25/07/2014

Padronização e homogeneidade X Evangelho



Toda padronização de comportamento que é imposta às pessoas é uma forma assustadora de imposição de poder sobre os outros. É uma tirania de quem pensa ser dotado de uma autoridade superior para manipular a consciência alheia.

Nessa prática, infeliz e muito comum em ditaduras por todo o mundo e por toda a história, o próximo é diminuído à condição de subalterno e o opressor é elevado à condição de classe superior com direitos privilegiados. Nessa prática a consciência humana é usurpada e dá lugar à robotização, à idiotização, à mera repetição irrefletida de proposições elaboradas por outros e à dependência intelectual de quem acaba ditando as normas. Nessa prática fica fácil identificar quem não está alinhado ao poder imposto e seus insubordinados são logo punidos com toda sorte de disciplinas, incluindo seu banimento e sua desumanização.

O que me perturba é que muitas vezes os agentes dessas padronizações dizem que estão buscando o bem comum, mas erram porque o bem comum inclui a diversidade de culturas, a diversidade de modos e das mais variadas leituras de um mesmo quadro.

E nesse dilema está a Igreja, promotora da vida, do conhecimento de Deus e da liberdade. Ela lida com valores absolutos (Deus, vida, morte, pecado, verdade) e está plantada no mundo dos homens com todas as suas diversidades. A Igreja não pode abrir mão dos seus valores, não pode relativizá-los, não pode se prostituir. Para isso ela precisa saber quais são realmente os seus valores e quais sãos suas prioridades, qual é o seu papel. Cristo deve ser proclamado e sua Graça é multiforme e isso é muito maior do que todos os costumes, maior que toda variedade cultural, maior do que todas as formas como os diversos agrupamentos humanos, em todos os variados contextos, absorvem seus valores absolutos e se reorganizam ao redor desses valores e, por conseqüência, é muito maior que quaisquer instituições, que nada mais são do que ajustes humanos encontrados para organizar certas coisas. Por isso a Igreja não deve se pautar em valores meramente institucionais e não deve impor por constrangimento verdades às consciências e às liberdades individuais, pois esse é o papel exclusivo do Espírito Santo, o verdadeiro convencedor dos corações acerca do pecado, do juízo e da justiça. A Igreja deve apenas proclamar a Cristo e os cristãos devem amar as pessoas incondicionalmente.


Somos limitados e falíveis e, portanto, nossas proposições derivadas de valores absolutos sempre refletirão nossa finitude - mas eu vejo beleza nisso! A beleza de podermos encontrar segurança, não no que somos ou no que fazemos, mas na verdade que transcende nossa realidade, no absoluto em pessoa, na intervenção divina em nossas limitações, num milagre salvador pelo qual nossa alma clama:

"E o Verbo (Cristo) se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade." (João 1:14)