Zoeira é pecado?
Nem sempre.
"Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores."
(Salmos 1:1)
"Ao meio-dia, Elias zombava deles, dizendo: Clamai em altas vozes, porque ele é deus; pode ser que esteja meditando, ou atendendo a necessidades, ou de viagem, ou a dormir e despertará."
(1 Reis 18:27)
No caso do Salmo 1 nós vemos a descrição de alguém cuja conduta é aprovada por Deus. Tal pessoa não faz parte da "roda dos escarnecedores", ou seja, ele não faz parte dos ajuntamentos que praticam o escárnio, a zombaria de outrem. Aqui a zombaria é produto de uma fraternidade, uma roda de pessoas, e pode ser, portanto, um exercício covarde e um instrumento de auto legitimação ou de louvor próprio diante da ridicularização do outro, provavelmente tratado com desvantagem num ato covarde. Aí, a zoeira é sim um pecado.
Em contrapartida nós vemos Elias zombando de forma bastante engajada, mas solitária, dos esforços dos 450 profetas do falso deus Baal de provocarem a sua manifestação diante do embate incitado por Elias, num duelo de forças entre o Deus de Israel, em desafio contra o deus cananita que era servido por esses 450 profetas e por quem os israelitas estavam dividindo a sua devoção. Durante a cerimônia de invocação a Baal, Elias zomba desse falso deus e de todos os seus profetas, porque sabe que Baal é uma fraude, mero ídolo, um deus falso que certamente não se manifestaria naquele duelo de deuses. A "zoeira" aqui, praticada por Elias, não é pecado (um caso raro nas Escrituras), mas é parte da retórica do profeta, porque quem sabe, ao ridicularizar o falso deus cananita, o resultado não seria o desejável reconhecimento por parte de ao menos alguns dos profetas de Baal, de que ao insistir nesse desafio de deuses eles estavam cometendo uma estupidez digna de arrependimento e, principalmente, faria com que os israelitas abandonassem o culto a Baal e, arrependidos dessa idolatria, se voltassem à devoção ao único Deus verdadeiro.
Eu gosto muito dessa atitude do profeta Elias, um arquétipo do João Batista, aquele que antecedeu e preparou o caminho do Senhor Jesus.
Mas, desde 1940 vigora uma Lei que proíbe o vilipêndio ao culto religioso no Brasil. Desde então, se o profeta Elias tivesse feito o seu desafio seguido de escárnio por aqui, ou se alguém imitasse essa sua prática, ter-se-ia cometido crime:
Artigo 208 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940
Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.