Mentores e fazedores de discípulos livres
Não gosto da ideia que muitos têm (e principalmente quando se pretende ter) de ser "mentor" de outras pessoas. E é muito ruim quando essa ideia autoglorificante passa a ser intrínseca, legitimada por uma função pétrea. É como uma espécie de sacerdócio que coloca o pretenso mentor numa condição em separado dos demais mortais comuns, uma distinção de classes entre o seleto grupo dos iluminados do resto, o gado, o rebanho.
Tem muita gente cheia de titica na cabeça que deveria receber chineladas para descer do pedestal e que se apresenta como mestre dos outros.
Certamente existe distinção do mestre dos seus discípulos, mas essa distinção não é intrínseca, é momentânea, passageira, uma realidade dinâmica e em transformação, pois todo mestre já foi aluno e muitos alunos, ou discípulos, têm o potencial para serem sábios e mestres. Isso não é uma condição intrínseca, é um processo, um ciclo de formação dentro de sucessivos ciclos ao longo dos anos, da história.
Eu gosto da alegoria do "mito da caverna" por vários motivos, e aqui destaco a figura do "mentor" no sentido mais correto, alguém que era um igual aos seus pares até que foi iluminado com a percepção da verdade, e agora, consciente e livre, ele se esforça para que seus companheiros, seus iguais mas em condições diferentes, também sejam libertos e conheçam a verdade que ele conhece. Todos fomos prisioneiros das trevas, até que o toque da graça da verdade nos liberte e mude a nossa condição.
O verdadeiro mestre é um servo, ele é um portador da verdade, um sábio, que trabalha a serviço da verdade para o seu estabelecimento, para que seja reconhecida e, como consequência, para a liberdade dos seus companheiros. E isso fará deles tão ou ainda mais sábios do que ele - porque dificilmente haverá maior êxito para um mestre do que ser superado pelo seu discípulo - eis a glória de um trabalho bem feito!
Em contraste com o verdadeiro mestre, o usurpador da verdade se assenhora dela para manipulá-la de forma que seja consolidado o seu status e primazia, pois esse "mentor" transformou a graça que conheceu num negócio manipulável para gerar lucro, e por isso ele manipula os efeitos nas liberdades para que sejam apenas relativas nos seus discípulos a fim de que sempre dependam dele. Eis um lobo impostor, um opressor, um obstáculo aos plenos efeitos na liberdade que a sabedoria verdadeira promovem. Provavelmente nenhum mentor profissional quer seus rebanhos verdadeiramente livres, ele os quer permanentemente dependentes dele. Mas os verdadeiros mestres, aqueles que foram agraciados com sabedoria e que entenderam o valor altíssimo da liberdade, esses não se assenhoram de ninguém porque desejam que todos sejam livres e sábios o suficiente para serem conduzidos pela verdade salvadora operando em suas próprias consciências livres.
"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim."
(João, 14: 6)