02/05/2023

Deus de pacto, de aliança.

 

Nós, cristãos reformados, cremos e ensinamos que o Senhor Deus é Deus pactual. 

Ele fez uma promessa de redenção, assim que aconteceu a queda de Adão e Eva no pecado, e estabeleceu o seu pacto com Abraão, o pai da fé, pacto que incluiu a sua descendência numa promessa de que nele seriam benditas todas as famílias da terra e que a sua descendência seria numerosa como as estrelas do céu. Ou seja, o pacto estabelecido por Deus de redimir e de formar um povo exclusivamente seu é uma ação divina que se expande no desenvolvimento da história até alcançar a todo povo almejado, escolhido pelo próprio Deus.

Esse pacto foi sendo revisitado ao longo do Antigo Testamento, conforme a história da redenção ia se consolidando até chegar na sua plenitude, que foi a vinda do Messias - a encarnação, a vida e a obra do Senhor Jesus Cristo (o Evangelho) - e muitos estudiosos preferem chamar essa progressão histórica de uma progressão de diferentes pactos, ou de diferentes dispensações. Mas nós, reformados, cremos e ensinamos que sempre houve apenas um pacto tipificado em acontecimentos bíblicos que são marcos no seu desenvolvimento histórico, mas que todos esses acontecimentos apontam para a obra do Senhor Jesus Cristo, especialmente os seus atos na cruz como oferta e sacrifício de si mesmo para comprar, com o seu sangue, um povo para a propriedade exclusiva e santa do Senhor Deus. A cruz é a efetivação do pacto realizado por Deus, é a concretização da aliança demonstrada em diversos eventos bíblicos que, como sombras, apontavam para o holocausto do Cordeiro de Deus para a expiação de pecados, salvação e formação do seu povo, do seu Reino.

Ao longo do Antigo Testamento esse pacto, ou aliança, era continuado na circuncisão dos meninos, um ato religioso que marcava que os descendentes do povo de Deus herdavam os direitos, os privilégios e os deveres da continuidade de ser povo de Deus ao longo da história e que repassariam esse privilégio aos seus descendentes. E como parte desses privilégios e deveres os pais deviam ensinar a Lei do Senhor aos seus filhos, inculcando neles (e não relativizando), seus primeiros e mais importantes discípulos, as verdades da fé, da Palavra de Deus.

A partir da manifestação do Senhor Jesus Cristo, o antigo modelo do pacto caducou. Agora as sombras deram lugar à iluminação plena, mudando também o modo de se praticar o símbolo desse pacto. Da circuncisão dos filhos hebreus agora se batizam os convertidos de todos os tipos de gente, de todas as etnias e povos, mas mantém-se a aliança familiar. Por isso crentes reformados batizam seus filhos, porque a aliança bíblica permanece a mesma.

Essa é a razão porque Paulo e Silas disseram ao carcereiro de Filipos a frase famosa "crê no Senhor Jesus e será salvo tu e a tua casa" (Atos 16). Os servos do Senhor Jesus não estavam fazendo uma promessa específica ao carcereiro, mas estavam invocando ali toda uma doutrina bíblica. Pais crentes são sacerdotes em suas casas, porque ao receberem a Graça do Senhor eles são pelo Senhor capacitados e ordenados a compartilhar essa mesma Graça com seus subordinados, e especialmente com seus filhos. Por isso é biblicamente correto afirmar que crentes em Jesus que são fiéis terão os seus filhos salvos, pois a aliança de Deus inclui toda a sua casa, porque a sua casa é uma extensão da igreja.

E, mantendo-se a aliança, são mantidos os deveres de se ensinar os filhos, conforme prescreve Deuteronômio 6, esse é um dever atribuído por Deus aos pais, um dever que não deve ser terceirizado, nem negligenciado. É promessa de Deus que filhos de crentes fiéis sejam, também, crentes participantes da aliança, do pacto - ainda que hajam desvios pontuais durante o percurso, tal como os descritos na parábola do filho pródigo. Contudo, mesmo perdidos ou equivocados, nenhum dos filhos dessa história pregada pelo Senhor Jesus deixou de ser filho e ambos se voltaram para o seu pai. Assim, filhos de crentes que apostatam - uma possibilidade - ou retornarão à fé no Senhor, caso o trabalho dos seus pais tenha sido fiel às Escrituras; ou, se eles apostaram por causa da negligência dos pais que agora estão a colher os frutos de um péssimo trabalho feito na educação dos filhos que o Senhor Deus lhes confiou, nesse caso fica difícil crer que haja alguma promessa de Deus para suas restaurações. Porque pais omissos e negligentes na tarefa de inculcar nos filhos a Palavra de Deus são quebradores da aliança, pois descumprem as responsabilidades exigidas por Deus e colhem o mal que semeiam. Porque a responsabilidade de se educar os filhos nos caminhos do Senhor é equiparável ao dever dos crentes de se pregar o Evangelho às outras pessoas. Ainda que Deus seja soberano na salvação, Ele nos concedeu o privilégio de sermos os seus cooperadores na pregação e no ensino da sua Palavra, que é a fonte da fé salvadora. Assim se nós não evangelizamos, não haverão novos convertidos ao Senhor; e se não fazemos o mesmo com os nossos filhos, ensinando-lhes a Palavra, eles não serão herdeiros na aliança. Parece estranho mas é completamente óbvio e bíblico que a continuidade na progressão da fé depende dos atos de obediência dos que a professam.

Outro desdobramento lógico da doutrina da aliança é o fato de que pais crentes de filhos que eventualmente possam ter limitações e deficiências mentais, ou que possam ter morrido em estágios da infância em que não puderam, ainda, expressar a sua própria fé, a estes está assegurada a salvação pelo Deus que faz aliança com famílias. Esses pais podem e devem descansar nas promessas do Senhor, porque a Ele também vão as criancinhas. A incapacidade de assimilação do ensino das Escrituras pelos métodos convencionais, humanos, não é restritivo à comunicação sempre milagrosa e transcendente da Graça de Deus. Porque onde somos limitados e no que é a nós impossível o poder da glória do Senhor se impõe.

** É dever dos pais cristãos o de ensinar e de discipular os seus próprios filhos e essa responsabilidade não deve ser terceirizada.

Link de vídeo sobre o erro dos ministérios infantil e de jovens nas igrejas.
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A doutrina da Aliança e o casamento.

Essa mesma doutrina, do pacto, é a verdade sobre a qual o casamento, entre um homem e a sua mulher, se fundamenta. O casamento é uma união que tipifica a união do Senhor com a sua igreja, a aliança do Redentor com o seu povo. Os casamentos têm a benção de Deus para o cumprimento dos seus mandatos. Nos crentes é um desdobramento das bençãos da Aliança, pois aí se constitui uma família onde as bençãos pactuadas em Abraão se fazem presentes; é um tipo que representa a união de Cristo com a sua igreja, portanto dificuldades serão subjugadas pelas bênçãos de Deus. O casamento é para sempre e é inquebrável, pois todo casamento é "até que a morte os separe". A possibilidade de quebra dessa aliança do casamento, o divórcio, é uma concessão apenas tolerada para os casos de adultério ou de abandono. Na doutrina cristã todos os pecados são tratáveis pelo caminho muitas vezes sacrificial, porém abençoado por Deus, do arrependimento, do perdão e da reconciliação; a não ser que se opte pela dureza do coração ao se escolher a manutenção do pecado em lugar da obediência à Palavra de Deus. Nesse caso o divórcio é uma concessão, um mal menor do que a continuidade do adultério, ou do abandono (que pode incluir a violência como expressão de abandono ou de subversão dos papéis conjugais) e embora o divórcio seja tolerado para que a parte fiel prossiga a sua vida liberada do mal praticado pelo seu ex cônjuge, isso não confere o direito a um novo casamento a nenhuma das partes. Não parece haver segurança bíblica para se admitir um novo casamento de alguém enquanto seu ex cônjuge ainda está vivo. Os que adotam essa prática se baseiam em interpretações e em convenções temerárias. Todo novo casamento realizado enquanto o ex ainda está vivo é adultério. Os divórcios são detestáveis por Deus, e são apenas tolerados em casos bastante específicos, e os recasamentos são inaceitáveis, a não ser que um dos cônjuges tenha falecido - aí sim, o que vive está livre para um novo casamento.

Ainda que haja discussão sobre a possibilidade de recasamento "da parte fiel", não pode existir essa possibilidade aos oficiais, pois conforme as determinações do Apóstolo Paulo aos oficiais da igreja, recasamentos são proibidos aos Pastores/ Presbíteros e aos Diáconos. Esses devem ter apenas 1 esposa, ou admite-se a sua castidade (pois Paulo e Timóteo exerciam seus ministérios não tendo esposas) - pois devem ser modelo (em tudo) para os fiéis. Portanto não é admitido o casamento com mais de 1 mulher a esses oficiais (nem ao mesmo tempo - poligamia, nem sucessivos recasamentos), sendo isso um dos motivos para que não sejam ordenados e desqualificados para o ministério.