato, de corpo presente e não virtualmente) aos domingos, num exercício prático de separação, de consagração, de santificação - eles separam um dia para atividades focadas em Deus e oferecem seus serviços em sacrifício vivo, santo e ao Senhor agradável - para a realização do culto congregacional onde todos participam conscientemente, intencionalmente e ativamente - ou seja, não se assiste ao culto, mas faz-se o culto numa liturgia coletiva em que todos os congregados estão atuando juntos, mas de forma organizada, com ordem e decência.

E o que deve ser feito no culto? 

O povo de Deus deve se reunir para orações, louvores e a pregação da Palavra.

O que sempre foi feito ao longo das Escrituras? O povo é conclamado à adoração a Deus e essa adoração consiste em trazermos ao Senhor as nossas ofertas que serão entregues ao sacerdote para serem oferecidas em sacrifício no altar. E junto das nossas ofertas o povo congregado faz as suas petições ao Senhor, e suplica o seu perdão pelos nossos pecados. E Deus aceita as nossas ofertas, o nosso sacrifício, e ouve às nossas orações. E nós expressamos a nossa gratidão pelos feitos do Senhor e a admiração ao Senhor que nos dá o privilégio de contemplar a beleza da sua santidade, e declaramos essas belezas, e proclamamos os seus desígnios. E Deus fala conosco, nos instrui, nos alimenta e fortalece. Essa é a relação central entre a humanidade e Deus, o fundamento da nossa verdadeira comunhão.

Mas todos os cerimoniais do Antigo Testamento que nos ensinam sobre o culto são sombras que apontam para o verdadeiro sacrifício e verdadeiro sacerdote. O Senhor Jesus Cristo é a oferta, é o cordeiro que foi entregue ao sacerdote para ser sacrificado. E Ele é também o sacerdote, porque entregou-se a si mesmo, sendo obediente a Deus-Pai até a morte, até o seu holocausto na cruz. 

Então os elementos antigos do culto vigoraram até Cristo, o sacrifício perfeito e definitivo, o verdadeiro tabernáculo pelo qual o próprio Deus andou entre os homens neste mundo. Dessa forma, o verdadeiro culto a Deus é, somente, o culto cristão, feito em nome do Senhor Jesus Cristo e baseado exclusivamente nos seus atos, nos seus méritos - isso porque Ele é o verdadeiro sumo sacerdote que faz a mediação entre o Deus Santo e Todo-Poderoso que habita no lugar santíssimo e nós, o povo congregado. Entramos, então, na presença santa de Deus pelo novo e vivo caminho do sangue derramado pelo Senhor, porque Ele é a oferta aceitável que nos propiciou adentrar num lugar e numa realidade antes impossível, porque agora estamos cobertos com o seu sangue precioso. Esse sangue foi derramado em substituição do nosso sangue, nossas culpas foram pagas no cordeiro que foi punido em nosso lugar e é por isso que temos perdão de pecados. A morte substitutiva do Senhor nos conferiu o perdão das nossas dívidas que por ele foram pagas. E crer em Jesus é a forma como somos declarados justos e, por isso, podemos adorar a Deus de fato porque a sua santidade não nos repele mais, não nos fulmina em manifestação de juízo como fogo consumidor que é, porque fomos comprados e santificados pelo sangue do Cordeiro. 

O sacrifício que nos propicia entrar na presença de Deus é o de Cristo, restando a nós sacrifícios menores e derivados que devemos oferecer nos cultos a Deus:
 - Devemos nos reunir em santo temor, com reverência, porque o culto é uma assembleia santa composta por pecadores santificados e em processo de santificação na presença do Deus Todo-Poderoso e Santíssimo;
 - Deus requer as mesmas exigências do culto ensinado no Antigo Testamento, mas essas exigências foram cumpridas por Jesus Cristo, não por nós. Então tenhamos humildade e gratidão! É por causa do sangue do Senhor que podemos estar na presença de Deus;
 - Na presença de Deus devemos ter consciência de quem somos e de quem Ele é - ali está acontecendo o milagre da comunhão entre seres pecadores e limitados que foram remidos e o Deus Todo-Poderoso que é Santíssimo. A consciência de pecado, a contrição, o quebrantamento de coração e as súplicas por perdão são necessárias e cabíveis no culto;
 - Temos, também, a consciência do perdão prometida por Deus aos crentes. Isso é obra de Deus em Cristo e é promessa a todos os que arrependidos, crêem. Diante disso é cabível o louvor, a gratidão pela obra salvadora, pelo perdão de pecados. O verdadeiro louvor é focado na obra de Cristo e nunca em nós, nossos desejos ou aspirações. O verdadeiro culto cristão é cristocêntrico e nunca antropocêntrico. Por isso, nele declaramos as verdades da Palavra de Deus, suas doutrinas, cantamos e exaltamos a Deus pelos seus atributos a nós revelados - esses são os temas que devem fazer parte do culto;
 - E então, ao receber os nossos sacrifícios de louvor como aroma suave em sua presença, o Senhor fala com a congregação por meio da pregação fiel das Escrituras, não uma pregação moldada por interesses mundanos, mas genuinamente proclamatória das doutrinas de Deus, do Evangelho, dos seus desígnios. E assim o povo congregado é alimentado pelo pão da vida que desce do céu, porque no verdadeiro culto a Deus o céu desce nessa terra e os crentes redimidos adentram o Santo dos Santos para contemplarem a beleza da santidade do Deus que se revela e se alimentarem, se fortalecerem, serem conduzidos, se alegrarem com a manifestação da sua Palavra.
 - No culto cristão, quando um dos crentes levanta a voz em oração, todos estão orando junto dele. Num culto cristão não existe a proeminência de um ministério estranho às Escrituras que tente provocar ações e emoções no povo congregado porque toda a congregação canta em uníssono e cumpre a liturgia, o serviço a Deus, com ordem e com decência, racionalmente, não emocionalmente. 
 - No culto cristão um ministro da Palavra devidamente qualificado e separado tem a responsabilidade de conduzir a exposição bíblica sob a autoridade e a iluminação do Espírito Santo, o Mestre da Igreja. Num culto cristão os crentes estão unidos no Senhor e pelo Senhor numa mesma fé e numa mesma seara, mas são multiformes em seus contextos e em suas áreas de serviço. O milagre da igreja reunida é ela ser una e, ao mesmo tempo plural e diversa sob uma mesma fé.

E o que não se deve fazer no culto?

Nada que não foi prescrito pelas Escrituras ou que já tenha caducado com as obras do Senhor Jesus Cristo.

Nada de resgatar cerimoniais do Antigo Testamento, de usar seus adornos e simbologias como praticar circuncisão com finalidade religiosa, nada de sacerdotes, de levitas, de templos, de altares, candelabros, arca da aliança, culto de Páscoa, culto de Pentecostes e nada de se tentar praticar dons e ofícios descritos no Novo Testamento que foram transitórios, como os Apóstolos, uma vez que ninguém do tempo presente cumpre os requisitos para este ofício como o de ter estado entre os discípulos do Senhor e de ser testemunha da sua ressurreição e não existem mais certos dons que estavam presentes na igreja primitiva porque eles eram necessários até que a Bíblia ficasse completa com os textos do Novo Testamento.

Nada de usar imagens de escultura ou representações visuais de Deus em qualquer das três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo, e nada de incluir no culto a Deus outras pessoas, vivas ou mortas, ou anjos ou ideias espirituais que possam de alguma forma cooperar na espiritualidade, na redenção ou qualquer outra coisa como se a obre perfeita do Senhor precisasse de auxílios ou de complementos. A Mediação exclusiva do Senhor Jesus Cristo é eficaz e é perfeita e a sua verdade e fé devem ser anunciadas e compreendidas pela pregação e pelo ensino das Escrituras, apenas.

Nada de inventar coisas que a Bíblia não ensina, como ministério de danças no culto (uma ideia derivada do paganismo), ordenação de pastoras, dons de língua, profetismos, teologia da prosperidade, atos proféticos, cultos on line (porque reuniões virtuais não cumprem com todos os requisitos da reunião verdadeiramente congregacional e se resumem a assistir ao culto - só pode equiparar cultos presenciais, congregacionais com os on line quem tem o péssimo costume de resumir-se a assistir aos cultos mesmo presencialmente - um pecado); nada de costumes inovadores que quebrem a ordem da reunião congregacional como a separação das crianças e a sua retirada do culto, impondo a elas a não participação na totalidade dos cultos, privando-lhes de muitas bênçãos como o aprendizado da adoração do Deus da Aliança (e aqui a união familiar tem grande importância) e o consequente comprometimento no recebimento do alimento da fé com o privação da Palavra pregada, e tantas outras inovações e quinquilharias que pervertem o culto a Deus.