11/07/2017

Artes no culto


A fraqueza de muitas igrejas e o seu distanciamento da ortodoxia cristã é visto, entre muitas outras coisas, também nas inovações e modismos adotados em seus cultos. As expressões artísticas humanas tem sido adotadas em variado grau por diversas igrejas (algumas mais outras menos) para agradar seus frequentadores garantindo-lhes um tipo de culto que lhes seja mais palatável. Danças litúrgicas, louvores empolgantes, adoração extravagante, shows da fé, teatros e encenações no culto, preletores especializados em técnicas de comunicação e de marketing, pinturas artísticas realizadas durante as pregações, cenários artísticos, multimídias no culto...

É fácil identificar e condenar exageros, como danças litúrgicas e reproduções profanas de arcas da aliança, querubins e levitas do Antigo Testamento - coisas completamente descabidas para as Igrejas. Mas o problema também acontece, em menor grau mas ainda assim com gravidade, em igrejas que se apresentam com uma roupagem cool e suas atividades são embaladas por acordes de guitarra, artistas de palco, intelectuais palestrantes, efeitos de luzes e sons, closes fotográficos, registros experimentais às vezes intimistas, outras desconstrutivistas e impessoais. Marketing, moda, movimento, técnica, plástico. Coisas que confundem, que fazem pensar que a missão está sendo cumprida, quando na verdade está sendo substituída por entretenimento ou por comércio.

A espiritualidade rendida à era industrial, pragmática, envolvente, hipnotizante. Um comércio terapêutico, um refúgio para quem quer desestressar das pressões diárias, o trago de algum alucinógeno entorpecente. A comunhão do cada um na sua, das relativizações, das experimentações guiadas pelas verdades que cada um escolhe pra si. A liberdade de ser o que quiser sob uma ideia de que se vive na segurança de um grande protetor emotivo que se satisfaz com canções que se confundem com mantras. Hipnose, histeria e irresponsabilidade. Mentiras.

Podemos nos enganar com as artificialidades que nos fazem sentir bem, mas o sentir-se bem não é parâmetro para a segurança, para a verdade, para a fé no Deus que nunca tolerará falsificações e que não divide a sua glória com ninguém. Para a verdade ser evidente, com suas curas, é necessário passar pelas confrontações e retirar as muitas confusões, distrações e mentiras com as quais aprendemos a conviver e que satisfazem o auto-engano das nossas ilusões.

A verdadeira missão cristã é a proclamação da verdade que exige arrependimentos. É o consequente apontamento para o Redentor para quem se percebe em trevas, perdido. É partilhar uma fé demonstrada na compaixão pelas pessoas. A verdadeira missão é necessariamente pessoal, sacrificial e multiplicadora e ela nunca precisará de holofotes ou de artificialidades para ser praticada.


Estudei arte, arte é o meu trabalho e entendo o seu valor - e por isso seria do meu interesse pessoal defender o uso de artes nos cultos cristãos, mas eu sei que na liturgia cristã não há espaço para qualquer beleza que mãos caídas possam produzir para reverenciar ou proclamar a beleza da santidade de Deus. Qualquer coisa que façamos será não apenas patético, como também ofensivo pois rivalizará com a sublimidade da Glória que é somente de Deus. Diante dEle todos devemos, prostrados, nos calar e devemos fazer uso somente dos atos simples e eficazes que foram pelo próprio Senhor ordenados.

Que retomemos o princípio de culto cristão formado por oração, pregação e louvor. Nossos cultos devem ser centralizados na exposição cristocêntrica das Escrituras por meio de pregações expositivas (que Deus fale e nós nos calemos), nossos louvores devem ser atos de adoração quebrantada e contemplativa (ao Deus que se revela pelo seu Filho, pela sua Palavra) e nossas orações precisam ser feitas em conformidade com a vontade revelada do Senhor (em submissão às Escrituras). Eis o culto, algo simples mas sublime que deve ser dirigido a Deus e não às pessoas!