Instagramização da vida
E essa onda de exposições que são apenas projeções de obras do Michelangelo, do Van Gogh, do Picasso, etc em paredes e que são vendidas aos entusiastas como "experiências imersivas"?
Não se pretende mais atentar para os detalhes das pinceladas, das camadas de cores, das sutilezas, das texturas e assim entender como o artista fez sua obra ao mesmo tempo em que se vê o todo como resultado de uma composição de muitos processos... mas em seu lugar, agora se vêem luzes e intensidades onde o todo é agigantado mas os detalhes são perdidos. Não se interage mais com textos e suas necessárias subjetividades com todos os esforços na interpretação e na imaginação, mas se busca resumos facilitados por encenações dramatizadas e em falas ligeiras e rasas de experts que incluem "filósofos" que comercializam "good vibes" e que autenticam modismos lado-a-lado de youtubers e de influencers que tagarelam sobre absolutamente tudo. Até os cultos agora têm formatos dinâmicos para funcionarem também a quem consome o subproduto on line, que tem cada vez mais protagonismo em comparação com a mais sublime de todas as experiências, porque o público da internet pode ser maior do que o ajuntamento real, mas o real tem o inconveniente de ser apenas momentâneo. E a nova inteligência, assumidamente artificial, pirateando toda a produção humana que está acumulada na internet e que se apresenta, presunçosamente, como se fosse uma versão aprimorada do que a humanidade produziu até agora e que, supostamente, será um salto na sua evolução.
A artificialização das artes, do belo, da virtude, da espiritualidade, da inteligência, das experiências e das relações humanas em todos os sentidos é uma evidência de que os acúmulos de conhecimentos e de tecnologias estão apenas reforçando a decadência da humanidade.