Uma das piores coisas que muitos fazem - a pretexto de
estarem servindo à fé cristã - é a doutrinação da alienação e da segregação -
um ensino recorrente derivado de uma interpretação mal-feita e muito ruim das
doutrinas do Corpo de Cristo e da santificação.
Para muitos líderes cristãos, equivocados nessa questão, os
crentes devem tratar como coisa de somenos muitas das questões da vida em
sociedade - como a política ou as ações sociais - e focar seus esforços nos
programas das igrejas porque assim estariam praticando a "verdadeira"
comunhão cristã, estariam servindo a Deus e crescendo em estatura espiritual.
Embora a vida comunitária cristã seja importante (e bíblica)
esse modo comunitário de viver nada tem a ver com segregação. Pelo contrário! A
igreja é um meio de adoração a Deus e de preparação dos crentes para a missão
cristã no mundo. A ideia de segregação é um gravíssimo erro, pois muito mais do
que simplesmente nos reunirmos para cantarmos, confraternizarmos e ouvirmos
palestras e sermões, a redenção alcançada por alto preço exige que os redimidos
assumam um papel desafiador como transformadores da sociedade.
A verdade de Cristo que salvou os crentes deve ser propagada
a fim de que toda a sociedade seja por essa verdade iluminada. Por isso Cristo
chama os seus discípulos de luz do mundo e de sal da terra. É misturando-se ao
mundo ao derredor que está a nossa verdadeira missão, não na segregação de uma
vida estritamente comunitária nas igrejas - e quão frágil e superficial tem
sido essa vida comunitária, cada vez mais dependente de programas e de
entretenimentos... e quão miserável seria a redenção se Cristo tivesse morrido
pelos eleitos apenas para congregá-los em programas religiosos...
Somente assumindo esse papel que vai além dos programas
religiosos é que a Graça de Deus (seja ela a comum ou a salvadora) alcançará as
diversas áreas da vida. Anunciar o Evangelho é muito mais do que simplesmente
praticar o proselitismo religioso (trazer pessoas para a - minha - igreja),
anunciar Cristo é propagar a redenção, suas obras, sua justiça, sua compaixão,
seu socorro aos que sofrem, seu amor e bondade, seu iminente juízo... uma
verdade poderosa para transformar todas as estruturas da vida, verdade essa que
pertence a Deus mas que foi confiada pelo próprio Cristo aos crentes, sua
igreja.
Somente assumindo esse papel exclusivamente cristão (uma
responsabilidade e um privilégio) é que poderá existir socorro piedoso aos que
sofrem, somente assim haverá possibilidade de justiça, somente assim haveria a
correta formulação dos valores necessários à vida de forma honrada, à
felicidade e à paz. Então, apesar de os cristãos representarem um grande
percentual da população (mundial ou brasileira) e ainda assim estarmos
caminhando de mal a pior, numa crescente desmoralização humana, segue-se que os
cristãos estão guardando o luzeiro recebido num caixote, estão vivendo em
demasiada indolência e têm negligenciado a sua missão. E grande parte da culpa
dessa omissão está (além da frouxidão da fé pessoal), justamente, na maléfica doutrina
da alienação e da segregação...